A viagem no tempo já começa ao entrar na estação ferroviária em 1960, quando fui para Campinas dar continuidade aos meus estudos. Com a chegada da Maria Fumaça, da Companhia Mogiana, o P P2 às 07h30 e previsão de desembarque ao destino final às 17h00. Essa parte da história que chegou a todo vapor ao Brasil no final do século 19, perdurando até o século 20, quando locomotivas a vapor passaram a ser substituídas por máquinas mais modernas, com motores a óleo diesel, e elétricas.
Lançando sua fumaça e seus apitos, a Maria Fumaça seguia lenta, cadenciada, rompendo o caminho, enquanto se afastava, a paisagem ia ficando mais suave, e as janelas do trem emolduravam lagos e flores nas beiras dos trilhos, e tudo mais que representa esse universo mineiramente de montanhas.
Uma figura que ativa a memória era o chefe de trem, como é chamado o responsável pelo recolhimento dos bilhetes e pelo perfeito andamento da viagem, além de picotar um a um os bilhetes dos passageiros.
Outra ocasião, em viagem a Guaxupé, eu vestia uma camisa de seda de mangas compridas, ia feliz da vida observando as estações que passavam, como Ipomeia, Tapir, Catitó. De repente veio uma fagulha que caiu justamente na minha camisa, e abriu verdadeiro buraco, pois a máquina era a vapor, caldeira tocada à lenha. Não preciso dizer meu desapontamento.
Os vagões de passageiros eram verdadeiros hotéis sobre trilhos. Dispunham de bar, banheiro, vagões restaurantes e carros dormitórios. Paraíso teve o privilégio de ter duas estradas de Ferro, a Mogiana (posteriormente passou a ser Fepasa) para Campinas, e a São Paulo e Minas, para Bento Quirino e Ribeirão Preto. Havia na época seis trens diários.
Não foi a ferrovia quem levou ao cultivo de café a região do Sul de Minas. O café chegou antes, foi a riqueza agrícola que atraiu os trilhos da Rede Sul Mineira à nossa região. Em 1903, quando a estrada de ferro chegou a Guaxupé, toda produção era transportada em lombos de burros, ou carros de boi. Guaranésia teria sua estação em 1912.
A diretoria da Mogiana, sem aviso prévio inaugurou a estação de São Sebastião do Paraíso, rapidamente, para evitar festejos, mas o então presidente da Municipalidade, Dr. José de Souza Soares, saudou seus membros com taças de champanhe em novembro de 1914. A estação de Passos, ponto final da rede, foi inaugurada em 1921.
Acabado o ciclo do café, a Mogiana começou a perder renda, e foi estatizada em 1952. O último trem de passageiros da Mogiana ocorreu em 1977.
Afinal, esta vida não passa de uma viagem de trem. Estamos todos em um vagão, não sabemos qual a estação, o dia, e a hora que vamos descer para a eternidade.
Sebastião Pimenta Filho membro da Academia Paraisense de Cultura