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JAMAL REGINA NASSER: O carisma e educação como maior herança

Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 14-10-2017 15:10 | 5318
A Enfermeira padrão Jamal Reginal Nasser está  deixando Paraíso em busca de novos sonhos
A Enfermeira padrão Jamal Reginal Nasser está deixando Paraíso em busca de novos sonhos Foto: Reprodução

A enfermeira padrão Jamal Regina Nasser é de uma energia contagiante e que carrega na maneira de ser e de tratar as pessoas toda a humildade que aprendeu com os pais, o comerciante e chefe de cozinha, o libanês Michell Nasser e a professora Elaine Novais Nasser. Desde cedo aprendeu a importância da educação e que essa é a maior herança que um pai pode deixar para os filhos. Ela é irmã do oftalmologista Tiago, do estudante de engenharia mecatrônica, Joseph e da estudante de odontologia, Michele Nasser. Aos 27 anos, Jamal está preparada para alçar novos voos e deixa Paraíso para exercer sua profissão em Ribeirão Preto, mas é aqui que fica o seu coração e o desejo de voltar para fazer o bem para a população paraisense.



 



Jornal do Sudoeste: Jamal? É um nome diferente, o que significa?
Jamal Regina Nasser: Jamal é o nome da minha tia libanesa, que meu pai quis fazer uma homenagem e Regina é o nome da minha avó materna. Jamal quer dizer bonita e Regina é rainha, ou seja, “bonita rainha” (risos).



 



Jornal do Sudoeste: Você é natural de onde?
Jamal Regina Nasser: Eu nasci em Patrocínio de Minas, terra da minha mãe, depois do meu nascimento moramos um mês em Ribeirão Preto e depois fomos morar em Monte Santo de Minas, onde fui criada até os seis anos de idade, quando nos mudamos para Paraíso. Mesmo tendo me mudado muito nova para cá, meus maiores amigos continuaram em Monte Santo, a amizade permanece. Eu tenho minhas amigas de infância aqui em Paraíso também, mas minha ligação com Monte Santo de Minas ainda é muito forte.



 



Jornal do Sudoeste: Quando se mudou para Paraíso, onde estudou?
Jamal Regina Nasser: Aqui estudei no Colégio das Irmãs (Paula Frassinetti). É um lugar que eu amo. Era um colégio linha dura e eu peguei a fase da irmã Rosarita, que era muito rigorosa, mas foi uma fase ótima. Tinha que andar alinhadinha, não podia usar tênis colorido ou bermuda porque os meninos não podiam ver as pernas das meninas e nem as meninas a perna dos meninos, algo que é muito bobo. 



 



Jornal do Sudoeste: O que mais te marcou em Monte Santo de Minas?
Jamal Regina Nasser: Meus avós “postiços”, o doutor Miguel e a dona Vilma. Eles não são meus avós de verdade e se tornaram amigos dos meus pais quando eles chegaram a Monte Santo. Esse avô era médico e foi ele quem realizou o parto dos meus dois irmãos, o Joseph e a Michele e desde que éramos pequenos nos habituamos de chamá-los de avô e avó e assim ficou. Hoje meu vô está com 92 anos e a dona Vilma, 83. Eu tenho loucura por eles. Nós os visitamos em Monte Santo. São os avós que nós escolhemos. Essa fase lá foi maravilhosa. Lembro-me também da tia Celuta, que olhava a gente, mas veio a falecer quando ainda éramos bem pequenos. 



 



Jornal do Sudoeste: Como foi a convivência com seus irmãos?
Jamal Regina Nasser: Sempre foi boa, claro que todo irmão briga, mas nós convivemos super bem. A Michele é nosso xodó, já eu e o Joseph somos muito iguais, então os atritos são muitos, mas somos loucos um pelo outro (risos). Ele nasceu no meu aniversário de um ano! Já meu irmão mais velho, convivemos pouco, mas temos muita afinidade. Ele me deu dois sobrinhos, o Pedro, meu afilhado, e o Felipe, são meus dois presentes e é o melhor que um irmão pode te dar, é um amor incondicional.



