Ao entrar no capítulo do nosso esporte vim recordar tempos memoráveis, dias de festas, tardes de glórias e outras nem tanto, envolvendo a nossa Associação Atlética Paraisense, “A Mais Querida”. Lembro que as nossas velhas tardes de domingo nunca mais foram as mesmas depois que cessou o futebol profissional da “Verdona”. Ela que também é centenária, ano passado completou 100 anos de glórias, um século de histórias.
Acredito que menos da metade, mas sim uma boa parte destes tempos memoráveis tive a oportunidade de bem viver e me emocionar. O futebol daquele tempo, digo de uns 30, 40, 50 anos atrás era movido pela paixão. Tinha a parte financeira sim, afinal de contas ninguém vive de brisas, mas o efeito do vil metal, do capitalismo avassalador não era tão absurdo como de agora, até mesmo no mundo dos esportes, a ponto de inviabilizar que cidades do porte de Paraíso tenham um time de futebol profissional, já que os custos são absurdos.
Pois bem, voltando aos tempos idos, em dias de jogos da Paraisense no querido e velho Comendador João Alves mudava bastante a rotina do domingo. Almoçar tinha que ser mais cedo, porque volta do meio dia e meia já rumava para os lados do campo. Interessante recordar que o cemitério nos anos 80 ainda não havia avançado em direção ao estádio. Uma grande área com grandes eucaliptos servia de estacionamento. Mais abaixo havia uma estradinha que ia passar ao lado dos vestiários para chegar ao IBC. Mais a direita ainda, as linhas da Fepasa por onde os trens manobravam, chegavam e partiam para Itaú de Minas e Ribeirão Preto.
Bom, chegar ao estádio era fácil, pois, morar na Vila Mariana tinha destas vantagens. Como eu ainda era menino, recordo que a garotada se aglomerava na portaria a espera de uma liberação dos porteiros ou mesmo que algum conhecido com ingresso na mão passasse a gente como cortesia. Em dias de jogos mais importantes e intensa fiscalização, ficávamos ali na expectativa ouvindo o barulho de quem havia entrado.
As vezes um silêncio pelo gol adversário, mas na maioria das vezes uma explosão de alegria por saber que a Verdona estava balançando as redes. Em muitos casos a liberação ocorria somente a partir do segundo tempo, quando encontrávamos com a turma nas arquibancadas atrás do gol ou nas proximidades da curva da morte, ali estava a nossa torcida.
Era bom de ver e foram vários nomes de atletas que por ali passaram e marcaram época. Debaixo das traves tivemos goleiros como Hildeu, Mutulovic, Jairão e o nosso Zé Luiz. Na defesa Ivo Calderon, Jailson, Elder, Mozer e Carlão. Na meiuca Fuschilo, Mário Sérgio, Sérgio Vilela e Dácio. E tivemos atacantes diversos como Joãozinho, Lô, Piraju, Wagninho, Zucao, Luiz Carlos Açucareira e tantos outros que fizeram a nossa alegria. Lógico que a galeria de craques que por aqui passaram é muito maior e este é apenas um exercício de memória mesclando atletas de diferentes formações. Treinadores vou citar três, Élcio Jacaré, Mineiro e João Paulo que também atuou como jogador, mas foram vários nomes que passaram pelo comando alviverde.
Impossível não falar de certos dirigentes como exemplo, Saninho Montaldi, Josias Leite, Gabriel Ramos da Silva, Tito Capatti, Antonino José Amorim e tantos outros colaboradores. Muitos deram parte de suas vidas em prol da Paraisense. Houve até quem tirasse dinheiro do bolso para manter compromissos em dia e honrar o nome da Verdona.
Adversários foram inúmeros que enfrentaram a Paraisense, muitos deles hoje extintos. Vai desde o Ateneu (Montes Claros), Fluminense (Araguari), Sparta (Campo Belo), Pouso Alegre, Yuracam (Itajubá), Ituiutaba e Ituiutabana, Monte Carmelo, Araxá, Flamengo (Varginha). Isso sem contar os tradicionais rivais como Esportivo (Passos), Esportiva (Guaxupé), Caldense, Alfenense, Trespontano, Atlético (Três Corações). Fortes equipes também por aqui vindas de grandes cidades como Uberlândia, Uberaba, Tupi (Juiz de Fora), Guarani (Divinópolis), Vila Nova (Nova Lima), Valeriodoce (Itabira) e os Democratas de Sete Lagoas e de Governador Valadares.
A Paraisense que esteve na Primeira Divisão aqui recebeu as grandes equipes da capital como América, Atlético e Cruzeiro. Foi numa destas partidas, contra o azul celeste que já fascinado pelo mundo do jornalismo preferi não entrar para assistir ao jogo. Fiquei ali de fora, acompanhando tudo através de um micro-ônibus, utilizado pela TV Globo que fez a transmissão para toda Minas Gerais. Devido as acomodações modestas das cabines e para o melhor posicionamento das câmeras a favor do sol, o então narrador Fernando Sasso, foi parar em cima das arquibancadas cobertas. E foram cinco os gritos de “tá no filó”, todos a favor do time azul celeste. Também nesta época defendeu o arco alvinegro do galo o goleiro Claudio Taffarel, viu as redes balançar, mas depois comemorou a vitória.
Terminada cada partida éramos os últimos a deixar o estádio. Radinho de pilha em punho acompanhávamos os comentários das equipes de esportes da Rádio Difusora e Rádio Ouro Verde. Em caso de vitória e assim foi na maioria das vezes saboreávamos cada instante, cada gol reprisado, as entrevistas de vestiários, enquanto a massa deixava os portões do estádio. O caminho necessariamente tinha de passar próximo a entrada do cemitério, cruzar a linha do trem muitas vezes em manobras e a torcida subia alegremente para suas casas. Era esperar o próximo domingo e viver novamente todas aquelas emoções.
Enquanto os domingos não chegavam, a vida de torcedor não era fácil. Tínhamos o hábito de acompanhar os treinos durante a semana, fosse tático, físico ou técnico. Principalmente quando chegava jogador novo que se preparava para estrear na Verdona. Ficávamos na expectativa, queríamos saber suas origens, de onde veio, por onde jogou e suas características. Já era fim de tarde, dia escurecendo retornávamos para casa ansiosos para que chegasse logo o fim de semana. E as nossas tardes de domingo, nunca mais foram as mesmas. Ganhando, empatando ou perdendo foram memoráveis as velhas tardes de domingo, na torcida pela Paraisense.