A Esquerda da Esquerda
Possuo amigos que se dizem progressistas, ou seja, são de esquerda. Afirmam que políticos como José Serra e Fernando Henrique Cardoso se tornaram conservadores enquanto no poder e logo após, traindo suas origens socialistas. Grande bobagem. Uma das estratégias marxistas é criar a “direita da esquerda”, provocando rupturas demagógicas internas para tirar de cena qualquer possibilidade de surgimento de adversários políticos verdadeiramente fortes. E também criam a “esquerda da esquerda”, que definem como radicais: foi assim que o PT fez com o PSOL e o PCB, tornando-se hegemônico. E quem chama Serra e FHC de ideólogos de direita não lhes conhece a biografia ou, pior, sabe menos ainda conceituar o conservadorismo político. Ambos, José Serra e Fernando Henrique, foram marxistas desde a raiz, exilados e presos, cassados durante o regime militar. A diferença é que souberam governar para todos os brasileiros, suavizando seu discurso, como Lula também fez, conquistando com afagos a classe média. Só com votos de metalúrgicos e sindicalistas jamais teria vencido duas eleições presidenciais. Dilma não agiu assim e foi defenestrada.
Francis e Olavo
Quem lê e assiste Olavo de Carvalho geralmente ama ou odeia sua filosofia conservadora e pungente. Possui centenas de discípulos, milhares de seguidores, milhões de leitores. Poucos sabem, contudo, que o discurso de Carvalho nasce bem antes, de Paulo Francis – de quem segue os passos, ainda que inconscientemente. Francis e Olavo leram todos os filósofos da esquerda, foram comunistas e, com a maturidade, abandonaram os ideais marxistas e passaram a combatê-lo ferozmente do exterior. Mais precisamente, dos Estados Unidos, onde morou Francis por duas décadas e Olavo reside já há mais de dez anos. São, ou foram, movidos pela desilusão que sua participação na esquerda ideológica lhes causou. Por esse motivo combatem-na ferozmente na contemporaneidade. É uma espécie de fogo amigo devastador que pune com justiça àqueles políticos socialistas que manipulam as massas com belos ideais que não praticam quando estão no poder.
Lideranças
Sérgio Moro foi ofendido em um supermercado de Brasília, onde teimou ir como se ainda estivesse em Curitiba. Vacilou. É claro que fora do sul maravilha predomina o Lulismo – o que todos sabem, mas o superministro Sérgio Moro subestimou. Parece-me que foi ingênuo a ponto de acreditar sair incólume às ruas da Capital Federal para testar a adesão popular. O que a polarização da política gerou a partir de Lula jamais será reparado: a divisão do país em dois “Brasis” vai gerar hostilidades perenes, ininterruptas, em detrimento de recentes figuras da história política da nação. Só para ficar no Poder Judiciário, Sérgio Moro, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa terão enormes dificuldades para misturarem-se na multidão e passarem despercebidos, ou imunes às críticas e elogios públicos eloquentes e estabanados. Mesmo quando aposentados e distantes da vida pública, vão ter que se isolar em locais distantes das intrigas nacionais para gozar de um merecido repouso da vida pública ou para fugirem do foco de seus detratores – como se isso fosse possível.
Desacato
A discussão parlamentar sobre o Brexit inglês soa incompreensível a quem não é da terra dos Beatles. Contudo, aquela teatralidade britânica não impede que seus parlamentares sejam ofendidos publicamente. Recentemente, defronte ao parlamento e diante das câmeras da mídia, um manifestante imputou a uma deputada inglesa a condição de “nazista” porque esta defendia o isolacionismo das Ilhas Britânicas. Isso, para o Direito Penal brasileiro e inglês, é desacato. Quem ofende servidor público em razão de suas funções pratica crime, como o fez o cidadão que acidamente desdenhou do STF perante o Ministro Ricardo Lewandowski em um voo doméstico, ou aquelas pessoas que debocharam de Henrique Meirelles em Nova York. Ah! Nos Estados Unidos também é punível essa conduta. Uma coisa é a livre manifestação do pensamento, outra é o desdém, o menoscabo, a ofensa. Por trás da pessoa que ostenta o cargo há a seriedade da administração pública que é atingida por comentários que podem até parecer verdadeiros, mas são externados de maneira venenosa e grosseira.
O dito pelo não dito
“Seria mais fácil fazer como todo mundo faz, o milésimo gol sentado na mesa de um bar.”
(Humberto Gessinger, músico brasileiro).