O manifesto realizado em Cabo Verde segunda (12/8), "Movimento Regional Para Salvar a Cafeicultura, conforme definiu o produtor Júnior Vilela "é um pedido de socorro, não é um protesto contra esse novo governo". Disse que sua família há mais de um século está no negócio café, sendo apaixonados pelo que fazem.
Vilela comentou sobre o cenário macroeconômico, o custo Brasil, salientando que, "além do dever de casa, com muito esforço cafeicultores melhoraram a gestão a produtividade e a qualidade dos cafés, com esforço e maestria", mas "infelizmente estão sendo vítimas de nosso sucesso, produzindo mais, e tendo que vender por menos".
Chegou um ponto que não dá mais, ao lembrar que "as grandes propriedades estão acabando, isto é ruim para as famílias e também para trabalhadores" . Este movimento precisa ser aprofundado e sair das propriedades e ir para mesas de estudo para mudar este cenário, afirmou Júnior Vilela.
Para prefeito de Itamogi, Ronaldo Pereira Dias que também é cafeicultor a manifestação em Cabo Verde foi muito importante para a cafeicultura e para gestores municipais. "A economia de Itamogi gira em torno do café, e infelizmente o sufoco está aumentando cada vez mais. O comércio hoje sofre reflexo das perdas que atingem os produtores. Precisamos que esta informação chegue à ministra da Agricultura, ao presidente Bolsonaro. Não apenas a agricultura está sacrificada, é uma corrente. No dia a dia recebo na prefeitura muitas pessoas, e tenho constatado que, com o desemprego cada vez maior tem faltado dinheiro para que paguem água, luz, aluguel, não tem de onde sair".
TRABALHADORES
Reginaldo Roberto da Silva é presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Cabo Verde. Ele se diz preocupado com a atual conjuntura da cafeicultura motivado pelos baixos preços . "A situação está difícil para produtores, e automaticamente para nós trabalhadores rurais e assalariados. A gente acredita que esse movimento irá chamar a atenção de autoridades, para que reavaliem e procurem novas perspectivas para o mercado do café".
Reginaldo pondera que "se cai a renda do produtor, também cai a do trabalhador rural. Em comparação com anos anteriores conforme levantamento que temos feito, o número de pessoas que vinham para a colheita chegava a quase oito mil e, nesse ano não passou de mil. A crise chegou mesmo e o desemprego acarretou muito mais forte, o que nos deixa preocupado, não somente pela economia local, mas pelos migrantes que vinham de outras regiões do Estado e até mesmo do país".
Se diminuiu o número de apanhadores na atual safra, conforme enfatiza Reginaldo, a média de salários recebidos por trabalhadores também caiu drasticamente. Em outras colheitas havia trabalhador que recebia entre R$ 200 a R$ 250 por dia, enquanto em 2019 ficou entre R$ 80 a R$ 100, informa o sindicalista.
Pegando-se pela forma padrão, para se produzir uma saca de café o produtor terá um custo em torno de R$ 390, a R$ 400, o valor de comercialização deveria estar no mínimo em R$ 600, para que o produtor possa tomar fôlego e trabalhadores também terem renda, conclui Reginaldo. O presidente do Sindicato dos Produtores de Cabo Verde, Jerônimo Giacchetta, foi um dos que discursaram na praça central de Cabo Verde para um grande número de cafeicultores, representantes classistas ligados à cafeicultura, presidentes de cooperativas. O evento contou com a participação de expressivo número de prefeitos e vereadores.
Giacchetta que diretor da FIEMG, falou sobre a atuação do sindicato que preside, e destacou a necessária prorrogação de prazos em financiamentos de produtores junto à entidades financeiras. Com conhecimento de causa afirmou que o alongamento das dívidas seria possível, pois é preconizado contratualmente, no caso, justificado pelos baixos preços de mercado que têm sido praticados.
Alguns produtores se manifestaram no evento, assegurando que seus custos de produção estão acima de R$ 410, acima do preço de comercialização nos últimos dias. Ainda falando sobre custos, no evento foi ventilado que estudos do setor especializado da Universidade Federal de Lavras - UFLA -, apontam que o custo de produção de uma saca de café arábica supera a casa dos quinhentos reais.
O deputado Antonio Carlos Arantes, primeiro presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais não pôde comparecer ao evento, mas posicionou-se solidário ao Movimento, como parlamentar e produtor de café. Disse ser sabedor das dificuldades enfrentadas pelo setor. Defendeu a necessidade da classe produtora estar unida com países produtores e que tome as rédeas dos negócios, "pelo valor do nosso preço de mercado".