AGRONEGÓCIOS

Diretor da Safras & Negócios analisa atual quadro e perspectivas para o preço do café

Por: Nelson Duarte | Categoria: Cidades | 14-03-2022 10:04 | 543
Diretor da Safra & Negócios, Gilson A de Souza
Diretor da Safra & Negócios, Gilson A de Souza Foto: Reprodução

Nas últimas semanas houve uma reviravolta em relação ao preço do café. O atual quadro e perspectivas para comercialização dessa commoditie foi analisada pelo diretor da Safra & Negócios, Gilson A de Souza para o Agronegócios Jornal do Sudoeste.

Nesse primeiro trimestre do ano, tivemos volumes de negócios realizados interessantes. A Bolsa de Nova York chegou próximo de 2,60 cents de dólar, número que há mais de 15 anos não cotava, e o mercado em real chegou a operar a R$ 1.650,00 para cafés tipo 6, bebida dura, salienta.

Esse movimento conforme explica Gilson Souza, vem, e foi marcado principalmente pela escassez no curto prazo. “Sabemos que as estiagens que ocorreram nos anos de 2020 e 2021, fizeram com que a safra brasileira tivesse uma quebra acentuada, somado com o problema climático que foram geadas no parque cafeeiro em algumas regiões no Brasil. Isso fez com que acelerasse mais ainda o preço para situações bem acima do esperado, e que agora se observa outro movimento”. Ele enfatiza que o mercado nesse movimento de alta não teve vendas expressivas, só aconteceram as vendas do dia a dia.

Produção

“O mercado no segundo semestre do ano passado apresentou movimento bem agressivo em função da incerteza da safra de 2022, essa que se inicia em 60 dias. Vários órgãos internacionais (bancos e empresas multinacionais) informaram seus números de produção internacional do café. O que mais foi, e ainda é comentado é da Organização Internacional do Café (OIC), que nem tanto o setor comercial ou privado, quanto o setor de produção também imprimem no mercado. A OIC ficou “no meio do caminho”, bem como o Ministério da Agricultura dos Estados Unidos”, explica.

Sobre a produção mundial de café, há quem diga que a disponibilidade irá variar entre 173 a 178 milhões de sacas. A produção e consumo em linha, e o estoques em queda de forma acentuada mantem a oferta e demanda mundial.

“A tendência das safras para 23/24 e 24/25 com as condições climáticas aqui no Brasil e nos demais países produtores, percebemos uma evolução, recomposição do parque cafeeiro, chegando a safra não tão abaixo que foi a última, ou seja, a de 2021, porém, há expectativa que oferta e demanda continuem em linha. No entanto começam a sair expectativas e números de safras para 23, é justamente o ciclo de crescimento que é agora em maio de 2022. Tudo indica que, com que as lavouras recuperaram e cresceram, para safra 2023 tenderá a ter grande safra, senão recorde aqui no Brasil, e isto se estende a outros países produtores, da América Central, principalmente, uma evolução em suas produções. Consequentemente isso poderá afetar o preço, em função da oferta e demanda para o próximo fluxo de 24”, analisa Gilson Souza.

Outro momento que deve ser levado em consideração, de importância muito grande nesse momento, é a questão não apenas da pandemia, que a tendência é se estabilize nesse ano de 2022, e possivelmente 2023 o mundo terá disponibilidade de vacinas para sua totalidade, consequentemente não teremos problemas graves, de ordem tão calamitosa. Outro fator no curso que vem atrapalhando e traz preocupação acentuada no mundo todo, é a guerra entre Rússia e Ucrânia, diz o diretor da Safra & Negócios.

A alta do petróleo e seus derivados fez com que o mercado de commodities na área de energia ficasse muito volátil, acima das médias conservadas em períodos anteriores. Acredita-se que isso deva se estender por mais algum tempo, e o mercado a cada semana, a cada notícia, gera volatilidade, movimentos agressivos em seus preços. O café é afetado de forma direta, como já foram afetados a soja, trigo e o milho, não esquecendo também a área de fertilizantes.

Gilson pondera que a curto prazo o momento é de escassez no café, mas olhando a médio e longo prazo a situação deverá se estabilizar. “Os fundos mudaram suas mãos, ou seja, saíram da posição café, e estão migrando para outras commodities que são mais críticas que café, provocando grandes volatilidades “alta”, essa derrocada, queda de mais de 4 mil pontos entre a máxima e preço atual no mercado internacional, caindo para a casa dos 222 – 223 cents.

Outro ponto destacado pelo diretor da Safra & Negócios é que tendência de mercado do café em função da inversão (preço à vista está mais caro que o futuro), o mercado vai e deve em breve voltar ao equilíbrio, ou patamar muito semelhante, isto porque as previsões e expectativas para os próximos dois a três anos, onde o mercado olha de forma muito cuidadosa, e dedica suas operações para esse período, terá com que as bases de preço, voltem a se estabilizar.

Gilson prevê que “não haverá grandes movimentos agressivos para cima, no preço do café devido ao conflito entre Rússia e Ucrânia. Poderá haver, isoladamente algumas situações, mas a médio e longo prazo café é, sim, produto de grande interesse para especula-dores, mas não de estruturações de longo e médio prazos”.

O café encerra o ciclo de grandes demandas para fertilizantes que voltam a ser utilizados em outubro, novembro, então acredita-se que até lá a estabilidade em relação a tratos culturais e suporte às lavouras não tenham tantos problemas.

Outro fator que para nós é muito positivo, e vem acontecendo, é quanto ao câmbio. A geração de inflação no mundo com a guerra da Rússia e Ucrânia deve provocar aumento nas taxas de juros, e isso faz com que o mercado financeiro também tenha mudanças acentuadas. O Brasil deverá continuar a ter a injeção de dólares. Tivemos já no primeiro trimestre o equivalente ao que foi o ano de 2021. Temos hoje o câmbio próximo de R$ 5,00 com tendência de ficar abaixo desse valor. Consequente isso fará para nós no Brasil, situação até favorável, e o mercado deve se aquecer internamente, apesar de ser dinheiro de especuladores, mas se as coisas não Europa continuarem como estão, a América do Sul, e nesse contexto o Brasil passa a ser um país de investimentos, diz Gilson Souza.

Todavia, ele complementa que “Isso afeta diretamente o preço do café, como já afetou e afetará mais, se o câmbio vier a cair. O preço em reais, saiu de R$ 1.600 – R$ 1.650 para R$ 1.250, (quinta-feira, 10/3), com poucos negócios realizados e liquidez limitada. Isso preocupa um pouco, porém acredita-se que o mercado possa ficar lateralizado até que a situação no piore em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia.