PESQUISA

Paraisense residente na Itália anuncia implantação de centro de pesquisa de primeiro mundo em Paraíso

Por: Nelson Duarte | Categoria: Saúde | 06-11-2021 09:35 | 6464
Pesquisadora paraisense Patrícia Guedes Braghine
Pesquisadora paraisense Patrícia Guedes Braghine Foto: Divulgação

A pesquisadora paraisense Patrícia Guedes Braghine, graduada em Física pela Universidade Federal de São Carlos, há alguns anos fundou na Itália a empresa Quantiqun que tem desenvolvido algumas linhas de pesquisa, direcionadas para diagnósticos iniciais de casos de doenças. Ela queria ir além, e incorporou pesquisas de sequenciamento genético através do DNA, que identificam doenças raras. Tratam-se de estudos que ainda não foram desenvolvidos no Brasil e estão em fase embrionária no exterior. Patrícia em entrevista ao Jornal do Sudoeste anunciou que nos próximos meses um centro de pesquisa da Quantiqun será implantado em São Sebastião do Paraíso.

Em 2017 juntamente com o pesquisador Filippo Ghiglieno ela desenvolveu um equipamento capaz de detectar a presença de células cancerígenas na circulação sanguínea, registrado em agências reguladoras no Brasil com a patente “Teste diagnóstico portátil para qualificação e quantificação de diferentes tipos de células e uso”. O IG11, como foi batizado, além de detectar a presença de células cancerígenas na circulação sanguínea e outras doenças, prima-se pela agilidade, de vez que é capaz de enviar o resultado do exame em até 15 minutos, para o paciente, por aparelho celular ou e-mail.

Patrícia quis ir além do IG11, e de lá para cá tem desenvolvido algumas linhas de pesquisas sempre direcionadas para diagnósticos iniciais de casos de doença, e apresentou três delas para registro de patentes, duas no final de 2020 e uma neste ano, e incorporou na Quantiqun pesquisas de sequenciamento genético.

“Com o IG11 consigo ver como está atualmente o sangue, mas eu queria ter a chance de prever e detectar estágio inicial, e o que me pareceu mais sensato foi olhar para a parte genética para analisar se havia ou não, predisposição de uma pessoa para desenvolver a doença. Às vezes a pessoa tem uma mutação que poderia significar doença, mas não está expressa. Então, são sequenci-ados o genoma e também o exoma, que corresponde a 2% do genoma”.

Em Paraíso vamos desenvolver estudos que ainda não foram desenvolvidos em território nacional e que estão em fase embrionária no exterior. Poder fazer isso é motivo de grande felicidade. Na realidade essa decisão já foi tomada, enfatiza Patrícia Guedes Braghine.

“Decidi criar um centro de sequenciamento em São Sebastião do Paraíso que tem posição estratégica, profissionais supercompetentes. Foi pensado e planejado o sequenciamento inicial de quatro mil pessoas, que é um dos maiores do país, justamente para entender o perfil genético, para estudar, avaliar se há alguma doença que se desenvolve mais nesta região ou se é doença genética, porque quando você migra, uma população, fica muito isolada, ela pode desenvolver doenças características daquele grupo. Não apenas oncológicas, mas outras dentre elas esclerose, autismo, síndrome de asperger. Além desse grande sequenciamento, há algumas pesquisas que vão ser desenvolvidas exclusivamente no centro de genética da Quantiqun de São Sebastião do Paraíso”, salienta.

A implantação, conforme explica deverá se iniciar nos próximos meses. A fase um, será com o sequenciamento, progride para o tratamento dos dados brutos na fase dois. A fase posterior (terceira), consiste na interpretação das informações geradas e a comparação dessas com valores de referência, explica a pesquisadora, ao salientar que o centro será implementado entre as fases dois e três.

Patrícia Braghine esclarece que existem exigências diferentes de equipes, fundamentalmente a área de formação. Na fase dois ocorrerá a contratação daqueles formados em biotecnologia, biologia, técnicos de TI. Na fase três serão contratados aqueles com formação em medicina ou alguma especialização em genética. Em paralelo iniciaremos a contratação de técnicos de eletrônica e físicos. Já na fase três serão compartilhadas informações para que possam ser convertidas em ações que beneficiarão a comunidade, e ajudarão a implementação de políticas públicas voltadas à prevenção de doenças, identificação de casos de doenças raras, etc.

“É uma iniciativa privada, não é uma empresa pública, universidade, não é uma farmacêutica, mas uma empresa que leva muito a sério pesquisas, de tentar entender, interferir. Levo a sério porque sinto na pele a parte do paciente, então fiz disso meu propósito de vida, focar em prevenção, diagnósticos, como as doenças evoluem, como cada corpo evolui”.

Seus contatos para a implantação do centro de pesquisa da Quantiqun se iniciaram com Ricardo Almeida (Laboratório Biolabory). Temos conversado muito, foram várias reuniões, e é uma das pessoas que têm sido fundamentais, diz.

“Entrei também em contato com a Prefeitura para expor esse projeto e verificar o que poderíamos fazer em conjunto. É importante produzir dados para pesquisa em humanos, também trazer benefícios que impactassem as pessoas. Conversei para ver como o resultado dessa pesquisa poderia ser utilizado em benefício da população. O prefeito Marcelo Morais e o vice Dr. Daniel se mostraram interessados no desenvolvimento de política pública que possa dar prosseguimento nessa parte de prevenção de detecção de doenças no início”.

“A Quantiqun são 50% pesquisas, e os outros 50% produtos relacionados à pesquisa para nos permitir entender o que está naquela informação e entregar para os médicos, informações que tenham sentido. Falar como o paciente vai reagir de acordo com cada medicamento. Havia casos em que pacientes tinham que retornar ao médico para reajustes de doses de medicamentos e a gente consegue aumentar a precisão, então o médico olhando através do relatório da Quanti-qun consegue entender se aquele paciente terá reação ou não. Sempre com o olho em trazer benefício em produzir informação que não seja ruído, e sempre levo isso em consideração, não quero levar ruído para o médico, mas colocar uma ferramenta que ele possa utilizar. O microbioma é algo supernovo que ele pode utilizar, não é software. É legal muito profissionais utilizarem softwares para identificação disso ou daquilo, mas entendo que basear-se somente em algorítimos de diagnósticos é insuficiente, nesse caso específico. É válido mas tem que ser acompanhado de exames de sequenciamento”

Patrícia Gudes Braghine salienta que em Paraíso há pessoas com cabeças abertas às novas técnicas, e que podem melhorar a vida de quem mora no município. Há um senso de comunidade muito forte, é um local perfeito e propício para receber um centro de pesquisas, e não é algo complicado.

O plano não é que sendo sequenciadas quatro mil pessoas gerar dados, ir embora de Paraíso.  É continuar e crescer, virar um polo de referência. Belo Horizonte, São Paulo têm empresas muito grandes, falta alguma coisa no Sudoeste e pretendo fazer com a Quantiqum, em Paraíso preencha esta lacuna, conclui.