Luiz Carlos Pais
Esta crônica registra traços históricos da Vila de São Carlos de Jacuí, um dos berços geográficos do Sudoeste Mineiro, juntamente com o povoado de Desemboque e com a vila de Piumhi. O arraial de Jacuí foi fundado em meados do século XVIII, no contexto da decadência do ciclo do ouro, na região central de Minas, por exploradores que vieram em busca de novas jazidas do precioso metal. Na mesma época, a região foi disputada por sertanistas enviados pelo governador da capitania de São Paulo, sendo essa a origem distante de certos rumores separatistas de alguns municípios da região. Foi nesse quadro que o distrito de Jacuí foi elevado à categoria de vila, por alvará real, assinado em 19 de julho de 1814, conforme publicado no jornal O Patriota, do Rio de Janeiro.
O recorte focalizado a seguir diz respeito a eventos ocorridos em 1823, ou seja, apenas dois anos após a fundação da capela que deu origem ao arraial de São Sebastião do Paraíso. Um ano e pouco depois da Independência, em 7 de setembro de 1822, o Imperador Pedro I estava enfrentando forte oposição por uma parte do exército real que pretendia manter-se fiel à coroa portuguesa. Ao invés de acreditarem na consolidação da nação nascente, havia funcionários e militares portugueses que não pretendiam acatar as ordens do novo governo imperial. Desse modo, uma das medidas tomadas pelo Imperador foi organizar novas forças militares, formadas por cidadãos nascidos do Brasil, que pudessem empunhar armas e garantir a consolidação do novo Reino.
Foi nesse contexto que o então ministro da guerra João Vieira de Carvalho divulgou nota que sua majestade o Imperador estava ciente do assunto tratado no ofício número 186, subscrito pelo governo provisório da Província de Minas Gerais. Tratava-se de assunto urgente, visando à preparação das tropas para a defesa do Império instaurado há menos de um ano. O governo mineiro havia comunicado o ministro da guerra, avisando que os recrutas convocados no termo da vila de São Carlos do Jacuí já estavam a caminho da corte.
Como se tratava de um grupo de infantes, os soldados deveriam percorrer a Estrada Real, passando pela cidade de Parati, terra natal da grande família Campos do Amaral, de onde tomavam o rumo da corte, cidade do Rio de Janeiro. Entretanto, como consta no documento analisado, dois recrutas jacuienses tinham empreendido fuga, não sendo possível localizá-los nos vastos sertões da região. Assim foram considerados desertores da convocação para constituir o exército do Império. Essa memória está preservada nas páginas do Diário do Governo, impresso no Rio de Janeiro, em 4 de Novembro de 1823.