POLEPOSITION

Pietro Fittipaldi mostrou suas credenciais

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Cidades | 19-12-2020 10:17 | 956
Pietro Fittipaldi encerrou hiato de  três anos sem piloto brasileiro na F1
Pietro Fittipaldi encerrou hiato de três anos sem piloto brasileiro na F1 Foto: Divulgação

Quem poderia imaginar que uma temporada tão maluca da F1 fosse terminar com um brasileiro participando de duas corridas? Pietro Fittipaldi assumiu o carro da Haas substituindo o acidentado Romain Grosjean sob um mix de tensão pelo pavoroso acidente sofrido pelo francês, no Bahrein, e também de alívio pelo titular do modelo VF20 ter sobrevivido ao impacto e ao fogo. 

Para quem estava sem competir há mais de dois anos, trabalhando apenas nos simuladores da equipe, o momento e as circunstâncias não eram os mais indicados para uma estreia, mas Pietro cumpriu o que se esperava dele. Levou a Haas até a bandeirada dos GPs de Sakhir e de Abu-Dhabi sem cometer nenhum erro e mostrando muita maturidade, o que é característico dos Fittipaldi. 

Não dava mesmo para fazer muito com o fraco modelo VF20, da equipe norte-americana, que na minha leitura é o pior da F1, até mesmo que o FW43 da Williams. E tudo o que estava ao alcance de Pietro, foi feito com competência. 

Pietro foi fiel à Haas e a Haas fiel a Pietro. O neto de Emerson Fittipaldi vivia o melhor momento de sua carreira depois de conquistar o título da Fórmula V8 3.5, em 2016, quando sofreu um grave acidente em Spa-Francorchamps, na Bélgica, numa prova do Mundial de Endurance e fraturou as duas pernas perto de estrear na F-Indy.

Foram semanas intensas de fisioterapias e quatro corridas na Indy sem estar fisicamente em forma e que despertou a atenção de Gunther Steiner, chefe da Haas. Começou assim, no final de 2018, a relação de respeito e profissionalismo entre as partes. Pietro abriu mão de competir em outras categorias para se dedicar ao trabalho de simulador da Haas desde o início de 2019. Ele sabia que embora estivesse freando o instinto de acelerar, por outro era a maneira de estar dentro da equipe e o mais próximo de uma possível oportunidade que pudesse surgir.

E Steiner retribuiu a dedicação de seu piloto reserva dando-lhe a tão esperada oportunidade de competir assim que ela surgiu, ainda que viesse numa situação que piloto nenhum deseja passar, substituindo um colega de profissão acidentado. Felizmente Grosjean saiu apenas com queimaduras leves nas mãos, mas o tempo de preparo para Pietro se ambientar aos vários ajustes e comandos do carro e encontrar o ritmo de corrida para quem estava parado há muito tempo, foi curto. Uma coisa é pilotar no simulador; no carro de verdade é bem diferente, e o saldo que Pietro entregou foi positivo, principalmente se comparado com o companheiro de equipe, Kevin Magnussen, muito mais experiente.

Mas a experiência de Pietro na F1 deve parar por aí, pelo menos por enquanto. Não há vagas disponíveis para o ano que vem e ele negocia para correr na F-Indy em 2021. Não faz sentido ficar mais um ano sem correr à espera de outra oportunidade que talvez possa nem surgir.

A Haas não atravessa bom momento financeiro e dispensou Magnussen e Grosjean para ter no ano que vem os estreantes, Mick Schumacher, filho de Michael Schumacher e atual campeão da F2, apoiado pela Ferrari, e o polêmico Nikita Mazepin, filho de um bilionário empresário russo do ramo de energia, que dias atrás causou repudio da própria Haas e da F1 por cometer suposto abuso sexual contra uma mulher, um ato que segundo a Haas, será tratado internamente pela equipe, mas que no frigir dos ovos não vai dar em nada (infelizmente) porque é o pai do piloto quem vai bancar boa parte das despesas da equipe e é um potencial comprador da Haas. 

O importante para Pietro foi mostrar suas credenciais e seja qual for seu futuro nas pistas nos próximos anos, ele interrompeu o maior hiato que já existiu na F1 sem um piloto brasileiro competindo desde que o seu avô estreou em 1970 até a aposentadoria de Felipe Massa ao final de 2017.

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