Esta crônica descreve memórias do comércio de São Sebastião do Paraíso, polo cafeeiro do Sudoeste Mineiro, focalizando um período diferenciado do desenvolvimento da cidade, que foi a primeira metade do século XX. Nesse contexto de florescimento econômico, em 1910, João Ponte abriu uma elegante loja, instalada à rua Pimenta de Pádua, com a frente voltada para a lateral da Matriz. O variado estoque incluía joias, relógios, livros, artigos de papelaria, material fotográfico, louças, rádios, discos e gramofones, entre outros sonhos de consumo da época. A expressiva produção e exportação de café do município estava proporcionando boas oportunidades de investimento e diversificação na base econômica da região. No ano de 1911, foi inaugurada a estação local da Estrada de Ferro São Paulo e Minas e, três anos depois, chegaria a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro.
Natural da Itália, região de Piemonte, João Ponte chegou ao Brasil, nos primeiros anos do século XX, casado com Dona Palmira Biava Ponte. O casal foi agraciado com duas filhas que se chamavam Edwiges e Adalgiza. A princípio, abriu uma relojoaria na cidade paulista de Batatais, onde morou por alguns anos. Resolveu aproveitar o momento diferenciado de progresso de São Sebastião do Paraíso, onde passou a residir e abriu a Casa João Ponte. A família aumentou com o casamento de Adalgiza com o senhor Napoleão Joele.
Os bons resultados no comércio motivaram o proprietário a montar, em 1918, uma tipografia que ficou conhecida pela qualidade dos serviços artísticos realizados pelo tipógrafo Alfredo Branco. João Ponte foi então nomeado correspondente do consulado Italiano na região e lançou o jornal O Progresso, anunciado como periódico independente. O culto comerciante foi ainda pioneiro na preservação de objetos e documentos antigos. Atividade essa que Napoleão Joele daria continuidade, vindo depois a contribuir na formação do acervo inicial do Museu Municipal de São Sebastião do Paraíso.
O jornal cassiense A Vanguarda, em 28 de julho de 1935, anunciou que João Ponte era o distribuidor exclusivo na região dos "afamados rádios RCA Victor e Philips", estando disponível um variado estoque de material fotográfico para profissionais e amadores. Outro registro da mesma época é uma nota fiscal emitida em 3 de março de 1938, em favor da Prefeitura Municipal, referente a compra de cadernos, livros escolares, cartilhas e cadernetas.
João Ponte estava viúvo quando faleceu, em São Paulo, com 76 anos de idade, no dia 1 de setembro de 1948. Seu corpo foi transladado e sepultado no cemitério municipal de São Sebastião do Paraíso. Antes de encerrar suas atividades, a casa comercial funcionou ainda por mais algumas décadas, muito bem preservada pela família, com as suas reluzentes vitrines, entre realidades e sonhos, que ficaram na memória afetiva de muitos paraisenses.