Neste domingo, 20 de setembro, a Gonçalves Salles S.A. Indústria e Comércio, fabricante dos produtos Aviação comemora seu centenário. Uma história construída com visão empreendedora, trabalho constante, aprimoramento na qualidade que resultou na liderança nacional no mercado de manteiga, de outros derivados lácteos, e, na área de café que também vai de vento em popa.
“Você conseguir levar uma empresa brasileira, familiar, ao centenário, com todos os percalços, não é coisa fácil, e sinto orgulho em dizer isso”, comemora o diretor presidente Geraldo Alvarenga Resende Filho. Formado em Medicina, ele deixou de ser pediatra para há mais de 50 anos estar ao lado de seu pai, Geraldo Alvarenga Resende, quando assumiu a empresa. O setor de saúde deixou de ter um pediatra, no entanto, o empresarial ganhou o líder de uma equipe fabulosa que trouxe a Aviação ao centenário.
A empresa nasceu no final da pandemia da Gripe Espanhola que durou de 1918 a 1920, coincidentemente final da Primeira Guerra Mundial. Sobreviveu à Segunda Guerra Mundial, à meia dúzia de revoluções, a uns quinze planos econômicos e está de pé até hoje, sólida, se modernizando. “Agora com a pandemia? Você trata cada situação naquele momento. Foram situações vividas por meus avós, meu pai outro tanto, período em que acompanhei todo ele, e no período de meu avô tenho lembranças porque se comentava na família, fatos”, explica Resende Filho.
A Gonçalves Salles e Companhia nasceu em São Paulo, e se dedicava ao comércio atacadista de alimentos. Meu avô materno, Antônio Gonçalves era mineiro de Andrelândia, e o Salles (Oscar Salles) cunhado, e o sogro, Augusto Salles, (meu bisavô e meu tio avô), eram de Lavras. A produção de manteiga se iniciou com a compra de uma fábrica desativada em Passos. “Meu avô entusiasmou, comprou a tal fábrica de manteiga, mas a empresa atacadista era o principal foco naquele momento. Isso durou até 1964 quando meu avô veio a falecer”. Antes, em 1944, ele com um grupo Siqueira Meirelles (da Cimento Itaú), participaram da fundação antigo Banco Itaú, o Itausinho. Ele cumpria expediente diário na Aviação em São Paulo, mas começou a dedicar-se mais ao banco, isso foi até o final de 1964 quando faleceu, conta.
A empresa àquela altura estava com 45 anos e meu pai que era médico urologista chefe do Instituto dos Bancários (IAPB) antes da fusão dos institutos que tempos depois se tornou INPS, já não se sentia bem no exercício da medicina. Os Salles, cunhados do meu avô chamaram meu pai e lhe disseram que não tinham mais interesse em continuar com a empresa atacadista e a fábrica de manteiga. Meu pai achou uma judiação, comprou as ações de Oscar Salles que tinha capital igual ao de meu avô. Entre a morte de meu avô no final de 1964, até 1968, meu pai comprou quase que a totalidade das ações dos cunhados do Gonçalves, lembra-se Resende Filho.
Dr. Geraldo assumiu e começou a remodelar a empresa. Viu que a maneira como se fazia a comercialização no atacado, que era o carro chefe da empresa, não era a forma ideal. Comerciantes do interior iam a São Paulo para se abastecerem. No início dos anos 1960 houve uma inversão, e atacadistas começaram a vir para o interior oferecer seus produtos. Mas a Gonçalves Salles não tinha esta estrutura para vir ao interior e também não estava interessada.
“Temos um produto que é a Manteiga Aviação um nome forte, consolidado, vou expandir a área de laticínio, e vou levar para São Sebastião do Paraíso que é minha terra”, disse Dr. Geraldo Alvarenga. À época a empresa tinha meia dúzia de fábricas pequenas, todas obsoletas, precisando passar por reformulação.
