POLEPOSITION

Um papo com o "guerreiro" da velocidade

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 02-02-2020 09:40 | 2390
Depois do bate-papo descontraído, a tietagem com Roberto Pupo Moreno
Depois do bate-papo descontraído, a tietagem com Roberto Pupo Moreno Foto: Sergio Magalhães

A coluna POLE POSITION bateu um papo agradável com Roberto Pupo Moreno, em Interlagos. Quem acompanhou a F1 nos anos 80 e 90, deve se lembrar do notável piloto brasileiro que completará 61 anos na próxima semana.

Dotado de enorme conhecimento técnico, foi contratado pela Ferrari para desenvolver o câmbio semi-automático que substituiu as alavancas de marchas a partir de 1989. Como titular, na primeira oportunidade de correr por uma equipe competitiva, Moreno terminou em 2º lugar no GP do Japão de 1990, com a Benetton, numa corrida memorável para os brasileiros, vencida por Nelson Piquet. Foi a última dobradinha do Brasil na F1. Naquela mesma corrida, Ayrton Senna bateu em Alain Prost na largada e sagrou-se bicampeão mundial.

Moreno esteve em 76 GPs, mas largou apenas em 34 por conta de equipes pouco competitivas. Talvez uma de suas maiores façanhas foi classificar o horrível carro da Andrea Moda para o GP de Mônaco de 92, única vez que a equipe conseguiu disputar um GP. Moreno disputou um GP com a Lotus em 1982, e passou pela Coloni, AGS, EuroBrun, Benetton, Minardi, Jordan e Forti Corse. Depois se mudou para a F-Indy onde foi chamado de "Operário da Velocidade", pelo narrador Téo José, mas que o próprio Moreno me confessou preferir que o chamem de "Guerreiro" da velocidade!

A chance na Benetton surgiu às vésperas do GP do Japão para substituir o italiano Alessandro Nannini que havia sofrido um acidente de helicóptero e teve um braço decepado. Moreno saiu das oficinas de Brasília na mesma época de Nelson Piquet, não por acaso são amigos de infância. Mas no ano seguinte o "Baixo" como era conhecido, tomou uma rasteira desonesta da Benetton para colocar um tal "Michael Schumacher" em seu lugar, então desconhecido no meio da F1. O resto é história, mas que causou enorme desconforto em Moreno pela forma como foi dispensado.

Nesta nossa conversa exclusiva em Interlagos na semana do GP do Brasil, eu pedi ao Moreno que fizesse um paralelo entre sua época e os dias atuais na F1; O que era do piloto e o que era do carro em termos de pilotagem? "O piloto ainda é muito importante. O que acontece é que desde que o Schumacher trouxe para a F1 um nível técnico e físico muito superior ao antigo, os pilotos tiveram que evoluir muito e isso exigiu que eles chegassem muito mais bem preparados do que na minha época. Você pode observar, hoje, que um piloto muito jovem entra pela primeira vez num carro de F1 e já sai acelerando bem porque eles já chegam muito mais bem preparados técnica e fisicamente. Eles se preparam no mais alto nível a partir das categorias de base. Isso é um fato. Como eles são mais bem preparados, torna-se mais fácil se adaptar a qualquer mudanças. Na minha época, o piloto dava algumas voltas, retornava aos boxes e dizia para o engenheiro o que era preciso fazer para melhorar o carro. Hoje é o engenheiro quem diz ao piloto o que é preciso fazer. Esta é a grande diferença do meu tempo para os dias atuais".

Eu lembrei o Moreno de uma entrevista que certa vez ele deu ao saudoso amigo, Cândido Garcia, da Rádio Bandeirantes, e quando indagado de como se sentia sendo um piloto de talento, mas sem sorte, ele respondeu que se sentia um cara de muita sorte por ter corrido de F1 sem ter dinheiro. Perguntei se na atual situação é possível alguém correr sem dinheiro na categoria? "Mudou muita coisa, hoje custa muito dinheiro para se preparar um piloto, mas as dificuldades da minha época são mais ou menos iguais. Embora precise de mais dinheiro e oportunidades, o piloto que se sobressai consegue atingir seus objetivos. Temos o caso do (Max) Verstappen que conseguiu com que a Red Bull o levasse para a F1. É um piloto sem dinheiro que conseguiu chegar lá e está bombando. O Hamilton é outro exemplo, que a McLaren o adotou ainda no kart e investiu nele até chegar à F1. Ainda existem oportunidades para pilotos sem dinheiro, só que foi criado uma necessidade incrível de ter que colocar muito dinheiro para correr. Se você fizer um orçamento para correr da F4 que é a primeira categoria de base, hoje, até a última abaixo da F1, será preciso 10 milhões de euros para preparar um piloto. Então, as oportunidades ainda existem, só que de formas diferentes", disse.