O Discurso da Direita
Se as mentes conservadoras devem ser intituladas "de direita", o que se discute, é importante entender que seu discurso mudou desde, pelo menos, o novo milênio. Como diria Luiz Felipe Pondé, o que põe na berlinda os progressistas, a "esquerda", é que seus opositores leem os mesmos livros e admitem os mesmos problemas, mas defendem soluções diametralmente opostas para as crises que vivenciamos. Os conservadores fazem indagações irrespondíveis pelos socialistas que mandavam no Brasil desde o final do regime militar. E que estão sendo destronados pouco a pouco. Por exemplo, pergunta-se, como uma mesma sociedade pode combater a pedofilia (protegendo crianças) e defender o aborto (matando fetos)? Como é possível o stabilishment querer banir fumantes de tabaco do meio social e, ao mesmo tempo, legalizar a maconha? Como sustentar, ao mesmo tempo, o Estado laico e a liberdade religiosa, quando o funcionamento desse Estado conflita com todos os dogmas e regras morais das religiões judaico-cristãs? A solução à direita e conservadora pode não ser a correta, mas já se sabe que o socialismo e os ideais revolucionários da esquerda fracassaram ao longo da história e não explicam e nem solucionam estas e outras encruzilhadas ideológicas do funcionamento da sociedade.
Ruptura
Jair Bolsonaro tem coragem suficiente para não fugir de sua plataforma de campanha - seja ou não correto o que o motiva. Disse que iria valorizar o serviço militar, a hierarquia da caserna e as forças armadas, e eis que impõe a comemoração do dia da Revolução de 31 de março, o marco zero do regime militar no Brasil. Acho que a data é histórica, deve ser lembrada, não necessariamente comemorada. Fora a mentirada que nossos deformadores de opinião contam, a intrusão dos generais no poder era para durar pouco e continha amplo apoio popular. O governo deposto de João Goulart era uma bagunça e se aproximava perigosamente de uma ruptura com a democracia. O remédio adotado - a imposição das forças armadas como gestoras da nação, impedindo eleições diretas e instaurando a censura - foi amargo, mas seria efêmero. Deu errado: perdemos morto subitamente o bom velhinho e presidente General Castelo Branco, outro General mais ranzinza tomou o poder, instaurou o AI - 5 em 1968 e, aí sim, vivemos dias menos felizes. Deixar de contemplar em nosso calendário data tão marcante seria tão estúpido quanto a destruição da estátua de Lenin pelos ex-soviéticos com a queda do muro de Berlim. Não se apagam acontecimentos e vultos históricos por conta de conveniências políticas ou mudanças ideológicas.
Eleições apertadas
A eleição nacional mais apertada da História foi a de John Kennedy, em 1960, para a presidência dos Estados Unidos. Ganhou pelos democratas contra o candidato republicano Richard Nixon, que só alcançaria a Casa Branca oito anos depois e sofreria impeachment, o que o obrigou a renunciar diante do escândalo Watergate. Descobriram que "grampeava" ilegalmente telefones de repórteres do jornal Washington Post. Bom, mas Nixon havia perdido antes para Kennedy por apenas - vejam bem - meio por cento dos votos válidos. Vejam bem! Meio por cento. 0,5%. Isso mesmo. É claro que a representatividade democrática dos EUA é muito doida e indireta. Mesmo assim, e quase em todos os casos, os delegados dos partidos que votam espelham de fato a vontade dos eleitores das frações populacionais que representam. Tão irrisória vantagem teria tudo para gerar um governo Kennedy trôpego e claudicante, refém de um poderosíssimo Senado que não lhe era em absoluto simpático. No entanto, ele se cercou dos melhores cérebros de sua época, independente de ideologia. Safava-se bem de crises como a da Baía dos Porcos (a União Soviética queria instalar mísseis comunistas em Cuba e Kennedy não deixou) e do Vietnam (a Guerra que duraria uma década estava em vias de ser encerrada por Kennedy, que atuava diplomaticamente para impedir o morticínio). Seria um governo vitorioso e exemplar se um psicopata não tivesse matado Kennedy em um atentado terrorista em 1963. Moral da história: é possível ser um bom presidente (ou governador) sem apoio parlamentar retumbante. Para que o governante honre os votos que o elegeram, ainda que ganhos em uma eleição apertada, não há necessidade de se tornar refém do Poder Legislativo.