Nesta altura Geraldo Alvarenga Resende Filho já estava se preparando para o vestibular de Medicina, talvez por influência de seu pai ser médico. Prestou vestibular, fez o curso. Quando concluiu, seu pai já havia formatado a vinda da empresa para Paraíso. “Meu pai convidou um primo dele, e José Lázaro Negrão para ajudá-lo nesta estruturação. O primo morava em São Paulo, não quis vir. Eu ia começar o período de residência médica e vi aquela situação toda. Se começasse a residência iria me enfronhar. Medicina e negócio é inviável, seria uma coisa ou outra. Deixei o diploma de médico e decidi ajudar meu pai na empreitada dele”, conta Resende Filho.
Em 1976 Resende Filho fez um curso intensivo em Administração na Fundação Getúlio Vargas, e conforme explica, lhe “foi de muita valia, porque era muito abrangente, voltado para profissionais de outras áreas, que não Administração, propriamente”. E comecei realmente a me envolver mais, e foi o meu dia a dia, até hoje, salienta.
Um fato pitoresco nesta história foi que quando Dr. Geraldo Alvarenga comprou e assumiu as ações dos Salles, “Geraldinho Alvarenga” ainda não tinha 21 anos, então ele o emancipou, e numa assembleia da empresa o nomeou diretor vice-presidente. “Na realidade a bem dizer, estou há mais de 50 anos na empresa, mas efetivamente a partir de 1975 junto de meu pai até fevereiro de 1991, quando ele faleceu”.
Dr. Geraldo Alvarenga acometido por enfisema pulmonar um pouco debilitado, foi gradativamente passando a direção da empresa para os filhos, Geraldo e Ana Luísa Resende Pimenta, supervisionado por ele.
Perguntado sobre desafios enfrentados, Geraldo Alvarenga Resende Filho afirma que foram muitos, pois “empresas os têm todos os dias”. Particularmente me vem à memória como período mais difícil o começo dos anos 1980 pela dificuldade de dinheiro na época. Embora nossa empresa sempre tenha trabalhado muito capitalizada, tínhamos implementado a fábrica em Paraíso e fizemos financiamentos, o que não é normal para nossa empresa. Faltava dinheiro para o giro, clientes também tinham dificuldade em nos efetuar pagamentos. Entre 1980 a 1982 foi o período mais difícil por causa disso. Tivemos outros momentos, mas foram superados, explica.
Sobre o processo sucessório quando a quarta geração vem se incorporando a empresa, Resende Filho afirma que isso tem ocorrido de forma muito natural. “Sempre tivemos muito bem definido, família e negócio. Primeiro veio meu sobrinho mais velho Roberto Rezende Pimenta, que trabalhou em bancos, teve outras experiências, e um dia manifestou vontade em trabalhar na empresa”.
Na sequência veio a irmã dele, Maria Paula Rezende Pimenta de Queiroz para a área de propaganda e publicidade, posteriormente meu filho Fernando Montans Alvarenga, pensando mais na área de café, mas tudo a ver com o grupo, depois minha filha, Luciana Montans Alvarenga, formada em nutrição com especialização em marketing, em seguida minha sobrinha, Marina Rezende Pimenta Portinari, veterinária, que hoje além de fazer a gestão do setor de gado na fazenda é a responsável pelo setor de qualidade na empresa, explica Geraldo Alvarenga Resende Filho.
Ele enfatiza que antevendo o futuro e continuidade da empresa, já se providenciou uma governança corporativa. “Sendo na mão dos que atualmente são adolescentes, e futuramente, se preencherem pré-requisitos hoje já definidos, ótimo. Serão muito bem vindos, poderão se incorporar”.
Ninguém é forçado a nada. A quarta geração chegou aqui espontaneamente. Trabalhar na empresa é uma opção de cada um, desde que se enquadrem naquilo em que a empresa precisa, senão a gente vai ao mercado e traz profissionais, afirma Geraldo Alvarenga Resende Filho. E observa que “infelizmente grande parte das empresas familiares brasileiras sucumbiu por causa disso. Gerações que sucederam fundadores, queriam sentar à mesa e saber “quanto é o meu”, mas trabalhar arregaçar as mangas, poucos faziam”.
