No 1.º Encontro de Mulheres Cafeicultoras a engenheira agrônoma Lívia Colombaroli de Souza falou sobre conceito de sustentabilidade em cafeicultura, que relaciona aspectos econômicos, sociais e ambientais, onde se busca suprir necessidades do presente sem afetar gerações futuras.
Conforme salientou, nos últimos tempos tem acontecido uma busca constante por produtos com maior conscientização do produtor, “uma produção mais consciente, sustentável, produtos que não afetem ao meio ambiente, as pessoas”.
“Os programas de sustentabilidade e certificação garantem esses produtos. O maior beneficiário é mesmo o produtor a curto, médio e longo prazo. As certificações são parceiros que nos ensinam ser melhores a cada dia em um processo de melhoria contínuo. São várias as opções de certificação, e cada propriedade deve escolher a que me melhor lhe adeque”, aconselha.
A sustentabilidade, conforme enfatizou a engenheira agrônoma, inicia-se no plantio, com a escolha de mudas com origem, de viveiros registrados, escolha de cultivares com boa produtividade que se adequem bem a área, além do necessário acompanhamento técnico, lembrando que erros na fase de plantio vão se refletir nas seguintes. Uma boa condução nos primeiros anos em que a lavoura é nova.
Lívia diz ser importante uma adubação bem equilibrada, já que não se pode exagerar em nada, e nem é viável economicamente. É preciso lembrar sempre que o nutriente limita a entrada de outro, então é necessário ter equilíbrio na adubação, escolher sempre adubos e corretivos registrados no Ministério da Agricultura, utilizar fontes orgânicas, tudo isso é importante.
Sobre o manejo e conservação do solo no plantio e conservação de lavouras, ela lembra ser importante a construção de caixas secas, proteger estradas da propriedade de erosão, e ao proteger de erosão estará sendo evitado também a propagação de doenças do solo.
Outro fator relevante é serem identificadas áreas degradadas para que sejam recuperadas. Sobre o manejo de matos, Lívia sugere serem deixados nas entrelinhas do café e a linha limpa. “Com isso forma-se matéria orgânica, é feito melhor controle da temperatura do solo, mantém-se a habitagem de insetos, reduz-se perdas e, muitas vezes esse próprio mato no meio da lavoura é usado como quebra vento. Geralmente o mato na entrelinha é roçado e herbicidas quando da arruação que pode ser mecânica, retirada de folhas ou não, depois vem a adubação química”.
Ainda com vistas à sustentabilidade é preciso se ter atenção no monitoramento de pragas e doenças com anotações e registros de tudo, monitorar questões climáticas que interferem ou não na presença de patógenos ou pragas, disse Lívia.
Sobre a aplicação de agroquímicos, os produtos devem ser adquiridos com nota fiscal e receituário agronômico. “Importante se observar dose e época de aplicação, treinamento do aplicador, controlar período de carência e reentrada nas lavouras, uso correto de EPI, manutenção e limpeza dos aplicadores, lavagem diária em local adequado. Priorizar produtos de menor toxidade, e ter boa aferição de máquinas para atingir bem o alvo”, recomenda Lívia Colombarolli.
Na colheita aconselha-se colher com o menor percentual possível de frutos verdes, separar cafés de árvore dos de varrição, manter limpos recipientes que vão receber os cafés. “Estamos falando de alimento”, observa.
Quanto ao processo de secagem deve ser mantido teor de umidade em 11%, não misturar lotes sem conhecer a qualidade, e estar atento à rastreabilidade em todo o processo desde quando vem da lavoura com anotação de tudo o que foi feito , passando pela colheita e continuando no pós-colheita. Lívia salienta que o produtor deverá usar todas as boas práticas de colheitas para não perder a qualidade do café no terreiro.
Aos produtores que fazem uso de irrigação é aconselhável o aproveitamento de águas de chuva, utilizar água de acordo com autorização e outorga, destacando que a irrigação deve ter um bom projeto de uso racional e técnico da água que deve ser analisada, ter todo o cuidado necessário, conforme as leis.
Na gestão social da propriedade em termos administrativos devem ser feitos registros de tudo. De funcionários, de treinamentos oferecidos a eles, ter croqui da propriedade demonstrando o uso e ocupação do solo, com talhões identificados, produtividade por talhão, registro de produção, de lotes de café. Amostras de café de cada lote devem ser mantidas na propriedade, ter rastreabilidade de todo o processo produtivo.
Lívia chama a atenção para que o produtor faça o registro de assistência técnica com todas as recomendações, visitas assinadas, documentadas, datadas, manter as planilhas de manejo de pragas e doenças, análises de solo e folhas, custo de produção, quanto mais detalhado melhor, e o ideal é que seja por talhão.
Na parte ambiental, é importante dar destino correto para resíduos e lixos gerados na propriedade, principalmente as embalagens de defensivos que devem ser devolvidas no prazo. O produto tem um ano para devolver as embalagens, de forma adequada.
Nas áreas de preservação proibir caça e pesca, dar destinação correta a esgoto, dar preferência as energias renováveis, manter ações de proteção contra incêndio.
No tocante à parte social, crianças em idade escolar devem ir para escola, o produtor conceder liberdade de associação negociação de contratos de trabalho, levar em conta a segurança no trabalho, exames médicos. O transporte de trabalhadores deve ser seguro, disponibilizar água potável, quando oferecer moradia aos seus colaboradores, elas devem ser adequadas, contendo instalações sanitárias, e estrutura de acordo com a lei.
Lívia Colombaroli lembra que não fazemos nada sozinhos. Deve se ter amor no que se faz, e quanto maior envolvimento familiar de funcionários tiver, mais apoio teremos, e melhor será o processo, para produzirmos produto de qualidade, e com responsabilidade.