O engenheiro agrônomo César Elias Botelho, pesquisador, chefe regional da EPAMIG Sul, no 15.º Encontro Regional do Café de São Sebastião do Paraíso, neste ano em versão virtual, fez a apresentação de duas cultivares recentemente lançadas por aquela Empresa de Pesquisa, a MGS Aranã e MGS Paraíso 2.
César Elias falou sobre produtividade de café no país, ressaltando que a EPAMIG vem trabalhando com o melhoramento do café desde a década de 1970 e nesse período já são 17 cultivares. Teceu comparativos, salientando que na década de 1960 foram colhidas 44 milhões de sacas de café no país, um recorde que chegou causar desequilíbrio de mercado. Salientou que a produtividade era menos de 10 sacas por hectare. Observou que “predominavam cultivares antigos utilizando espaçamento (stands) muito baixos, em torno de 800 plantas por hectare. A partir da década de 1970 com o Plano de Renovação da Cafeicultura Nacional, coordenado pelo Instituto Brasileiro do Café (IBC), começou a melhoria do parque cafeeiro, com a utilização de cultivares Catuaí e Mundo Novo, lançadas pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC)”.
Prosseguindo, enfatizou que houve melhora no stand, que foi duplicado passando para 1.600 plantas por hectare, além de outras melhorias de manejo, como correção de solo e adubação. A partir da década de 1990 houve incremento na utilização de cultivares e maior avanço no stand, que passou a ser em torno de 4 mil plantas por hectare, utilização de podas e técnicas de irrigação.
Chegando ao ano de 2018 com a somatória novas cultivares e de técnicas que foram aperfeiçoadas (manejo, poda, irrigação) e muitos produtores utilizando stand já atingindo 5 mil plantas por hectare, chegou-se a uma produtividade de 32 sacas por hectare no café arábica.
Sobre as cultivares MGS Paraíso 2, e MGS Aranã, recentemente lançadas pela EPAMIG, César Elias Botelho destacou que elas vêm apresentando excelente potencial além de outras características como qualidade da bebida e resistência à ferrugem.
A MGS Paraíso 2 é uma hibridação artificial entre o Catuaí Amarelo IAC 30 e Híbrido Timor UFV 445-46 cultivar com fonte de resistência. O cruzamento foi feito em 1980 na Universidade Federal de Viçosa, juntamente com a EPAMIG. Todo o processo de melhoramento condução de população segregante foi conduzido no Campo Experimental de São Sebastião do Paraíso, e a seleção final na região do Cerrado, no Campo Experimental de Patrocínio e produtores parceiros no município de Monte Carmelo.
Como características a MGS Paraíso 2 apresenta porte baixo, altura média de 1,99 a 2 metros aos 72 meses, destaca-se pelos frutos graúdos, boa peneira, coloração amarela, vem apresentando alta capacidade produtiva, resistente à ferrugem (não é considerada imune), maturação dos frutos semiprecoce, o que enseja ao produtor iniciar a colheita mais cedo, e explorar a maior quantidade de frutos cereja. Vem apresentando excelente qualidade de bebida com pontuações altíssimas, qualidade pela qual vem se destacando.
Referida cultivar apresenta boa resposta podas e à colheita mecanizada, características muito importantes na cafeicultura atual.
Destacou, ainda, que a MGS Paraíso 2 é recomendada para as regiões do Cerrado e Sul de Minas, podendo também cafeicultores ser bem sucedidos com o plantio dessa cultivar na Região das Matas e Chapada de Minas. Indicado para escalonamento de colheitas seletivas, sendo opção para cafés especiais.
Tanto no Sul de Minas como no Cerrado (região de Araxá), chegou-se a 52,66 sacos média de três safras. No Campo Experimental da EPAMIG em São Sebastião do Paraíso foram 54,30 sacos.
MGS Aranãs
Outra cultivar que vem sendo trabalhada e indicada pela EPAMIG para o Sul de Minas e até para o Cerrado além de outras regiões é o MGS Aranãs, também fruto de hibridação artificial entre Catimor UFV 1603-215 e Icatu IAC H3851-2 – cruzamento realizado em 1985 no Campo Experimental de São Sebastião do Paraíso, onde também se fez o trabalho de melhoramento.
A seleção final foi na Fazenda Alvorada, em Aricanduva, (Chapadas de Minas) e também no Sul do Estado, já numa geração mais avançada, também em parceria com o cafeicultor Sérgio Meirelles, no município de São Gonçalo do Sapucaí.
De porte baixo, coloração vermelha com a característica de ser bastante graúdo, peneira bastante elevada, apresenta vigor bastante elevado, excelente desenvolvimento inicial, o que é notado a partir do crescimento em viveiros. De fácil crescimento e formação e alta capacidade produtiva.
Apresenta moderada resistência à ferrugem, que já auxilia muito no manejo da lavoura. A maturação dos frutos é considerada semitardia (comparável aos Catuaís), e tem boa resposta à colheita mecanizada. Recomendado para plantio nas regiões Sul de Minas, Cerrado, Chapadas de Minas, sendo que alguns trabalhos foram realizados na Zona da Mata. Essa cultivar não é indicada para locais de elevada altitudes, próximo de mil metros, por ser material tardio.
Ensaio feito em Aricanduva, na região Chapada de Minas, Vale do Jequitinhonha, levando em consideração a média de quatro safras, a produção foi de 57, 66 sacos, enquanto no sistema de sequeiro no município de Cabo Verde chegou a 62,6 sacos, o que demonstra seu potencial produtivo, primeira safra, com dois anos e meio.
Sobre qualidade de bebida, notas sensoriais, destaca-se a cultivar Paraíso 2, com pontuações acima de Bourbon tanto no sistema irrigado, como no sequeiro que chegou a quase 85 pontos. No sistema sequeiro a cultivar Aranãs chegou a mais de 84 pontos, lembrando que a partir de 80 pontos já é considerado café especial.