 



Jornal do Sudoeste: E como era o Michell em casa?
Jamal Regina Nasser: Meu pai foi muito bravo (risos). Ele nos ensinou que sempre temos que ser educados com todos, apesar de não ter convivido muito em casa, porque ele sempre estava trabalhando, mas nunca deixou de nos dar educação. Hoje ele já reduziu bastante a jornada de trabalho.



 



Jornal do Sudoeste: Ele também cozinhava em casa?
Jamal Regina Nasser: Na verdade nem tínhamos panela direito em casa (risos). Nós só comíamos em restaurante, ele cozinhava, mas era no trabalho, em casa era muito raro. Nós não temos o costume de jantar, mas sempre que nos reunimos ele faz algo diferente: é churrasco, café da tarde, café disso, daquilo, jantar. Ele sempre gostou muito de cozinhar, faz isso divinamente bem. O tempo livre que ele tinha, nos levava para passear. Era pouco tempo livre, mas ao invés de ficar em casa com a gente cozinhando, nós saíamos. O restaurante abria 24 horas, então essa questão do cozinhar ele fazia mais no restaurante.



 



Jornal do Sudoeste: Você herdou esse dom dele?
Jamal Regina Nasser: Eu sei fazer de tudo, mas não é algo que eu faça com frequência. Eu sei fazer de tudo da comida árabe, e gosto de toda a culinária. Eu costumo dizer que sou a filha legítima, porque eu como de tudo da comida árabe, meu irmão mais velho também, e meu pai me ensinou a fazer de tudo.



 



Jornal do Sudoeste: Você aprendeu a falar o idioma árabe?
Jamal Regina Nasser: Não, mas meu pai é fluente, fala e lê árabe muito bem. Eu já tive curiosidade de aprender, mas é uma língua muito difícil e que é mais fácil assimilar quando se é criança e meu pai nunca teve muito tempo para sentar com a gente e se dedicar em ensinar essa língua. Nós fomos para o Líbano em 1995, e ficamos três meses, quando voltamos até falávamos algumas coisas, mas se não tem a prática você acaba esquecendo e para a gente começar a aprender agora é muito difícil. Mas para aprender, tem que ir para lá e sofrer. Lembro que quando éramos crianças e meu pai ficava bravo com a gente, ele começava a falar português, mas se confundia e começava a falar em árabe, e nós riamos porque não entendíamos nada.



 



Jornal do Sudoeste: Mãe professor. Como era a Elaine em casa?
Jamal Regina Nasser: Um pouco brava também e cobrava muita da nossa educação. Lembro que ela tomava lição da gente, nos fazia ler livros em voz alta e fazer resumo de livro toda a semana. Como sempre trabalhou três períodos colocava alguém para nos ajudar nas lições para não ficarmos desleixados na escola. Por ser professora ela era muito exigente com a nossa educação e nos ajudava muito com o ensino. Tanto minha mãe como meu pai não ficavam com a gente 24h, mas sempre nos mantinham na “linha” e nos ensinaram muito, tanto que hoje nós somos muito bem educados, tratamos todo mundo igual, do mais rico ao mais pobre, porque não há diferença de classe, o dinheiro de todo mundo tem o mesmo valor. Meu pai e minha mãe nos criaram assim. Sempre estudamos em escola particular e meu pai sempre deu a vida para que tivéssemos isso, tanto que ele sempre fala que a maior herança que um pai pode deixa para um filho é o estudo, que ninguém tira.



