Nossa primeira viagem ao exterior foi em outubro de 1998 quando participei do I Congresso Internacional da Associação Nacional de Magistrados do Trabalho. Chegamos a Lisboa domingo pela manhã e nos hospedamos no Hotel Altis. Aproveitamos o tempo livre para conhecer a belíssima cidade que se estende por sete colinas até a foz do Rio Tejo.
No dia seguinte, após o pequeno almoço, café da manhã para os portugueses, no elevador, uma grande surpresa: ali estava o escritor José Sarama-go, que acabara de receber o Prêmio Nobel de literatura.
No intervalo do almoço quando retornei ao hotel, lá estava ele na recepção. Novamente o cumprimentei e pedi a uma colega para registrar o momento com uma fotografia já que naquela época ainda não havia meios e o hábito de se fazer selfie. Experimentei uma sensação inusitada, afinal não é sempre que se pode conversar com alguém que acabara de receber uma das maiores honrarias do mundo, o Prêmio Nobel.
De volta ao Brasil com duas obras autografadas pelo genial escritor, me pus a ler com grande interesse o “Ensaio sobre a Cegueira” e constatei que o escritor é de fato genial. Acabei por ler quase toda sua Obra e o que se constata é que O “Ensaio sobre Cegueira” é uma grande metáfora. Estamos cegos diante de muitas mazelas, porém não ver é acreditar que não existam.
A cegueira ficcional da obra de Saramago é uma doença que se propaga rapidamente e transforma belas cidades em cenários caóticos devastados pela sujeira, pelo salve-se quem puder, pelos saques a estabelecimentos em busca de alimentos, enfim a uma terra arrasada, já que nada mais se produz. O desenrolar da trama e seu desfecho não vos conto e convido a todos a leitura dessa interessante obra, que posteriormente foi narrada em filme de Fernando Meireles.
Estamos em outubro de 2020, mas eu pareço ainda estar em março. Não vi o tempo passar dentro de casa trabalhando, assistindo lives e participando de audiências virtuais. Desde então não mais saímos a restaurantes, academia, aulas presenciais, cultos religiosos, nada mais.
Assustou-me a notícia da pandemia e imaginei o cenário caótico de ruas desertas tomadas por lixo, pessoas tentando apanhar gêneros alimentícios, água, enfim qualquer coisa que pudesse servir para a sobrevivência. Felizmente não chegamos a isso, porém, o que se tem visto com a flexibilização são muitos estabelecimentos que não suportaram a crise e permanecem fechados.
É fácil constatar que o mundo globalizado facilitou a comunicação e a inte-ração entre os povos, mas isso também se traduziu na veloz circulação de doenças e outros males. A pergunta que me faço e deixo aqui para reflexão: viveremos outra pande-mia?
Mauro Cesar Silva, nascido em São Sebastião do Paraíso, iniciou os estudos no Grupo Escolar Coronel José Cândido. Graduado em Direito pela UFMG, Especialista em Direito Constitucional pela mesma Universidade, é Juiz do Trabalho no TRT da 3ª Região desde maio de 1993, Titular da 1ª Vara do Trabalho de Nova Lima desde 2015.