O empresário Nilson Lopes, proprietário da empresa Central Park, concessionária da Zona Azul, usou a tribuna da Câmara Municipal de São Sebastião do Paraíso, segunda-feira (25/6), em atendimento à convocação dos vereadores, onde se dispôs a esclarecer dúvidas sobre os serviços realizados pela empresa no município.
O vereador Marcelo Morais pediu esclarecimentos sobre a organização da área azul e do fluxo de trabalho da empresa para que os pares pudessem confrontar com informações que têm chegando à Câmara, e tenham condições de responder ao cidadão questionamentos recebidos.
Lopes explicou que a empresa participou de um processo licitatório e que pagou pela concessão de 1100 vagas de estacionamento em São Sebastião do Paraíso. Ele disse que fez o depósito na conta da prefeitura logo após vencer o processo; o valor correspondente seria algo em torno de R$ 200 mil.
O vereador Jerônimo Aparecido da Silva afirmou que o valor teria sido depositado em um fundo da Segurança Pública e teria sumido, e que o prefeito da época teria criado uma série de dificuldades para que uma empresa passense do desejo dele ganhasse a licitação. "O Nilson enfrentou muitos problemas por conta disto, e meu papel naquele momento era tentar acertar esse processo", disse.
Conforme Nilson Lopes, com o final do mandato do ex-vereador, ele foi chamado por Walkinho para negociar a questão das vagas que "seria uma cobertura muito ampla".
A época, segundo o empresário, ele teria para que o contrato fosse rompido e que fosse devolvido o valor que ele havia pago, já que, naquele momento, não enxergava perspectiva de receita para a sua empresa. "Eu não sou político, não sou instituição filantrópica, não conhecia Paraíso e não tinha vínculo com qualquer político daqui, vim parar aqui por um ato vinculatório de um processo licitatório o qual foi dada ampla publicidade", disse.
Segundo Nilson, após finalizado o processo, a empresa investiu cerca de R$800 mil no município, cuidando da sinalização, placas e equipamentos para iniciar a operação. "De repente, as vagas foram cerceadas em mais de 50% e fiquei com o processo sem qualquer remuneração e receita. O Judiciário me dá direito de ir buscar ressarcimento e medidas cabíveis, mas achei por bem reformular e fazer acordo para diminuir essas vagas em respeito aos munícipes, a esta Casa e ao prefeito que estava acabando de assumir o seu mandato", esclareceu.
PREJUÍZO
De acordo com o empresário, a Central Park ficou apenas com o ônus e a receita arrecada não é suficiente nem para arcar com os compromissos legais de folha de pagamento. "No mês passado arrecadamos R$ 17 mil e estamos em torno de 12 funcionários. Se fizermos as contas não conseguimos sequer pagar a folha. Hoje, por exemplo, tivemos o pagamento de zona azul em torno de 800 carros e 400 que não pagaram e conseguimos identificar cada um deles. Acreditávamos na época que o trânsito seria municipalizado e que o agente público poderia fazer as multas e não ficaríamos dependentes da PM, que criava uma dificuldade de lavrar as multas da zona azul", apontou.
O déficit da empresa, entre receita e despesa, conforme explicou, ultrapassa R$ 1 milhão. "Fui levado por uma onda nesse processo. Com a municipalização, nos deparamos com situações complicadas de cidadãos que nos procuraram dizendo que não querem pagar valores antigos. Ou seja, vivemos numa sociedade onde queremos ter vantagem. Temos aquele que teve o compromisso de pagar a zona azul e àquele que não pagou. Eu não vou abrir mão desses valores devidos. Se ele não foi multado é problema do município", destacou.
MINISTÉRIO PÚBLICO
O empresário disse que deve levar o caso ao conhecimento do Ministério Público para ver o que pode ser resolvido. Destacou também que tem gravações de vereadores dizendo para que munícipes não pagassem o estacionamento. "Esse é o Brasil que queremos, onde um cidadão tem o dever civil de pagar por um estacionamento que usou e o outro que diz que não precisa porque não tem multa", questionou. "A partir do momento que eu me conscientizo, não furo nem fila de banco, porque esse é o Brasil que eu quero, não um Brasil onde eu propago o que é errado", criticou.
O empresário disse que se a Casa entender que a empresa deve abonar àqueles que não pagaram a zona azul, que faça uma correspondência para ser levada ao MP, que terá o seu entendimento.
Após críticas de vereadores à gestão municipal, Nilson Lopes disse que apenas estava cumprindo o edital de licitação e que acreditava que quem teria que pagar pelo serviço seriam àqueles que usaram o estacionamento rotativo. "O que acho errado é que se você não pagou, eu entrar na justiça e cobrar do município. E todos aqueles munícipes que já pagaram, terão que pagar novamente. Isso é injusto e o que eu vou cobrar é o valor daqueles que não pagaram o serviço", disse.
Sobre questionamento de número de agentes para realizar a cobrança dos cidadãos, Lopes foi veemente: "Só não paga aquele cidadão que não quer pagar; nossa sede fica no Centro, há os pontos de venda e estávamos dispostos a colocar um ponto fixo no centro. Eu sei que esse cidadão que não paga, tenho 100% de certeza que ele não tem o aplicativo do Zona Azul, mas tem do WhatsApp. No nosso país, o bolso se tornou um membro do nosso corpo, é mexer nele que dói mais do que arrancar um membro".
O empresário destacou ainda que as pessoas que estão com débito com a empresa, são condutores reincidentes, que estacionaram em mais de um lugar diferente e que não acha justo que a população como um todo pague por este condutor.
Lopes disse que apenas está cumprindo com o que está em contrato e que zona azul em Paraíso não funciona. "A zona azul não é só multa e cobrança, a zona azul é melhora no fluxo do trânsito no município, estímulo de uso do transporte coletivo e redução de poluentes na área central. 80% de pessoas usam a zona azul e não pagam".
Para por fim ao assunto que se estendeu por longo período, o presidente da Câmara, Lisandro Monteiro, propôs uma reunião envolvendo a Secretaria de Trânsito, a fim de esclarecer todas as dúvidas e buscar uma alternativa para solução do problema.
DUZENTOS MIL
Sobre o que foi dito pelo vereador Jerominho, dando conta que o montante depositado pela empresa Central Park, R$ 200 mil, relativo a outorga da área azul no município teria "sumido", o Jornal do Sudoeste entrou em contato com o ex-prefeito Rêmolo Aloise. Ao questionamento feito ele respondeu não ter conhecimento sobre esse fato, e que "é muito fácil, basta verificar o extrato da conta em que foi depositado".