VÍTIMAS GOLPE

Golpe da ‘OLX’ faz vítimas em Paraíso

Por: João Oliveira | Categoria: Polícia | 19-06-2021 10:38 | 2288
Foto: Reprodução

A aquisição de um veículo usado ou seminovo, que muitas vezes pode parecer um negócio vantajoso em função de fatores como valor mais em conta, menor desvalorização e documentação mais barata passou a ser uma atividade de risco, principalmente quando o mercado é a internet. Tem sido cada vez mais comum a ação de estelionatários agindo atrás das redes sociais e aplicando golpes diariamente. Em São Sebastião do Paraíso já existem algumas vítimas deste tipo de transação em ocorrências que segundo a polícia é difícil de investigar apesar de estar se tornando cada vez mais comum.

Nesta semana o Jornal do Sudoeste foi procurado por uma das vítimas deste tipo de golpe. O homem que a reportagem irá identificá-lo apenas por Alex, de 35 anos, se viu envolvido numa situação desagradável quando tentava vender seu veículo com um anúncio na internet. 

“Postei meu carro para venda e uma pessoa entrou em contato comigo querendo comprar o veículo e dizia que iria repassá-lo para outra pessoa, com quem ele estava negociando a compra de um terreno. Me foi pedido para não informar o valor da compra, pois, estaria repassando o carro por um valor maior”, conta.

O suposto comprador chegou a utilizar fotos do carro e criou um anúncio falso na internet e conseguiu atrair um comprador. Na propaganda conforme Alex, o carro que vale R$23 mil foi anunciado por R$17 mil. O estelionatário ao ver o interesse da outra pessoa na aquisição, informou que o carro era dele, mas que o mesmo estaria com seu primo, no caso o próprio Alex. O interessado chegou a ir atrás dele para ver e conhecer o carro anunciado. A vítima chegou a ir a um mecânico para fazer uma análise.

Ato contínuo o estelionatário combinou de irem ao cartório, preencher o recibo e enviar uma foto do documento, para que fosse feito o pagamento em dinheiro e na hora. No entanto, foi pedido ao comprador que fosse dado um sinal, e a vítima já havia depositado R$ 13 mil antes do vendedor ter ido ao cartório e posteriormente repassou mais R$ 4 mil.

“Só não perdi o carro porque não entreguei ele enquanto não fosse feito o depósito em minha conta, o que não ocorreu. No entanto, o comprador perdeu os R$ 17 mil que depositou, ficou com meu recibo preenchido e reconhecido firma em cartório”, conta. Alex disse ainda que a outra vítima agora o ameaça de levá-lo à justiça para que ambos dividam o prejuízo.

Ao ir à polícia para fazer o Boletim de Ocorrência, Alex disse ter sido informado que este tipo de situação está ocorrendo com frequência na cidade. “Fiquei sabendo de vários casos envolvendo a venda de carros, motos e até caminhão”, disse. Entre as vítimas está até mesmo um familiar de um funcionário na delegacia, que foi envolvido em situação semelhante, relata. “A sorte dele é que conseguiram rastrear o dinheiro e talvez consigam o ressarcimento”, comenta.

Na sexta-feira,18, Alex falou com a reportagem e mencionou como está se sentindo depois de todo o acontecido. “É uma situação constrangedora. A gente não dorme direito, eu fico revoltado com isso. É um caso em que a gente é passado para trás mesmo, você se sente desmerecido, nem sei se é esta a palavra. Não desejo que ninguém passe por isso. Graças a Deus não tive prejuízo material e nem financeiro até porque eu não entreguei o bem na hora, mas infelizmente a outra vítima teve o prejuízo de R$ 17 mil”, lamenta.

Depois de tudo ocorrido Alex faz um alerta para as pessoas que estejam vendendo ou comprando que fiquem atentas a este tipo de anúncios na internet, principalmente. “Observem o anúncio com preço mais em conta do que o de mercado e desconfiem. Sempre que o negócio envolver mais de uma pessoa, prestem atenção, fiquem atentos, porque o principal jeito deles é querer envolver mais gente, duas, três ou quatro pessoas, mais vítimas e o fraudador”, descreve.

Outra percepção observada é que o estelionatário age de forma a evitar com que as vítimas não se conversem. “Eu não conversei com a outra parte, simplesmente mostrei o carro, não falamos em valores, os negócios eram tratados só com o golpista. Se tiver três pessoas, que elas todas possam estar juntas e se interagirem, conhecerem os termos da negociação”, acrescenta.

