GESSO

 É preciso usar corretamente o gesso em lavouras de café

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Por: Redação | Categoria: Agricultura | 25-11-2020 00:10 | 1703
Aspecto da aplicação do gesso, na dose de 26t/ha, no início de ensaio de doses elevadas  de gesso à direta) e trincheiras mostrando o sistema radicular dos cafeeiros, sem  diferenças, nas parcelas com e sem alta dose de gesso. boa Esperança-MG
Aspecto da aplicação do gesso, na dose de 26t/ha, no início de ensaio de doses elevadas de gesso à direta) e trincheiras mostrando o sistema radicular dos cafeeiros, sem diferenças, nas parcelas com e sem alta dose de gesso. boa Esperança-MG Foto: Reprodução

J.B. Matiello e Alysson Vilela Fagundes - Engs Agrs Fundação Procafé e R. Santinato- Eng Agr S e S Cafés

O gesso disponível nas regiões cafeeiras é um subproduto da produção de adubos fosfatados, existindo, também, gesso extraído em minas (Gipsita). O produto é muito abundante e tem, ainda, baixo custo, sendo que até um tempo atrás era de graça. Talvez por isso, seu uso vem sendo  muito difundido, e, no caso da cultura cafeeira, na maioria das vezes, tem sido recomendado indevidamente, sem critérios.

O efeito do gesso (sulfato de cálcio) no solo está relacionado  com o fornecimento de cálcio e enxofre e com o carreamento de bases em profundidade, promovendo a neutralização do alumínio e disponibilizando essas bases em camadas mais profundas. Porém, ele deve ser usado com cuidado, somente quando necessário, observando as indicações da pesquisa. 

Ultimamente surgiram duas recomendações, de um grupo de técnicos, que foram demonstradas inadequadas pela pesquisa. A primeira preconiza o uso de altas doses de gesso, mais de 20 toneladas por ha, como um tipo de irrigação branca. A segunda, mais nova, indica o uso de uma mistura de calcário e gesso para aplicação no sulco de plantio do café.

No caso de uso de altas doses de gesso, os resultados de produtividade, na média de 10 safras, mostraram que não houve melhorias. Ao contrário, provocou grandes desequilí-brios no solo,  principalmente nos primeiros anos e, apesar das correções efetuadas, através de fontes de magnésio (custosas), o equilíbrio não foi totalmente restabelecido.  

No plantio do cafeeiro, diversos ensaios, realizados nas áreas de cerrado ou nas montanhas, na presença de calcário no sulco/cova, o gesso, mesmo em doses adequadas, baixas (100-200 g /cv ou metro de sulco), não acrescento produtividade às plantas. Isso era o esperado, pois o calcário já fornece o cálcio e o enxofre já vem da fonte superfosfato simples (9% de S), normalmente  usada para suprir o fósforo, ou, então, do uso de estercos, muito comuns  no plantio de café ou do uso de sulfato de amônia pós-plantio. Existe, ainda, a regra básica de que o gesso não deve ser usado, de imediato, em solos pobres (pequena saturação de bases), aqueles mais usados para café, já que o carreamento das bases (Mg, Ca e K) em profundidade pode empobrecer ainda mais a camada superficial do solo, onde se desenvolve a maioria das raízes (mais de 80% até 30 cm). É necessário, previamente, formar a fertilidade, para depois deslocá-la para um maior volume do solo. 

Quanto à mistura de gesso e calcário no sulco, os recomendantes dessa prática indicam que o gesso atuaria, imediatamente, levando o cálcio e magnésio do calcário em profundidade. Isso não é verdade, pois os ìons sulfato do gesso vão carrear apenas o Ca e Mg disponíveis e se conhece que o calcário comum disponibiliza esses nutrientes somente a médio prazo. Também, no sulco, o gesso é colocado em profundidade, o que é contraindicado, pois, nesse caso o aprofundamento das bases pode ser excessivo, especialmente em relação ao sistema radicular dos cafeeiros em formação. 

Deste modo, a indicação básica  para uso de gesso é a verificação do Alumínio e do teor de cálcio, na profundidade de 20-40 cm. Caso a saturação de Al na CTC estiver acima de 30% e o solo mostrar a necessidade de Ca, ou seja, a análise de solo evidenciar  teor de Ca menor que 0,5 Cmol/dm3, nessa camada de solo, o gesso pode ser usado.. Pode, ainda, ser utilizado  como fonte alternativa de fornecimento de S e Ca, quando vantajoso, economicamente, em relação ao superfosfato simples, ao sulfato de amônia, a adubos orgânicos  e outras fontes que contenham S como complemento, e em relação ao calcário, isso, sempre, observando o equilíbrio entre as bases. Esse equilíbrio deve ser acompanhado por análises periódicas do solo, a diferentes profundidades.  Apenas para informação, cita-se que, no  Sul de MG, o gesso (com cerca de 30% de umidade) chega na faixa de R$ 180-200,00 por tonelada.

Outra regra é que o gesso  deve ser usado em cobertura, e, ainda, na maioria dos casos,  se recomenda seu uso  em associação com o calcário ou outra fonte de magnésio, de preferência outra fonte de Mg mais solúvel, para evitar desequilibrios. Também, o efeito do gesso  perdura por vários anos, não havendo necessidade de aplicações constantes. 

Por fim, ressalta-se que outros adubos  contendo íons sulfatos, como sulfato de amônia, sulfato de potássio, sulfato duplo de potássio e magnésio, sulfato de magnésio e superfosfato simples, ou íons nitrato, como no nitrato de amônia e nitrato de cálcio ou íons cloreto (como cloreto de potássio), promovem carreamento de bases em profundidade, de forma semelhante ao gesso. O que mais carreia é o cloreto, depois o sulfato e depois o nitrato. Talvez por serem usados muitos fertilizantes com esses ions, a função de carrear bases do gesso vai se tornar desnecessária.