Todos nós temos um quarto em nossa alma onde são colocadas nossas más recordações. Os norte-americanos e europeus falam em sótão, que é uma espécie de parte utilizável abaixo do telhado. Nós, como não temos sótãos em nossas casas, falamos em porão.
Seja como for, é um aposento escuro e sem ordem, onde guardamos frases, episódios inteiros que protagonizamos ou que presenciamos, fotografias, músicas e até gostos e odores. Uma espécie de depósito formado desde nossa mais tenra infância, onde fomos jogando as partes indesejáveis de nossa vida, não desejadas mas muito fortes, tanto que não conseguimos esquecê-las.
Já passamos (especialmente aqueles que somam mais anos) por muita coisa, nem sempre agradável, nem sempre bonita. Se em certos momentos fomos heróis, em outros fomos bandidos, fazendo coisas das quais não nos orgulhamos e que fazem parte do acervo do quarto das sombras.
E quanto mais recalcadas, mais vívidas são essas recordações e, como partes não desejadas de nossas personalidades, esforçam-se para vir à tona e não raro tentam boicotar nossos esforços. Como se dissessem:
— Você quer dar uma de bonzinho, mas, olhe eu aqui!
O Dr. Deepak Chopra, médico indiano radicado nos Estados Unidos, e duas co-autoras, no livro "O Efeito Sombra", fazem um estudo detalhado da ação de nossas sombras em nossas vidas, e dão uma receita muito interessante: iluminar esse quarto escuro, mostrando compaixão para conosco mesmos.
Rever episódio por episódio que ali estão, mesmo que isso não nos agrade, tendo sempre em mente que ninguém é perfeito. Que somos humanos, falíveis e que, assim como mostramos compaixão para com os erros alheios, é justo que adotemos para conosco a mesma medida.
Perdoando-nos e aceitando-nos como realmente somos, tornar-nos-emos seres humanos mais completos, mais equilibrados e também mais compreensivos para com as falhas alheias.