Juízes brasileiros
A Associação dos Magistrados Brasileiros promoveu uma ampla pesquisa a respeito do perfil dos juízes do nosso país. Através do painel “Quem somos – A magistratura que queremos”, foi investigada a persona pública e privada dos membros do Poder Judiciário, as áreas de atuação de sua preferência, seus juristas preferidos, suas especialidades técnicas. Foi um panorama amplo que revelou nuances interessantíssimas dos homens imbuídos da nobre e delicada missão de julgar seus semelhantes. A pesquisa descobriu que nós, juízes, somos pragmáticos e cientificistas. Gostamos de objetividade, para o trabalho e a vida. Interessa-nos edificar a casa, e não conhecer a história da olaria que produziu o tijolo utilizado na construção, ou a riqueza arquitetônica das curvas do projeto da obra. Somos processualistas e não nos aprofundamos muito no Direito Material. Deveríamos estudar mais História e Filosofia, mas preferimos romances e poesia nos raros momentos de lazer. O estudo esclarece minuciosamente o perfil dos componentes da magistratura brasileira, vital para a sobrevivência da sociedade, mas assoberbada de trabalho, desgastada, exausta.
Boechat e o helicóptero
Com a morte do jornalista Ricardo Boechat amigos meus, que detestam voar, passaram a utilizar mais esse exemplo para demonstrar que a viagem aérea não é tão segura assim como se divulga. Eles têm alguma razão. Nos iludimos com a aparente segurança das aeronaves. É fato que caem menos do que colidem automóveis, mas as viagens aéreas também são bem menos frequentes que as rodoviárias. Confesso que não sinto prazer em voar e somente o faço por necessidade. Não me agradam turbulência, excesso de regras e proibições, ambiente pressurizado e, sobretudo, confiar minha vida a um piloto desconhecido. O que mais me assusta em acidentes aéreos é a nossa completa impassibilidade de passageiros diante da tragédia. Nada fazemos e nada podemos fazer se o avião cai, só rezar. O índice de sobreviventes de sinistros aéreos é irrisório: quase todo mundo que cai de avião morre na queda. De carro temos mais chances.
Estado falido
Ver Minas Gerais na penúria causa uma desolação monstruosa. Sou daqueles mineiros orgulhosos em sê-lo, cheio de brios de ter nascido na mesma terra de Juscelino, Drummond, Pelé, e mais tanta gente boa. Sou mineiro de quatro costados, como se dizia antigamente. Presenciar a miséria financeira de nosso estado, que era para ser o segundo mais rico do país, é uma lástima, algo inacreditável. Custa-me aceitar que o governo anterior, sozinho, tenha “quebrado” Minas. É muito estrago para parcos quatro anos, por mais turbulentos possam ter sido! Isso jamais ocorreria se nossa classe política respeitasse a Lei de Responsabilidade Fiscal, que parte de premissas cotidianas simples: não se gastar mais do que se arrecada, arcar com todos os gastos empenhados, manter limite prudencial de despesas. Enfim, agir no setor estatal como o fazemos com nossas finanças particulares. Penso que o grande culpado da quebradeira mineira e também da República é o serviço público inflado. Temos servidores demais! É preciso esvaziar a máquina administrativa, vender estatais e privatizar o que precisa ser privatizado. Imprescindível é manter somente os serviços essenciais ao bem estar social. Portugal, bem mais pobre que o Brasil, se vira bem mantendo “apenas” saúde, educação e segurança. O resto é com a iniciativa privada.
Container
Cerca de dez anos atrás foram descobertos presos mantidos cativos em contêineres no estado do Espírito Santo. Como as cadeias capixabas estavam superlotadas foram improvisadas novas “vagas”. Foi um escândalo. Caiu o secretário de Segurança, foi exonerado chefe de polícia, organizações de Direitos Humanos deram o berro. Preso não pode ficar em contêiner, tudo bem, mas atletas adolescentes podem? Jovens que jamais fizeram mal a uma mosca, que nutriam sonhos lindos de sucesso e eram a esperança de um futuro melhor para suas famílias atordoadas pela miséria foram tratados de maneira insalubre e precária, desrespeitosa. Foram alojados como escravos em senzalas com ar condicionado (que pegou fogo, aliás). Nem criminosos merecem semelhante descaso.
O dito pelo não dito.
“Conservadorismo significa fidelidade, constância, firmeza. Não é coisa para homens de geleia.” (Olavo de Carvalho, filósofo brasileiro).
RENATO ZUPO – Magistrado, Escritor