RECURSOS

Para manter transporte público, município possivelmente terá que desembolsar mais recursos

Por: Nelson Duarte | Categoria: Polícia | 28-04-2021 10:13 | 968
Foto: ASSCAM

A Câmara Municipal realizou no início da noite de segunda (26/4), audiência pública para apresentação de projeto integrado para o transporte coletivo em São Sebastião do Paraíso. Atualmente utiliza-se serviço contratado em caráter emergencial.

O presidente Lisandro Monteiro, esclareceu que a audiência é instruir matéria legislativa. “Reunião pública em que a comunidade é convidada a participar, dar suas opiniões, e ouvir respostas de pessoas públicas, empenhadas em solucionar problemas”, salientou.

O engenheiro especialista em engenharia de transportes, Paulo Rogério da Silva Monteiro, da empresa Locale Consultoria e Engenharia, contratada para assessorar o município na licitação de empresa para prestar o serviço de transporte coletivo, fez a apresentação do projeto.

Lisandro observou que “é de seria de grande importância a participação dos munícipes na audiência, principalmente daqueles que se utilizam do transporte coletivo, ainda que on-line”.

O prefeito Marcelo Morais e secretários municipais participaram da audiência. Ele salientou  que o estudo detalha tudo que precisa ser feito no município. Afirmou que o histórico sobre transporte coletivo em Paraíso “é muito complicado”. Citou que em 2018, ainda vereador, juntamente com Cidinha Cerize e José Luiz das Graças, foi feito levantamento, e cobravam a Secretaria de Trânsito, e a informação que lhes chegava é que estava tudo bem, mas não estava. “A contratação da empresa Locale foi em decorrência dos questionamentos que fizemos”, disse o prefeito.

“Para minha surpresa, quando da transição de governo, verificamos que o município literalmente não estava fazendo nada para resolver a renovação do transporte coletivo”. 

Como o contrato de transporte coletivo terminou logo nos primeiros dias de meu mandado, a única alternativa que tive seria transporte coletivo com subsídio e conseguimos por R$ 35 mil mensais, na esperança que fosse utilizado no mínimo entre trinta a trinta e cinco mil passageiros por mês. O primeiro mês foram apenas 19 mil pagantes, e fomos notificados pela empresa contratada de que ela não tem interesse em dar continuidade na prestação do serviço, explicou. “Onde estão as pessoas que estavam reclamando em redes sociais”, questionou o prefeito.

“Para nossa surpresa, temos conhecimento que veículos por aplicativos chegam aos pontos de ônibus e oferecem para levar passageiros, e o mesmo tem ocorrido com mototaxistas”. Segundo o prefeito, em Paraíso atualmente são aproximadamente 280 mototaxistas. “Dá para tocar o sistema de transporte coletivo desta forma”, questionou, para em seguida acrescentar: “Todos têm que ganhar o pão, mas o que não pode acontecer é o passageiro estar aguardando o ônibus e ser abordado nos pontos, como vem ocorrendo”.

Marcelo enfatizou que ônibus estão vazios. “Se não organizarmos o sistema como deve ser feito, nenhuma empresa virá para Paraíso que ficará sem transporte novamente. Fizemos estudo muito detalhado,  teremos que subsidiar e da forma como está no mínimo R$ 120 mil por mês, estudo técnico não é político.  Da forma como está não dá sequer para licitar e pode significar mais seis meses de contrato precário”.

O vereador Lisandro Monteiro questionou Marcelo Morais se o próprio município poderá assumir o transporte coletivo. “Pode, mas dependerá da compra de ônibus, contratação de motoristas, gastos com combustíveis e manutenção que poderá gerar despesa de no mínimo R$ 150 mil ao mês, isso se o município conseguir uns R$ 2 milhões para comprar os veículos todos de uma vez”, ponderou o prefeito.

O engenheiro Paulo Rogério explicou que seria apresentado o resumo de tudo que foi pensado, discutido, com o intuito de buscar alternativa para o serviço em Paraíso. “A Lo-cale olha para o atual e o anterior, mas para pensar no novo serviço, não fazendo nenhum juízo de valor”.

Lembrou que a pandemia dificulta para todo mundo, e o transporte coletivo foi fortemente afetado. Em alguns municípios, conforme disse, a recuperação tem sido mais rápida, mas o tombo foi forte para todo mundo. “Em Paraíso o sistema foi sendo encolhido  na tentativa de se ajustar a oferta àquela demanda que estava acontecendo, justamente para se evitar a questão do custo excessivo”.

