199 ANOS PARAÍSO

Árbitros, jornalista e padre torcedor!

Por: Nelson Duarte | Categoria: Cidades | 24-10-2020 17:20 | 326
Foto: Reprodução

Dia desses, lembrei-me de quão envolvente foram algumas coberturas jornalísticas esportivas que fiz, nos bons tempos em que a Associação Atlética Paraisense disputou a Segunda Divisão do Futebol Mineiro, e, depois, quando de sua ascensão para a Primeira. Além de fotos registradas, e foram muitos rolos de filmes gastos, pois ainda não havia câmeras digitais, pude vivenciar alguns episódios, e até mesmo ser protagonista de alguns. É que, não raras vezes, meu lado torcedor, não devia, mas falou mais alto que minha função  de repórter fotográfico, que percorreu boa parte do interior mineiro, acompanhando a Paraisense.

Numa partida contra o Sparta, em Campo Belo, eu estava próximo ao gol onde a equipe paraisense atacava, e um zagueiro da equipe da casa, fez uma falta próximo à grande área. Jorge Siri, atacante da Paraisense se posicionou e, numa bem feita cobrança conseguiu transpor a barreira feita, e colocar a bola bem no ângulo, sem defesa para o goleiro do Sparta. Fotografei o lance com a bola na rede, mas foi a conta de abaixar a câ-mera fotográfica, vi que o árbitro havia anulado o gol. Alto e bom som, com força nos pulmões,  o chamei de “juiz ladrão”.

Não deu outra! Olhando para onde se posicionavam alguns policiais, apitou, assinalandolhes que entrassem em campo e me retirassem. O sargento, pelo visto, era torcedor do Sparta, e aproveitou para contar-me algumas prosas até vencermos o gramado e eu ser retirado das quatro linhas.

Passou-se o tempo, e fui à Brasília para cobrir uma posse de deputados. Chamou-me a atenção a fisionomia de um fotógrafo que também cobria o evento. À noite, quando aguardava o jantar em um restaurante, lá também estava o fotógrafo, e eu lhe disse que ele me lembrava de um árbitro de futebol. 

Confirmou que de fato era o dito cujo, e havia chegado há pouco tempo dos Estados Unidos, onde atuou em alguns campeonatos. Já mais familiarizado depois da conversa inicial, arrisquei a pergunta: “O senhor se lembra de ter expulsado de campo algum repórter que lhe chamou de ladrão por anular um gol”?

Claro que me lembro, retrucou!

Demos boas risadas quando me identifiquei, e lhe pedi desculpas, dizendo-lhe que ele agiu corretamente.

Sem pretender justificar minha escorregada, fiquei mais aliviado quando também fui testemunha ocular de um fato no Estádio Comendador João Alves que foi marcante. Não me lembro quem era o adversário da “Mais Querida” naquele domingo, mas logo no primeiro tempo o trio de arbitragem demonstrava estar propenso a “cavar” resultado para os visitantes. Jogadas “com  perigo de gol” a favor da Paraisense eram interrompidas, havia inversão em faltas, impedimentos inexistentes eram marcados. O trio pintou e bordou, a ponto de irritar o torcedor alvi-verde mais comedido.

Pois bem, ao término dos quarenta e cinco minutos iniciais, árbitro e dois bandeirinhas se dirigiam para o vestiário e passaram rente ao alambrado, quando alguém advertiu: “Olhe juiz, trate de apitar direito, senão você não sai vivo daqui”.

Obviamente, não passou de força de expressão, de vez que o torcedor era nada mais nada menos, que jovem pároco da Igreja de Nossa Senhora da Abadia naquela época. Entusiasta da Associação Atlética Paraisense,  pessoa bondosa. Gostava de acompanhar a partida de corpo presente, mas não dispensava um grande rádio portátil sintonizado a jornada esportiva da saudosa Rádio Difusora.

No segundo tempo o trio de arbitragem nem foi notado, parecia ter sido substituído.