O Brasil tem a chance de voltar a vencer um campeonato em categoria que é o último degrau do caminho natural da escalada para a F1. Felipe Drugovich pode sacramentar a conquista do título hoje, na corrida sprint da F2 em Monza. Ou amanhã, na prova longa da rodada dupla. E se não der, ele ainda terá mais uma chance em Abu-Dhabi.
Ele só precisa de mais 10 pontos para garantir matematicamente o título contra o vice-líder, o francês, Théo Pourchaire. A diferença entre eles é de 69 pontos e há 78 em jogo. Desde o ano 2000, com o mineiro Bruno Junqueira, o Brasil não ganha um campeonato em categorias ante-sala da F1. Na época chamava-se F3000, que depois deu lugar à GP2 e a partir de 2009 transformou-se na F2, categoria que na verdade foi criada em 1948, antes mesmo da F1.
Mas a situação de Drugovich é um tanto inglória pelo fato de estar tão perto e ao mesmo tempo distante da condição de titular da F1. Perto porque em se concretizando a conquista do título, o caminho natural seria a própria F1, e distante porque no momento não há vagas disponíveis no mercado de pilotos, e Felipe é um caso raro de piloto que não faz parte de nenhum programa de formação de pilotos das equipes de F1.
Se por um lado isso dá a vantagem de Drugovich estar livre para negociar com qualquer equipe, por outro, as chances diminuem na medida em que a maioria das equipes tem em seus plantéis vários pilotos sendo preparados em suas academias.
No momento não há muito que sonhar para o ano que vem. O alvo de Drugovich é encontrar uma vaga como piloto de testes e sobre isso ele conversa com algumas equipes. Mas há rumores de que ele possa direcionar a carreira para a Fórmula Indy, o que o próprio Felipe procura desconversar alegando que seu foco é a F1.
A tarefa não é fácil. Hoje não basta só o talento para ingressar na F1. É preciso levar um caminhão de dinheiro e mesmo assim sem a garantia de que terá um assento para correr. O caso de Oscar Piastri, o jovem australiano campeão da F2 no ano passado, que (ainda) faz parte do programa de pilotos da Alpine é um desses casos em que às vezes não basta ser campeão para ter uma vaga garantida.
Piastri tem sido o centro das atenções nos noticiários com o que a princípio se pensou tivesse dado um passa moleque na equipe que investiu milhões de euros em sua formação para assinar com a McLaren, mas o desenrolar do novelo tem mostrado que a Alpine também cometeu uma série de erros com a jóia valiosa que ela tinha em mãos.
Piastri ficou de fora da F1 nesta temporada, atuando apenas como piloto de testes, mesmo demonstrando enorme talento. Mas acontece. Aconteceu com outros campeões da categoria que sequer tiveram uma chance de mostrar o valor no degrau de cima.
Drugovich está em sua terceira temporada na F2. Permanecer por lá mais um ano não seria uma atitude inteligente pelo risco de queimar a promissora carreira ao passar tanto tempo na mesma categoria.
Mas cá entre nós, depois de uma temporada incrível como a que ele está fazendo, com 5 vitórias, se não ganhar uma vaga na F1 ainda que para piloto de testes, seria um tiro no pé da própria F2 que perderia credibilidade por não estar cumprindo o propósito de abrir portas para a F1.
Vale lembrar que o Brasil, que desde 2018 não tem nenhum piloto na F1, é um dos países que mais dá audiência para a F1 e é um mercado importante para a categoria. Então não custa sonhar.
A F2 faz parte da programação do GP da Itália de F1 neste final de semana que tem Max Vers-tappen líder disparado, mas com um tabu para quebrar: o de nunca ter vencido em Monza, onde seu melhor resultado é um 5º lugar obtido em 2018.