Outra dica segundo ele é “tomar cuidado com negócio feito pela internet, ou pelo WhatsApp, ver em qual nome está o carro, atentar para a conta que vai ser feito o depósito. No meu caso o golpista passou três contas com nomes distintos com quem estava havendo a negociação”, destaca.

As duas partes não conheciam o golpista que se identificou apenas por Sebastião. “Provavelmente é um nome fictício, é preciso tomar muito cuidado com isso”, relata.

Alex disse que agora sua intenção é alertar outras pessoas para que não se envolvam em situação semelhante. “Depois que aconteceu comigo, fiquei sabendo que no mesmo dia aconteceu outro caso. O vizinho do meu pai comentou no dia seguinte, teve outra situação parecida, com a mesma história, de que estava comprando um terreno aqui em Paraíso. Não sei quem é a pessoa, se soubesse iria atrás para ver se é o mesmo telefone, e verificar se o golpista é o mesmo, tudo indica que sim”, completa.

Uma vez esclarecida a questão o objetivo é evitar novas vítimas. “Quanto mais pessoas conhecerem estas histórias que dificulte a atuação para estes bandidos”, finaliza.

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Polícia Civil de Paraíso investiga vários casos, mas esbarra nos artifícios de estelionatários
O delegado de Polícia Civil, Marcos Fernando Moreno, está à frente das investigações do chamado “Golpe da OLX” que tem feito cada vez mais vítimas em Paraíso e cidades da região. Esta prática criminosa vem crescendo nos últimos anos envolvendo a compra e venda de veículos a partir de fotos extraídas de um site de venda.

Segundo o policial somente em São Sebastião do Paraíso, estão sendo registradas cerca de duas reclamações por semana. “As vítimas podem ser pessoas de qualquer cidade, em todo o Brasil, que estejam anunciando o veículo online, assim como aquelas que estejam comprando”, afirma.

De acordo com Marcos Moreno este tipo de golpe tem ocorrido com frequência em várias plataformas digitais e que na verdade é classificado como um crime de estelionato previsto no artigo 171, do Código Penal. O criminoso encontra o anúncio na internet e se apodera das fotos, posta um novo anúncio, com um valor atrativo, abaixo da tabela como se esta pessoa estivesse vendendo o veículo.

Uma pessoa é atraída faz o contato e inicia-se as negociações. Por fim, o falso vendedor diz que está vendendo o carro para um cunhado ou outro familiar em troca de comissão, ou para receber uma dívida. “Temos, portanto, três pessoas envolvidas, o vendedor, o comprador e o golpista. Vale relembrar que vendedor e comprador são duas pessoas de boa-fé e ambos serão vítimas do golpe”, esclarece.

O delegado explica que os falsários utilizam de vários expedientes para ludibriar as vítimas. “São utilizados de documentos falsos, contas bancárias com documentos falsos. Hoje em dia é muito fácil abrir uma conta no banco com informações improcedentes. Na maioria das vezes só descobre a verdade depois do golpe consumado”, esclarece.

Marcos Moreno cita ainda a necessidade de a polícia ter equipes especializadas para atuar com este tipo de situação o que possibilitaria resultados mais rápidos e objetivos.

O policial dá dicas para que outras pessoas não caiam neste tipo de situação. “A recomendação é para que nunca se efetive negócio ou pagamento para a compra ou venda que envolva intermediários, a não ser que todas as partes estejam juntas presencialmente. Do contrário negocie diretamente com o comprador e no caso de concretização do negócio que o pagamento seja feito em conta do vendedor ou a pessoa a qual o veículo esteja vinculado”, acrescenta.

De acordo com Marcos Moreno, é importante avaliar também que a venda deve ocorrer com valor de mercado. “Existe o ditado, quando a esmola é muita, há de se desconfiar de valores que estejam fora de tabela”, completa.

Ainda conforme o delegado, como este tipo de negociação pode ser feita de diferentes lugares, nem sempre a investigação vai acontecer a partir de Paraíso. “Pode ocorrer de termos de outras cidades onde foi feito o pagamento, onde foi sacado o dinheiro em praças diferentes, o que dificulta ainda mais a apuração e a identificação dos autores deste tipo de crime”, finaliza.