As primeiras informações relacionadas a intenção de se instalar uma usina termoelétrica em São Sebastião do Paraíso tem causado fortes reações de pessoas e especialistas na área, que já questionam a viabilidade do empreendimento. O assunto surgiu há cerca de 15 dias, quando na Câmara Municipal, foram reunidos vereadores de Paraíso e Passos e o prefeito de Passos, Carlos Renato Lima Reis, o Renatinho Ourives. Na oportunidade, deu-se início os debates para a inclusão da cidade vizinha no Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Sustentável da Região de São Sebastião do Paraíso (Cidassp) o que segundo o órgão pode ajudar na implantação da unidade.
Embora as representantes do consórcio falem na realização de audiência pública, na elaboração de um plano de viabilidade técnica e econômica, o assunto promete render muita polêmica. O Cidassp aponta que o Instituto de Planejamento e Gestão de Cidades (IPGC) já está realizando estudos sobre o impacto da atividade no município e até antecipa a criação de uma PPP (Parceria Público Privada) para gerir o empreendimento. De início são apontados dois caminhos para a destinação dos resíduos de Paraíso e dos municípios consorciados. As alternativas são manter o aterro sanitário ou a termodegradação do lixo.
Uma das primeiras reações sobre as propostas apresentadas partiu do presidente da Câmara, Lisandro Monteiro. Ele disse durante sessão ordinária em 21 de setembro, que o assunto não passará pela Câmara e não terá aprovação dos vereadores sem uma ampla e profunda discussão. “Teremos aqui um debate intenso, profundo, haverá audiência pública, a comunidade e as lideranças deverão se manifestar, nada será feito a toque de caixa”, declarou. Ele ressalta que se trata de uma decisão que precisa ser bem avaliada para não trazer prejuízos à população, principalmente agora em final de mandato dos atuais gestores públicos.
Também junto à comunidade surgiram manifestações diversas a respeito da implantação da usina no município. É o caso de Luiz Queiroz, bancário há 31 anos e também um estudioso do assunto, que vê com ressalvas o anúncio feito a respeito da destinação dos resíduos sólidos urbanos gerados em Paraíso e região. “Sou contra qualquer projeto que tenha como foco a incineração do lixo, pelos efeitos danosos, já constatados pela ciência”, se posiciona.
uiz afirma ter conhecimento sobre o assunto por ter acesso a vários estudos a respeito das usinas termoelétricas. “Qualquer tentativa com discurso elencando os pontos positivos, e mesmo com projetos com viabilidade ambiental, nada garante que não haverá riscos”, observa. Ele assegura que existem apenas garantias que os riscos ambientais são reais. Ele acrescenta uma série de argumentos que subsidiam seu ponto de vista. “Há perda de trabalho e renda para pessoas que vivem da coleta de lixo. Os resíduos provenientes da queima de 14 cidades serão depositados em aterro na nossa cidade. Será que esse volume de dejetos não será da mesma quantidade ou até maior do que já estamos destinando ao nosso aterro”, indaga.
Ele enumera ainda o prejuízo em relação ao meio ambiente. “Se haverá queima, tenho que retirar mais e mais recursos da natureza para simplesmente queimar”, aponta. Luiz Queiroz confirma ser totalmente contra a Política Nacional para Resíduos Sólidos. “Há lei federal contra queima ou incineração, que não está sendo observada. Existem outras alternativas viáveis do ponto de vista econômico e ambiental. Infelizmente querem ir para o caminho mais fácil”, conclui.
O engenheiro elétrico aposentado de Furnas onde foi diretor de operações, Ailton Rocha de Sillos, que atuou na implantação de usinas no Brasil e em diversos países, também tem opinião de que as termoelétricas exigem grande demanda, sobretudo de manutenção. “É um assunto que necessita ser amplamente discutido, principalmente com comunidade local, porque a adoção de um sistema como este pode trazer um ônus muito grande para a comunidade”, opina. Ele ressalta que diferentemente das lideranças locais, os representantes de outras cidades serão favoráveis à instalação desta unidade em Paraíso por estarem se livrando de um grave problema, acrescenta.
Para Ailton Sillos é preciso estar atento e que se faça um amplo debate com apresentação de estudos técnicos e que mesmo assim corre-se o risco de mudanças de última hora. Ele avalia que são tendências que estão em transformações a todo momento. “Uma decisão destas sem o devido debate seria o mesmo que caminhar na contramão do bom senso ambiental. Qualquer estudo técnico sério neste sentido que leve em consideração o impacto ambiental, certamente indicará inviabilidade”, avalia.
Ainda de acordo com Sillos a questão pode se tornar “um grande abacaxi para descascar”, compara. Ele afirma que tem outras opiniões a respeito, mas prefere esperar um pouco mais para aprofundar nas discussões. “Na época da cana de açúcar tivemos sérios problemas com caminhões transitando na cidade, agora poderemos ter situações muito mais graves, não só com caminhões, mas principalmente pensando no ar que respiramos e no nosso meio ambiente”, conclui.