“Temos que entender ser momento trágico, temporário, extremo, em que temos dificuldade em olhar para frente de forma quantitativa. O diagnóstico foi feito baseado numa situação pré-pandemia, aquilo que esperamos ser o potencial de Paraíso, por ser o que acreditamos ser o pós-pandemia. Pode demorar um pouco, mas é esse ponto que temos a discutir”, observa.

O engenheiro enfatiza que nenhum número que temos de março de 2020 até hoje é válido como perspectiva de nada. Temos que focar em propostas de estruturação para o município.

Conforme dados apresentados, em 2018 a média era de um milhão de passageiros por ano. Em agosto de 2019 houve reajuste tarifário e com isso diminuiu a demanda. “Isso mostra que por algum motivo a população paraisense é sensível ao valor da tarifa”, observou.

No início de 2020, segundo Paulo Rogério, o gráfico continuou descendo. Foi feita avaliação mês a mês de 2018 a 2020, e o número transportado hoje está muito abaixo. A demanda média era na casa de 36 mil está em 19 mil, e o sistema encolheu ainda mais. O engenheiro opina que a  oferta de serviço terá que crescer bancada por algum dinheiro que não existe, para a demanda passar ocupar esse espaço da oferta que foi criada.

Se for esperar a demanda crescer para ocupar os ônibus que aí estão, não crescerá nunca, ainda mais  por estar em época de isolamento social. Todos querem os ônibus rodando, acontece que a demanda caiu e ninguém quer pagar a diferença, salienta.

O estudo diagnosticou que algumas áreas eram bem atendidas, pelo transporte público, outras, nem tanto. O sistema encolheu e isso pode tirar credibilidade sobre o serviço prestado. “Quando você não pode contar com o transporte, se você tem uma solução, você a utiliza”.

No final do ano passado foi postada pesquisa pela Locale. Uma pergunta era se após a pandemia o entrevistado iria usar, mais, menos ou o quanto vinha utilizando o transporte coletivo. A maior quantidade disse que continuaria, outra parcela afirmou utilizaria menos, e outra não mais, o que no ponto de vista da Locale, reflete o serviço que até então vinha sendo prestado.

Hoje em dia não existe mais a figura o usuário “cativo”, tendo em vista opção para muitos, mas não para todos. “Se o transporte deixar de existir uma parcela da população será muito prejudicada, e é pensando nela que temos que achar uma saída”, ponderou.

Faria usar mais o transporte tarifa mais barata, mais conforto, mais horários, e cumprimento do quadro horário. São situações que um bom projeto consegue alcançar.

Paulo Rogério apontou que para a utilização da estrutura do transporte coletivo praticado anteriormente o custo mensal estará em torno de R$ 345 mil ao mês, e para que a tarifa da passagem permanecer em R$ 3,45 haverá um déficit de R$ 200 mil. “O custo é alto, demanda é baixa e o serviço não pode parar e a conta tem que fechar. Reduzir o serviço prestado é um risco muito grande para a recuperação da demanda”, salientou.

Segundo o parecer da Locale, não há outra solução a não ser licitar um serviço fortemente subsidiado no princípio, porque se não for garantido serviço impecável a população não voltará a utilizá-lo. “Não dá para fazer meia boca”. Enquanto a população não voltar acreditar que o serviço é melhor que o anteriormente prestado, ela vai ser cada vez mais resistente, e isso tem ocorrido por todo o país. Ninguém sabe atualmente qual será o ponto de equilíbrio.

A estratégia é subsidiar o serviço a partir de demanda mínima garantida ao empresário que assumir o transporte, mas o contrato poderá ser alterado a qualquer tempo. Ele menciona ainda o chamado “subsídio por desempenho”, salienta.

A consultoria também aconselha cobrança de tarifa módica, porque quanto menor, maior número de pessoas irão utilizar o serviço, e a empresa ganhará pela quantidade, não pelo preço da tarifa das passagens.

Marcelo de Morais, secretários José Henrique Caldas de Pádua (Planejamento e Gestão), João Paulo Alves Bueno (Segurança, Trânsito, Transportes e Defesa Civil), engenheiro especialista em engenharia de transportes, Paulo Rogério Silva Monteiro da empresa Localle, a engenheira, Walkíria de Pádua Fieira, gerente de Trânsito, chefe de departamento  Giovani Carmo-zini.