O repórter fotográfico Manoel Ribeiro dos Santos, era daqueles paraisenses da gema. Passou para o andar de cima há pouco mais de cinco anos. Amigo de longa data, estava constantemente conosco na redação do Jornal do Sudoeste, e, a bem da verdade, era considerado de casa, de nossa equipe. Lérinho, como era chamado, desde muito jovem aprendeu lidar com fotografias, e era grato aos mestres que lhe ensinaram o ofício/arte. Sempre mencionava o senhor João Pimenta que teve por alguns anos estúdio fotográfico em São Sebastião do Paraíso. Com ele aprendeu técnicas para fotografar e de revelação, tempo em que nem se imaginava viria a era digital. Viu a evolução de equipamentos fotográficos suprir a necessidade de conhecimentos técnicos, onde o automático de câmeras simplifica a tarefa de ter que combinar abertura, velocidade, asa a ser utilizada.
O conheci quando ele ao lado de outros craques integrava a equipe da Associação Atlética Paraisense. Habilidoso, foi protagonista de jogadas memoráveis também pelo Operário Esporte Clube.
Mudou-se para São Paulo ainda bem jovem. Depois de algum tempo trabalhando no setor de abreugrafia, método que se utilizava para radiografar pulmões de funcionários de empresas, para comprovar o estado de saúde, foi repórter fotográfico na Secretaria Estadual de Saúde. Isso lhe valeu estar diretamente ligado a alguns secretários daquela pasta, pois integrava a assessoria de comunicação.
Como bom mineiro, gostava de política, e em suas idas constantes ao Palácio dos Bandeirantes, ou em eventos em que acompanhava secretários de Saúde, se tornou conhecido de governadores e seus assessores próximos.
Em feriados prolongados e em suas férias sempre estava em Paraíso. Amiudou suas vindas, para assistir e fotografar jogos da Paraisense, desde quando disputou a Segunda Divisão do Futebol mineiro.
Quando foram desativadas linhas férreas da Fepasa e São Paulo e Minas em São Sebastião do Paraíso, desde a época em que o engenheiro João Mambrini Filho foi prefeito, iniciou-se articulações para a retirada dos trilhos de algumas áreas no perímetro urbano. Nesse contexto, há de ser lembrado o então vereador, Vitor Silva Duarte, que trabalhou muito nesse sentido. Audiências com governadores e deputados paulistas, Lérinho acompanhou de perto com seus registros fotográficos.
Os entendimentos caminhavam, mas com a lentidão de trâmites burocráticos, e Lérinho propôs conseguir audiência de autoridades paraisenses com o então governador Orestes Quércia, de modo a lhe ser apresentado o pleito pela retirada dos trilhos, e obter seu aval.
E numa terça-feira, 21 de fevereiro de 1991, o prefeito Waldir Marcolini, e uma comitiva de vereadores (o presidente da Câmara era José Alves Campos) chegaram logo de manhã ao Palácio dos Bandeirantes, alguns até com certa descrença que a audiência aconteceria. Repórteres do Jornal do Sudoeste, da TV Paraíso e Rádio Ouro Verde estavam presentes.
De fato, a audiência não constava da agenda do governador Orestes Quércia que estava reunido com seis governadores nordestinos numa sala ao lado onde aguardava a comitiva paraisense. Quércia era eventual candidato a presidente da República, e governadores foram lhe declarar apoio. No entanto, a costura já havia sido feita por Lérinho junto ao seu amigo, chefe de gabinete do governador pedindo que intercedesse para intermediar o encontro.
Em dado momento quando de pequeno intervalo na reunião de Quércia com os governadores, lhe foi dito que autoridades de São Sebastião do Paraíso, terra de sua avó, estavam no Palácio e gostariam de cumprimenta-lo, e informar-lhe pessoalmente que havia sido lhe outorgado o título de cidadania paraisense.
O governador não se fez de rogado, veio ao encontro, houve uma “prosa boa”, até “mais alongada” que se esperava, tempo suficiente para lhe ser exposto sobre a retirada dos trilhos. Em 20 de fevereiro de 1992 o diretor da Fepasa Miguel Roberto Ruggiero assinou o termo de acordo, sacramentando o pedido.
Bom fotógrafo, bom de bola, de uma habilidade política que tem faltado a muitos ocupantes de cargos eletivos hoje em dia, lembro-me da ousadia que teve Manoel Ribeiro dos Santos, o Lérinho, em dizer para autoridades de Paraíso, seus conterrâneos, fossem para a capital paulista, e coloca-los frente a frente com o governador, sem a audiência ter sido previamente agendada.
Foi muita confiança no taco.
Depois de aposentar-se na função que exercia, Lerinho retornou a São Sebastião do Paraíso, foi repórter fotográfico na Assessoria de Comunicação da Prefeitura. Faleceu em fevereiro de 2015.