Não surpreende a notícia de 25/07/2020 de que, possivelmente o Sesc não cumprirá o acordado quando do recebimento de um patrimônio público a custo zero. Este mesmo periódico já publicou há algum tempo, a notícia de que esta entidade estava fechando unidades em cidades mineiras, até de maior relevância do que a nossa. Aí vem a pergunta; por que somos melhores do que Juiz de Fora ou o bairro Venda Nova de Belo Horizonte, por exemplo? E o Executivo através de decreto, estendeu o prazo inicialmente concedido. E ele tem a seu livre arbítrio, ou seja, sem a anuência da Câmara, poderes para estender este prazo? A nota publicada no dia 29/07/2020 neste mesmo jornal, esclarece de forma bem genérica, os motivos do não cumprimento do acordo. E adivinhem; o culpado é? A pandemia.
Quando da discussão e aprovação pelo Legislativo da proposta do Executivo para esta doação, fiz questão de comparecer à Câmara Municipal para presenciar o comportamento de nossos bravos edis. Como já dito em manifestação também enviada a este jornal em fevereiro de 2018 e também publicada, “a reunião foi um primor de defesa do patrimônio púbico”. Após marcação forte de território com manifestações valentes, a aprovação foi por unanimidade.
É bom lembrarmos que, foi a entrega de um bem de propriedade da população paraisense a uma entidade privada. Esta doação nunca foi explicada claramente para quem interessa, ou seja, a população de São Sebastião do Paraíso. O que ela ganharia ou qual o benefício que o cidadão comum teria com isto? Onde este patrimônio público milionário, agora repassado a iniciativa privada, atenderia aos anseios de uma gente despojada de boas condições de esporte e lazer?
Existem na cidade instituições que poderiam notificar as autoridades responsáveis por estas doações, pois depois desta foram feitas mais algumas, para que explicassem a cada munícipe, onde ele foi contemplado com os benefícios de um patrimônio, que até pouco tempo era de sua propriedade e hoje integra balanços de outros. Ou os próprios generosos doadores, que aproveitem o modismo das lives e expliquem a cada paraisense, o que ele ganhou.
Ao longo de nossa história, patrimônio público e também de uso público, mesmo que privados coletivos, foram passados para mãos individuais e também corporativas sem nenhuma contestação ou proposição de alternativas.
Somos uma cidade pobre, com uma população jovem convivendo com uma quantidade imensa de drogas ilícitas nas ruas; e uma saída barata e eficaz para o controle desta praga é a universalização do esporte. Será que ninguém entendeu ainda que a maneira que temos de tirar nossos jovens das mãos dos traficantes é oferecer a alternativa de esporte e lazer, como parte complementar importante da educação regular? Mas parece que isto não interessa muito a quem decide.
Não cobramos nunca nossos representantes. Está na hora de mudarmos esta postura relapsa e preguiçosa, pois do contrário, tudo continuará do mesmo jeito. Por falar nisto, como anda o tratamento de esgotos de São Sebastião do Paraíso? Ninguém sabe, ninguém viu e ninguém explica? Era para estar funcionando em sua plenitude há mais de quatro anos.
Estamos perdendo até mesmo o respeito, pois não fazemos jus a ele. Uma pena.
“O ponto de partida de qualquer novo projeto alternativo de nação terá que ser, inevitavelmente, o aumento da participação e do poder do povo nos centros de decisão do país”. (Celso Furtado)
João Batista Mião