199 ANOS PARAÍSO

A Rodoviária nova de Paraíso

Por: Roberto Nogueira | Categoria: Cidades | 24-10-2020 16:46 | 786
Foto: Tiel

No auge de minha juventude, São Sebastião do Paraíso viveu uma de suas mais polêmicas histórias de sua existência e que dividiu a opinião da população. Era o ano de 1.992 quando uma de suas construções símbolos de progresso e pujança foi inaugurada em noite de festa com direito ao show da dupla “Cristo Rei e Paraná”, conforme anúncio da época, do então prefeito Waldir Marcolini, autor de toda a proeza. Waldir trocou “Chico Rei, por Cristo Rei. Falo neste artigo sobre o Terminal Rodoviário “Ângelo Scavazza” ponto de polêmica, de divisão, de amor e ódio e que até os dias atuais ainda suscita debates acalorados, se deveria ter sido construído ou não. Naquele tempo, eu já fazia parte da equipe de Redação do Jornal do Sudoeste e começava a acompanhar, bem de perto, um mundo de acontecimentos e transformações pelas quais vem passando até os dias atuais, a nossa cidade.

A notícia sobre a construção da nova rodoviária mexeu com toda a Paraíso, por divergir sobre os pontos de vistas entre os favoráveis e os contrários. Vivíamos na época sobre a segunda administração do prefeito Waldir Marcolini, considerado por muitos o melhor que já tivemos nos últimos 50 anos. De descendência italiana, tinha o sangue quente, era incisivo e determinado naquilo que queria fazer. Administrativamente, foi um prefeito arrojado no seu tempo, por ter legado aos parai-senses um conjunto de obras insuperáveis até os dias atuais.

A cidade vivia um “boom” de expansão com surgimento de novos bairros, construção de novas e largas avenidas interligando regiões, fazendo com que Paraíso experimentasse um nível de desenvolvimento inigualável. A proposta de construção da nova rodoviária era escorada em dois argumentos principais, sendo o primeiro, pela necessidade de tirar a circulação dos ônibus de dentro da cidade. Na Rodoviária da Lagoinha, a maioria dos ônibus chegava pelo trevo da caixa d’água, acessava a Rua Geraldo Froes e descia até o terminal. As saídas ocorriam pela Rua Dr. Placidino Brigagão ou pela Avenida Doutor Delfim Moreira.

Outro argumento apresentado em defesa da nova rodoviária era de levar o progresso para toda aquela região além da Vila Formosa. Bairros como Jardim Planalto, Jardim Ouro Verde e San Genaro começavam a surgir. E de fato, hoje passados quase 30 anos os espaços foram ocupados. Casas, estabelecimentos comerciais, escolas, unidade de saúde, tudo ali se transformou. Surgiu uma outra Paraíso, que hoje extrapola os limites da rodovia com novos bairros surgidos em seu entorno e novamente a Rodoviária está dentro da cidade, outra vez.

Quem viu o desenvolvimento de suntuosa construção ficou a admirar. Amplos guichês para todas as empresas, sala administrativa, espaço reservado ao DER e Juizado de Menor. Amplas salas de espera em dois ambientes, lanchonetes, táxis, transporte coletivo para os bairros, boxes para embarque e desembarque, chegou a causar inveja em cidades da região. O projeto previa a construção de um mini shopping do outro lado com lojas de variedades e departamentos, mas, infelizmente a iniciativa não vingou dando lugar para outras práticas comerciais.

Avenidas de acesso foram construídas para se chegar ao local e assim o casario foi se instalando nas imediações. No dia da inauguração, já em fim de mandato, uma multidão de paraisenses foi conferir de perto as novas instalações e o show gratuito da dupla Chico Rey e Paraná, sucesso na época. Uma grande festa, uma grande obra e um legado que se conservado melhor terá duração para muitos anos, dentro do olhar futurista de seu idealizador.

Com o tempo a comunidade foi se acostumando com a nova realidade e o Terminal Rodoviário pouco a pouco foi fazendo parte do cotidiano da cidade. Ao que tudo indica não há registros contabilizados de quantos embarques e desembarques já foram feitos a partir daquele lugar. Idas e vindas Paraisenses e visitantes que chegam e partem. Escrevem suas histórias seja a passeio, a trabalho, ou pelos estudos e até mesmo outras tantas circunstâncias. A rodoviária continua ali, muitas das vezes até mal tratada por falta de devida manutenção, de zelo, de carinho e até mesmo de visão de que aquele lugar funciona como porta de entrada para cidade, e onde muitos têm suas primeiras impressões de Paraíso.

Mesmo com o avanço dos tempos, o movimento diminuto, a rodoviária continua sendo a rodoviária. Por forças das circunstâncias atuais muitas viagens foram interrompidas, muitos dos ônibus que por aqui paravam deixaram de circular entre as cidades. As formas de transportes também mudaram e as transformações ao longo dos anos são as mais diversas. Ainda assim do pouco que restou há muitas histórias boas de pessoas que se reencontraram ali, memórias de quem cumpriu sua jornada. Mesmo os que partem sabe que ali também iniciam novos acontecimentos.

O que para uns é ponto final, para outros é o novo começo. Até que nova realidade se aplique naquele lugar. Por enquanto, sigamos cada qual o seu destino e boa viagem.