por Gilson Souza
O mercado de café vem alterando-se por vários fatores. Em início, a primeira evolução na mudança de preço foi em consequência ao Covid 19. Fez com que as bolsas viessem ter uma volatilidade muito alta, e os ativos financeiros se realizassem e as commodities sofressem alterações.
O café, uma das commodities mais negociadas no mundo, consequentemente sofreu com isso, só que de forma positiva, porque a oferta e demanda mundial de café está em equilíbrio. Não há excedente tão alto, e também perspectiva de déficit ou que fique próximo a zero.
As commodities que estão nesta situação tiveram volatilidade e mudanças de preços, tanto a vista, quanto futuro. Aquela que a priori no futuro estima-se um déficit, consequentemente os preços no futuro também vieram a subir.
Outra análise que se faz, e que acaba afetando todos os produtos, e afeta de forma geral, é a moeda. Em se tratando de moeda, de dólar, tivemos volatilidade acentuada. Como consequência tivemos alta no preço do café, e a maior desvalorização do real perante o dólar, saindo de patamares de R$ 4,10 - R$ 4,20 chegando a R$ 5,85. O mercado de câmbio de dólar no mundo virou trezentos e sessenta graus, e isso elevou os preços de café, em reais, algo em torno de vinte a trinta por cento.
Em se tratando de mercado futuro e a vista, os preços saem de R$ 470, - R$ 480, sendo negociados a R$ 600, a vista, café tipo 6 bebida dura, safra 2019. Para safras futuras, ou seja, a que a colheita está sendo iniciada, chega a R$ 620, enquanto a safra de 2021 a R$ 630, em alguns momentos próximo a R$ 650.
Os fatores que podem impulsionar o mercado interno são incertezas políticas, que também o deixam inseguro e nervoso. Recentemente houve nova mudança na taxa selic, que foi estabelecida a 3% ao ano, decisão pelo Copom em reduzir, isso levou o mercado de câmbio a uma situação bem mais incômoda, e também algumas decisões paliativas do governo de redução de Suaps, redução de algumas operações financeiras para tentar conter o mercado.
Inicialmente têm-se "um efeito boiada", que é um desespero, câmbio subindo muito e tendências indicam que pode ir a R$ 6,00 e o deixa mais flutuante ainda.
Há uma situação negativa nisso? Para a exportação, para quem vende, é um bom negócio, porque se recebe em reais, havendo colaboração melhor, e isso vai refletir principalmente no preço do café a vista.
A princípio percebe-se que produtores estão preparados, organizados para iniciarem a colheita. Ao longo do tempo a tecnologia foi melhorando e avançando cada vez mais, e fez com que boa parte de colheita de arábica seja feita mecanicamente. Regiões que prejudicam mais são as acidentadas, sendo necessário a apanha manual, como nas Matas de Minas e as Montanhosas, próximas de nossa região.
Tudo leva a crer que correrá tudo dentro da normalidade. Existe certa apreensão quanto às contratações de mão de obra pelos produtores, tendo em vista a pandemia do coronavírus. Mas com o tempo eles irão se informando, se organizando para que também não torne um risco para o ser humano.
A colheita está sendo iniciada, tende ser de arábica melhor, talvez recorde. Em regiões mais baixas, ou seja, onde a florada abriu mais cedo, meados de agosto, produtores já iniciaram a colheita também de forma bem tímida, e a tendência é para a virada de maio que a colheita se estenda para quase toda totalidade de região produtora dessa cultivar no Brasil.
A de conilon se iniciou há uns quarenta dias. Até o momento corre tudo bem, não há decepção em relação a rendimento, de qualidade, o clima vem favorecendo. O que pode, e deve acontecer é alguma coisa em relação à mão de obra, porém nada que venha a atrapalhar o ciclo. Para quem produz conilon está vivenciando condições normais.
Sobre exportações do Brasil, a situação é estável. Em abril tivemos pequena queda em relação a abril do ano passado, isso tende acontecer porque os estoques da safra remanescente caíram assustadoramente, não há café da safra 2019 em estoque. Trades e dealers estão aguardando a safra do Brasil 2020.
A exportação brasileira de café está em fluxo de queda e em breve voltará ao normal e talvez supere a média do passado, comparando-se período de safra a safra.
Outra situação que estamos analisando é sobre tendência, de vez que muitos querem saber, o que daqui para frente isso poderá refletir. Recentemente tivemos informações de órgãos nacionais e internacionais sobre o comportamento do consumidor, dado a nova situação quanto ao Covid, no mundo. Há quem diga que poderá haver pequena queda do consumo de café, mas há que diga que não, admitindo que o consumo em casa pode melhorar, e até ficar em situação ascendente.
A Organização Internacional do Café (OIC) estima um superávit global na produção de arábica e conilon, comparada à demanda. Estamos falando do exercício 2019 - 2020, e os números 2020 - 2021 ainda não foram apresentados.
Com certeza, a maioria do mercado espera que vai ficar no que chamamos zero a zero. Se isso acontecer, o mercado de café a tendência é não ter quedas acentuadas. É bom que o produtor se mantenha orientado. O que pode mudar é o câmbio. Se voltarmos a uma posição de equilíbrio, estabilidade, e a moeda se tornar forte, poderemos ter preços em absoluto caindo, em dólar manter-se, mas a tendência para o produtor de café é de uma forma confortável de preço. Não vejo mercado caindo, derretendo, a não ser que tenha um fator que a gente hoje não consegue mensurar.
Uma situação que começa a incomodar o mundo é o clima no Brasil, que é fator determinante porque estamos falando também de uma safra futura que está em curso.
Acabando a colheita virá a florada 2021 que já se formou, dependendo, portanto de chuva na hora certa e condições normais. O mercado também está de olho nesse momento, se a seca se estenderá por período mais longo, e se entradas de frentes frias vão incomodar em algumas regiões onde há maior risco de geadas.
Nesse momento, há uma gama de situações fundamentais que vão fazer com que os preços fiquem mais voláteis ainda, porém, tendência de baixa é pouco provável venha acontecer, ou até mesmo chegar aos preços de quarenta e cinco dias atrás, de R$ 440 - R$ 450.