Bolsonaro, Trump e Tuítes
Nosso presidente tem uma capacidade incrível de ir do céu ao inferno em uma semana. Sua obsessão por assuntos banais em redes sociais, através de mensagens que beiram o escatológico, é de fato ridícula e soa como falta de serviço. Deveria parar com isso e deixar a comunicação institucional, incluindo a digital, por conta de assessores. Também deveria eleger uma temática mais relevante. Em um Brasil de chacinas, tragédias, crise e reforma da Previdência, preocupar-se com degenerados e despudorados exagerando no carnaval é um enorme desperdício de tempo. No entanto, é o mesmo Bolsonaro que visita o presidente dos EUA com pompa e circunstância que seus antecessores recentes, mesmo o trilíngue FHC, jamais tiveram. O prestígio brasileiro com Donald Trump nunca esteve tão em alta, o que deve refletir positivamente na balança comercial, na imagem do país no exterior e naquilo que se convencionou chamar “Goodwill” no mundo empresarial: o patrimônio intangível da imagem do produto e da instituição. Trump deverá se reeleger facilmente para a Casa Branca ano que vem e não vai se esquecer de Jair Bolsonaro.
Arrependimento
Há quem já se arrependa do voto das últimas eleições diante das tuitadas de Bolsonaro e comece a pensar em uma saída mais central, supostamente democratizante, lembrando-se de Ciro Gomes. Ele sempre é falado como alternativa política quando o presidente e seus familiares são questionados mais duramente. No entanto, Ciro só vai bem nas campanhas presidenciais até se estressar, quando enfim parte para o bombardeio furioso a seus adversários com bravatas e ofensas. Não tem têmpera para a política, e nela só se justifica seu relativo sucesso porque provém do nordeste paupérrimo comandado por Lula e pelo PT. É professor de Direito Constitucional, palestrante culto, mas joga tudo para o alto e vira um cabra arretado quando encurralado pelas pesquisas de intenção de voto. É um bom sujeito, mas contaminado pela tese marxista antiga, batida, que confunde divergência ideológica com defeito moral.
Cuidados com a nova língua
No texto acima, iria colocar que no nordeste se elegem até jegues, mas fiquei com medo de soar racista. A imagem me veio por conta de um amigo que viajou para uma praia baiana e ouviu de um taxista que por lá se votam até em jegues, se forem indicados por Lula. Nesses tempos chatíssimos em que tudo deve soar “politicamente correto” não dá mais para abusar da ironia, do sarcasmo ou de figuras de linguagem, porque você não será entendido e será mal interpretado. O humor não encontra viço onde não há inteligência, como dizia Manuel Bandeira.
Amigos imaginários
A filha de um amigo começou inesperadamente a chorar quando o pai lhe pediu para escolher entre um e outro presente de natal. O pranto convulsivo e somente explicável sob a ótica infantil foi logo justificado pela menina: Não quero escolher – ela disse- porque escolher é perder. O raciocínio é de uma profundidade atordoante. Sempre que escolhemos, perdemos aquilo que não escolhemos, o que descartamos. A sensibilidade das crianças detecta isso mais facilmente e a verdade é que muitos de nós adultos jamais pensamos no exercício da escolha como um processo de perda. Os filósofos dizem que isso é intuitivo no ser humano, é inato, tanto quanto o raciocínio metafísico, que busca características sobrenaturais nos eventos da vida. Crianças naturalmente creem que são o centro do universo e que tudo ao seu redor funciona em razão ou em proveito de seu pequenino ser. Desde logo buscam as causas primeiras das coisas e criam – por conta disso e de sua imaginação anabolizada – amigos imaginários com os quais povoam seus ricos diálogos interiores.
O dito pelo não dito
“Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar.” (Zygmunt Bauman – filósofo polonês).
RENATO ZUPO – Magistrado, Escritor.