Sobre sucessão, o diretor da Gonçalves Salles cita resposta do empresário Antônio Ermírio de Moraes ao jornalista Roberto D’Ávila, quando afirmou que mais de trinta jovens da família Moraes estavam chegando à idade de assumir funções no grupo Votorantim. “Engano seu, nós temos muito bem definido que consanguinidade não é sinal de competência. Os que forem competentes e tiverem habilidade serão bem vindos, os demais vão tocar suas vidas”, ponderou Antônio Ermírio.
Quanto ao futuro da Gonçalves Salles, Resende Filho observa que metas sempre existem, e a empresa sempre tem um crescimento orgânico, até acima da média, mas isso nunca lhes subiu à cabeça. “Quando nos afirmam que temos um produto com projeção nacional que nos abre portas, digo que isso é em termos. Não é por sermos líderes em produção de manteiga que qualquer produto lançado com a marca Aviação vai ser líder”.
A preocupação maior é sempre acompanhar a evolução. Acabamos de receber, na semana passada, uma nova batedeira de manteiga vindo da França que vai permitir, tripliquemos nossa produção atual. Não vamos fazer isso de imediato, ela permite que isso aconteça. Às vezes, no setor industrial os saltos são mais distantes. Em outras atividades são mais curtos, enfatiza.
A última grande revolução que a Gonçalves Salles teve conforme explica Resende Filho, foi em 1995 quando trouxeram também da França, do mesmo fabricante, uma batedeira de manteiga, processo contínuo no sistema de fabricação e envase que ninguém tem até hoje no Brasil. “O nosso sistema é único, e o que estamos é ampliando e nos adequando à nova realidade”.
Nesse processo de modernização e adequações, foi também importada da Alemanha máquina para envase de manteiga em tabletinhos. “É o que tem de melhor no mundo, encaixotamento automático, uma série de providências que a gente vem tomando ao longo dos últimos anos. Há também a questão da Informática que entrou aqui para valer. Hoje posso comandar o processo de fabricação a partir de aparelho celular”, explica.
Geraldo Alvarenga Resende Filho lembra também a questão do tratamento de efluentes como um período desgastante. “Tentamos um processo biológico que acabou não dando certo, tivemos problema momentâneo, extremamente desagradável. Foi feita adequação e o resíduo passou a ser fonte de receita porque é tratado, e há aproveitamento para se produzir ração animal e até medicamento. Tudo é um aprendizado. O que naquele momento foi aborrecimento, hoje é fonte de receita”.
A empresa teve início em 1920 como atacadista de alimentos. A segunda fase é considerada a partir de 1965, quando encerrou-se o atacado e se concentrou nos lácteos e seus derivados. O marco divisório foi quando as atividades foram centralizadas em São Sebastião do Paraíso em 1977. A vinda se deve ao paraisense Dr. Geraldo Alvarenga Resende.
Além de fazendas onde se produz arábica de qualidade, Geraldo Alvarenga Resende Filho implantou há 18 anos um Armazém Geral em São Sebastião do Paraíso, o Peneira Alta, empreendimento que tem como diretor seu filho Fernando Montans Alvarenga, e se prima por tecnologia de ponta em armazenagem e comercialização de café.
Se pelo lado materno, sua família desde o bisavô se dedicavam na área de laticínios, o café também está em seu “DNA” familiar, na vertente paterna. Seu bisavô, João Ferreira Oliveira Resende, e a bisavó Tereza Pimenta de Pádua, que iniciaram o clã Resende no município paraisense,.já cultivavam café na região do Morro Alto, no final dos anos 1800.
O empresário Geraldo Alvarenga Resende Filho é diretor da Associação Comercial, Industrial, Agropecuária e Serviços de São Sebastião do Paraíso.
O presidente da ACISSP, Ailton Rocha de Sillos destaca que Geraldo Alvarenga integra diretorias desde seu primeiro mandato, há mais de vinte anos, e, não obstante seus muitos compromissos, sempre quando solicitado “é o primeiro a chegar”.
Resende Filho salienta que com dinamismo e dedicação, Sillos consolidou a ACISSP como instituição atuante.