199 ANOS PARAÍSO

AFONSO GUIDORIZZI - Luz – Câmera – Ação

Por: Redação | Categoria: Cidades | 24-10-2020 10:03 | 293
Afonso Guidorizzi numa pose charmosa da idade madura
Afonso Guidorizzi numa pose charmosa da idade madura Foto: Reprodução

Na edição n.º 75 do Jornal do Sudoeste, de 20 de março de 1987, foi publicada matéria da jornalista Dináh Miranda sobre aspectos da vida e arte de AFONSO GUI-DORIZZI, paulista de Mococa que se radicou em São Sebastião do Paraíso. Dado a relevância do  trabalho e trajetória de Guidorizzi na história de São Sebastião do Paraíso,  tão bem relatados por  Dináh Miranda, reproduzimos texto e foto, como publicados originalmente.

O espírito era puro e simples, dotado de uma inofensividade digna da mais alta admiração. O gênio era calmo, passivo, a natureza interior dedicada e repleta de tenacidade, ou seja, de uma força de vontade férrea. Bom amigo, bom marido, avô cordial, filho e irmão afetuoso. Adorava os animais, principalmente cachorros – fato que talvez, espelhe com mais clareza sua bondade. Sua filosofia era de que tudo se consegue através de uma boa conversa e jamais da violência, afinal, o amor pelo próximo estava acima de qualquer coisa. Muito religioso, católico convicto, adorava sair e viajar.

Os dados acima, podem constar sem susto, da ficha pessoal de Afonso Guidorizzi, um mocoquense que se tornou paraisense de “coração”.

Mas, por trás do homem Afonso Guidorizzi, estava o cineasta, desenhista (fez curso por correspondência no IUB – Instituto Universal Brasileiro), o fotógrafo e o arquiteto, que nos deixou para sempre no dia 5 de agosto de 1983, vítima de derrame cerebral, aos 77 anos de idade.

Na sua simplicidade, Afonso Guidorizzi tinha uma grande paixão – o cinema, que achava uma coisa fantástica – uma das invenções mais marcantes da humanidade: poder reproduzir uma pessoa com gestos e sons. Nesse trabalho de filmagem, em que foi pioneiro em Paraíso, usava uma filmadora de 16 mm, para filmes negativos. Cada filme, geralmente tinha três metros, o que hoje custa mais caro do que duas horas de vídeo. Ele filmava sem tripé, apenas segurando firme com as mãos e saía sem tremer. Afonso registrava eventos da cidade, casamentos, cenas locais.

Como fotógrafo, usava a máquina a máquina Agfa de corda e registrava “postais” da cidade, onde a preocupação era a arte, através da luz e sombra de suas fotografias.

Em seus filmes, o único equipamento que usou, além da filmadora, foi o fotômetro, aparelho que mede a intensidade da luz.

Alguns de seus filmes são: Concentração da Diocese Mariana (25 de maio de 1952), com cenas bem longas. Desfiles de 7 de setembro da Escola de Comércio (52), Procissões da Semana Santa, dois jogos da Associação Atlética Paraisense contra o Operário Esporte Clube.

Sua esposa, D. Lydia, companheira de todas as horas, era quem o assistia mais de perto (ficaram casados 54 anos), incentivando e animando-o. Eles tiveram uma única filha, Nair, que os presenteou com dois netos: João Luiz e Margoley.

Dona Lydia desde que Afonso morreu, passou residir em São Miguel Paulista ao lado da filha e dos netos. Ao ser solicitada para fornecer dados para uma reportagem sobre o marido, não mediu esforços e veio pessoalmente.

Afonso Guidorizzei, filho de um modesto marceneiro, que trabalhava junto com sua esposa para o sustento da família, tinha, acima de tudo, alma de artista. O “Foto Paratodos”, de sua propriedade, ficava defronte a farmácia Santana, na rua Barão (Dr. Placidino Brigagão). Naquela época, os tempos eram difíceis, pois o Brasil acabava de sair da II Guerra Mundial, e principiava a assimilar a técnica americana ou europeia em cine-foto.

A coleção de filmes de Afonso foi comprada por Aníbal Deocleciano Bor-ges – o Biba. E para falar de um cineasta do passado, ninguém melhor do que outro cineasta: “Afonso Guidorizzi, talvez nem pensasse que a obra que ele realizava o imortalizaria em Paraíso, pois os seus filmes hoje, são documentos históricos da vida paraisense”, afirma Biba.

“Afonso, um dia abandonou o foto, e passou a trabalhar com projetos residenciais, desenhando casas que ainda hoje estão aí para atestar o seu bom gosto”, continua ele.

Finalmente, analisando tudo, Biba declara: “A lembrança da obra artística de Afonso Guidorizzi faz com que agora possamos aquilatar a grandeza de sua inteligência, pois faz exatamente quarenta anos que ele fazia um trabalho de base, hoje considerado um marco histórico, pois foram re-gistradas imagens que permanecem vivas, e mostram o jornalismo dinâmico da época, que ele realizou, usando o amadorismo de seu coração, mas o profissionalismo de sua ótica em observar cenas, e registrá-las para a posteridade”.
Dináh Miranda