CAFÉ

Cafeicultores pedem força-tarefa para combater os efeitos da seca

Por: Roberto Nogueira | Categoria: Agricultura | 16-12-2020 00:08 | 1137
Produtores e governo estimam grandes perdas nas lavouras mesmo sem saber a real dimensão do prejuízo com o fenômeno climático
Produtores e governo estimam grandes perdas nas lavouras mesmo sem saber a real dimensão do prejuízo com o fenômeno climático Foto: Reprodução

A Comissão de Agropecuária e Agroindústria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) por solicitação de seus membros efetivos realizou uma audiência pública, na segunda-feira,14. Representantes de produtores rurais e parlamentares defenderam a criação de uma força-tarefa para fazer frente aos prejuízos na produção cafeeira do Estado. Conforme informações do setor produtivo a seca deste ano é considerada como a pior em pelo menos 50 anos.

Durante a reunião o principal tópico defendido foi a criação de uma força-tarefa. Os representantes dos cafeicultores destacam que o grupo de trabalho deve ser composto, entre outros, por governo federal e estadual, associações de produtores e instituições financeiras.

Os participantes da audiência enfatizaram que ainda não é possível estimar precisamente o tamanho do prejuízo, mas que ele será grande, podendo atingir até a totalidade da produção em alguns locais. Um relatório preciso sobre essas perdas está sendo elaborado. O documento ficará pronto no fim de janeiro de 2021, de acordo com eles. De acordo com relatos dos produtores a seca e o aumento da temperatura, em agosto, setembro e outubro, fizeram com que os cafezais abortassem as flores.

Segundo o presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), Carlos Augusto Rodrigues de Melo as perdas serão significativas. "O impacto desse fenômeno climático será significativo. Nos últimos 50 anos não constatamos esse ocorrido", acrescentou.

O deputado Antônio Carlos Arantes (PSDB) manifestou preocupação com o fato de que muitos produtores já venderam o café para entregar no próximo ano. "Eles não vão ter como entregar. Como os pequenos produtores vão fazer? Como vão cuidar das suas famílias?", questionou. Ele reforçou que os governos devem atuar para minimizar o problema com, por exemplo, a disponibilização de recursos para custear as lavouras.

O parlamentar contou que, como produtor rural, nunca viu uma seca tão forte quanto a deste ano. Em sua opinião, a queda média da produção deve ser de no mínimo 40%. "Passei por mais de 80 cidades de regiões cafeeiras em Minas. A situação é gravíssima. Até lavouras irrigadas foram afetadas", relatou.

Arantes também exibiu um vídeo em que produtores de cidades como São Sebastião do Paraíso, Jacuí e Monte Santo de Minas relataram o problema e mostraram os prejuízos em suas lavouras. A expectativa de produção era de 35 a 40 sacas de café por hectare, mas a realidade pode ser de uma perda total na produção. Em Monte Santo de Minas, o presidente de associação rural Amarildo Araújo contou no vídeo que haverá perda de 70% da produção. Ele demandou que dívidas com instituições financeiras possam ser parceladas.

Os deputados parlamentares aprovaram requerimentos pertinentes aos assuntos debatidos na reunião, entre eles para visita ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BD MG) para discutir estratégias para viabilizar a renegociação de dívidas de cafeicultores do Sul e Sudoeste do Estado. A autoria é dos deputados Antônio Carlos Arantes, Betinho Pinto Coelho (Solidariedade) e Gustavo Santana (PL).

Funcafé
A secretária de Estado Ana Maria Soares Valentini destacou que foi aprovada pelo Conselho Monetário Nacional a ampliação dos recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) de R$ 10 milhões para R$ 160 milhões, para a recuperação de cafezais danificados. De acordo com ela, é preciso buscar também a prorrogação das dívidas dos produtores. "São muitas as implicações desse problema. A situação vai afetar além das famílias de produtores, o comércio da região e as prefeituras que vão arrecadar menos", afirmou.

O superintendente do Ministério da Agricultura Marcílio de Sousa Magalhães salientou que os recursos do Funcafé vão minimizar o problema, embora não resolvam a situação. Ele destacou a importância do relatório que vem sendo elaborado e que vai dar a conta da real situação, bem como vai poder orientar políticas públicas. De acordo com o vice-presidente de Finanças da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais e presidente da Comissão Nacional do Café, Breno Pereira de Mesquita, o produtor que prorrogar sua dívida com um banco também terá acesso a esse crédito do Funcafé.

O diretor-presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater), Gustavo Laterza de Deus, enfatizou que o café tem papel central na economia do Estado. "São 456 municípios produtores de café e 140 mil famílias trabalhando com o produto em Minas.

Dessas famílias, 124 mil são de pequenos produtores", salientou. Ele acrescentou que a instituição tem dado assistência aos produtores, no sentido de orientar sobre o manejo das lavouras, o seguro agrícola, linhas de crédito e de emitir laudos técnicos de propriedades e de municípios que passaram pelo problema.