 



Jornal do Sudoeste: Onde você estudou Enfermagem?
Jamal Regina Nasser: Fiz faculdade na Universidade José do Rosário Vellano, em Alfenas. Antes de me formar passei no processo de seletivo do Hospital Albert Einstein, onde estudei especialização em auditoria. Depois disso vim embora para Paraíso, distribuí currículos.. Na gestão passada fui chamada para trabalhar na Secretaria de Saúde, mas com o vencimento do meu contrato, não renovaram. Voltei para ajudar meus pais no restaurante e também ajudei uma amiga minha que abriu uma loja e agora fui chamada para trabalhar em uma clinica de oftalmologia em Ribeirão Preto, a Clinica de Olhos Paulo Barbisan.



 



Jornal do Sudoeste: Você chegou a retornar em Alfena depois disso?
Jamal Regina Nasser: Sim. O ano passado a faculdade onde me formei me chamou para realizar uma palestra sobre enfermagem e auditoria hospitalar para os  acadêmicos de enfermagem. Foi um convite da professora Andrea Magela e a palestra foi voltada para alunos do 6º ao 10º período. Falei sobre a importância da auditoria do âmbito hospitalar e foi muito gratificante poder retornar para palestrar na universidade onde me formei em 2013. Tenho saudade, a fase acadêmica é a melhor de todas. Eu costumo dizer que todo mundo que ir estudar fora e conhecer pessoas novas e trocar experiência e Alfenas de dá essa liberdade.



 



Jornal do Sudoeste: Por que você decidiu estudar Enfermagem?
Jamal Regina Nasser: Eu sempre quis fazer medicina, mas tinha apenas um ano de cursinho para conseguir, quando foi chegando o fim do ano, tentei Enfermagem e passei em todas as faculdades que prestei. A enfermagem é uma profissão muito bonita, mas também é muito desvalorizada e sem o enfermeiro o hospital não anda. Na faculdade eu descobri a auditoria e me apaixonei. Mais que mexer com o paciente eu gosto de papel e a parte administrativa da enfermagem é muito importante, porque se lá em cima não der certo, a assistência não funcionada. Sem a gestão desses recursos o paciente não chega nem a ser atendido e é onde os hospitais quebram, porque não tem uma auditoria bem feita, não tem protocolo, enfim, é uma das áreas mais importantes de um hospital, de uma prefeitura, não apenas na saúde, mas em qualquer empresa.



 



Jornal do Sudoeste: Como você avalia a Saúde no país e em Paraíso?
Jamal Regina Nasser: Péssima e cada dia pior, o país está quebrado e a saúde tem um gasto muito excessivo. Para nós, enquanto município, ainda não afetou muito como nós vemos em hospitais pelo país afora onde pessoas ficam por leitos em corredores ou morrendo porque não têm uma vacina. Nós não fomos tão afetados, mas a saúde pública no Brasil a cada dia que passa vai piorar, é muita gente querendo super-faturar em cima do governo. Sobre a Saúde em Paraíso, atualmente não posso falar, mas na gestão passada ela não foi ruim para a população, embora houvesse gastos que não precisariam ter. Hoje em dia está decadente, as pessoas precisam fazer um exame e está tudo bloqueado... precisa haver economia na Saúde, precisa, mas no lugar certo. A Saúde em Paraíso, a meu ver, não está boa, ela já foi.



 



Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz desses 27 anos?
Jamal Regina Nasser: É um balanço super positivo. Cada ano é uma nova experiência. Estou indo embora, vou conhecer gente nova, ter novas oportunidades e é nisto que temos que pensar e encarar, porque não vai ser fácil. Tudo o que é novo é bom e se eu tiver a oportunidade de voltar para Paraíso e se for para fazer uma coisa certa e ajudar a população, eu volto. Meu coração está doendo por deixar meu pai e minha mãe, principalmente meu pai, eu sou muito agarrada a eles, que querem que eu fique, mas também querem que eu vá, que eu seja feliz e que eu siga minha profissão, não posso ficar aqui de braços cruzados esperando a oportunidade bater na porta. Tenho muito a agradecer meu pai e minha mãe por todos os ensinamentos, educação e todo amor e carinho que eles têm por mim, pois sem eles não chegaria onde eu estou.