Sabemos que o Brasil é o 16º país mais violento do mundo, superando outras nações como Guatemala, Colômbia e República Centro Africana. Estes índices alarmantes de violência são combatidos pelo Estado através dos profissionais de segurança pública.
Os policiais, em especial das Policias Militar, Civil e Penal são constantemente submetidos a pressões em seu dia a dia.
A cobrança da sociedade é implacável e as críticas muitas vezes ambivalentes: "A polícia é ótima somente até o cidadão ser abordado por qualquer razão a qual ele considere injusta".
A partir daí começam as ofensas, os ataques aos profissionais e as reclamações na cadeia hierárquica de comando, as quais muitas vezes são punitivas por natureza e trazem um enorme prejuízo ao ambiente de trabalho, ao policial e a todos nós.
Vejamos: o agente de segurança também é uma pessoa e possui os mesmos sentimentos e necessidades de afeto e reconhecimento que qualquer outro cidadão. Eles são pais, mães, pagam contas, possuem problemas e preocupações exatamente iguais as suas e as minhas.
A diferença é que são condicionados diariamente a não mostrarem fraquezas, serem resolutivos e personificarem a lei. O sofrimento então fica calado, latente no interior e muitas vezes não detectado através do que foi dito ou não observado. É quase um tabu falar sobre as angústias e dificuldades no âmbito da saúde mental, apesar de que nos anos recentes, vem ocorrendo um grande avanço neste sentido.
A sociedade entende que o policial não pode demonstrar fraqueza, mas qual é o amparo que ela dá aos policiais para que eles continuem trabalhando?
Sofrem risco de morte, lesões graves e ameaças aos próprios familiares por simplesmente levantarem para ir trabalhar. Sentem o peso de transtornos mentais ocupacionais sem poder exteriorizar ou pedir ajuda com medo de represálias e julgamentos moralistas. Isso seria justo para você?
Como podemos esperar que todos policiais trabalhem sem prejuízo à saúde mental, quando sabemos que alguns elementos e setores da sociedade os criticam diariamente? Por serem combativos, por serem excessivos, e as vezes até por "modinha"? Acorda! Estes profissionais estão lidando com violência, com criminosos equipados e covardes. Você levaria flores para uma abordagem a bandidos armados?
O policial não é pago para fazer carinho, ele não é pago para resolver os problemas que o indivíduo criou em seu microambiente, muito menos para escutar que "polícia não presta" ou para ser humilhado por alguém que se acha acima das regras por ter dinheiro ou status.
Ele é pago é para fazer valer a lei, para prevenir ou identificar a quebra dela e agir, visando manter a sociedade de bem protegida da marginalidade e da criminalidade que trouxe o Brasil à piores posições que países em guerra civil no ranking mundial.
Mas vamos aos números: policiais militares tem quatro vezes mais chances de cometerem suicídio do que um não policial.
No estado de São Paulo, por exemplo, um policial militar tira sua própria vida a cada 15 dias.
Entre os policiais civis e militares, um por dia em 2017 foi vítima de suicídio. Em 2019, morreram mais policiais por suicídio do que em confronto em serviço.
Existe uma complexidade de fatores que agravam a saúde mental destes profissionais, entre elas o estresse do trabalho, o convívio rotineiro com situações de perigo e de morte, trabalho com carga horária longa e muitas vezes sem períodos fixos, falta de lazer, privação de sono, preocupações com as repercussões sociais e punitivas de suas abordagens ou prisões no exercício da função, acesso fácil a armas de fogo e outros fatores.
A depressão, a ansiedade, a síndrome de Burnout ou esgotamento, além do Estresse Pós-Traumático são marcantes neste grupo de profissionais, que levam a vastos prejuízos no lar, na família e na interação social, agravando a vida do policial e consequentemente aumentando o risco de suicídio e o destemperamento em situações de rotina.
Não cometam o erro de achar que todos os indivíduos por aí nas ruas são bons e não existe o mal na sociedade. A maioria de pessoas são boas, mas existem psicopatas criminosos que não hesitam em matar por qualquer motivo, de forma torpe e maldosa, existem aqueles que se aproveitam covardemente da vulnerabilidade de pessoas de bem, entre outros tipos de meliantes inescrupulosos. Por isso precisamos da polícia, para proteger nossa segurança e nossa liberdade.
Não seja aquele cidadão que denigre a imagem da polícia constantemente por aí e que quando se torna vítima de um crime, liga desesperadamente para o 190.
Eles irão ao socorro porque escolheram o papel de protetores da sociedade e este é o trabalho. Mas sempre fica feio para o "valentão das redes sociais", que acreditava que era bonito ser bandido e que policial merece ser tratado como um cão. Valentia zero, covardia 10. Talvez, ao menos o cidadão aprenda a respeitar quem ele andou apedrejando, quando entender o que é se tornar vítima de criminosos de verdade.
Precisamos tratar o policial com dignidade, pois ele está na rua para proteger a sociedade e consequentemen-te nossas famílias.
Ter empatia com o ser humano que está na farda e principalmente respeito por quem exerce o trabalho sob pressão e risco de morte.
Se você conhece, é colega de trabalho ou familiar de algum agente de segurança, o lembre que as vezes precisamos, em algum momento desabafar. Lembre-o (a) que a ajuda psiquiátrica profissional é de suma importância para mitigar ou evitar desfechos graves como suicídio, incapacitação ao trabalho e principalmente para continuarem fazendo o primordial papel de proteger nossas famílias, nosso conjunto de lei e nossa sociedade.
Profissionalmente estou orgulhoso em ser parte da mudança ao prover atendimentos para os planos de saúde da Polícia Militar e dos Bombeiros da região em nosso consultório. Não deixe seu tratamento para última hora.
Até a próxima na coluna Espaço Saúde aqui no Jornal do Sudoeste.
Dr. Luiz Gustavo Guedes
Médico Psiquiatra
CRM/MG 63277
RQE 50446