Cada corrida tem lá as suas particularidades, mas em situações como a de Monza fica difícil não traçar um paralelo. Nicholas Latifi estreou na F1 no GP da Áustria de 2020. Já disputou 55 corridas com pela Williams e somou apenas 7 pontos nesse tempo todo. O melhor resultado foi um 7º lugar na Hungria no ano passado. Tudo bem que a Williams está longe de seus melhores dias, mas este ano, em pistas com longas retas, o carro até que dá para o gasto.
No último final de semana, Nyck de Vries foi escalado pela Aston Martin para participar da primeira sessão de treinos livres para o GP da Itália no carro de Sebastian Vettel, mas foi surpreendido no sábado pela manhã com o chamado às pressas da Williams para substituir Alex Albon que precisou passar por cirurgia de apendicite. E o holandês não decepcionou. Fez ótima corrida e terminou em 9º, marcando seus primeiros pontos. Ele tornou-se o 67º dentre os 780 pilotos que já correram de F1 a pontuar na corrida de estreia.
E com apenas um GP, De Vries já está na frente de Latifi, único dos pilotos regulares que não pontuou no campeonato. O outro é Nico Hulkenberg que disputou apenas dois GPs no começo do ano substituindo Vettel na Aston Martin e também não pontuou, obtendo um 12º na Arábia Saudita como melhor resultado. Somente em Silverstone, no GP da Inglaterra, 10ª etapa, em julho, que Latifi superou Hulkenberg ao terminar em 12º e por ter disputado mais corridas, saiu da lanterna apenas pelos critérios de desempate.
O canadense Latifi é filho de um bilionário do ramo da moda, mas o seu desempenho nas pistas mostra que dinheiro, embora de extrema importância no automobilismo, pode até comprar vaga, mas a F1 é para poucos. Ele foi contratado pela Williams num momento de grave crise financeira quando a família de Frank Williams ainda comandava a equipe. Após a venda para o Dorilton Capital, um fundo de investimentos norte-americano, a situação financeira melhorou e a vaga de Latifi vem sendo ameaçada porque a equipe já não depende tanto dos milhões de euros que seu pai investe para tê-lo ao lado de Albon.
O fraco desempenho de Latifi ficou ainda mais explícito diante de um novato que só teve o treino livre de sábado para se ajustar ao modelo FW44, se classificar em 13º para a largada e terminar a corrida em 9º. Latifi certamente será sempre lembrado apenas como o piloto que indiretamente mudou a história do campeonato do ano passado ao bater há seis voltas da bandeirada do GP de Abu Dhabi e provocar a entrada do Safety Car que causou toda a confusão que resultou no título de Max Verstappen quando Lewis Hamilton tinha a vitória nas mãos até aquele momento.
De Vries foi campeão da F2 em 2019 e da Fórmula E em 2021, mas estava demorando para surgir uma oportunidade de mostrar o seu talento. Ele já não é tão jovem (27 anos) para os padrões atuais onde a meninada está chegando cada vez mais jovem, mas faz parte do programa de pilotos da Mercedes, e não por acaso vem sendo preparado pela equipe alemã. De Vries participou dos treinos livres do GP da Espanha pela Williams, da França com a Mercedes, e da Itália com a Aston Martin que anunciou o brasileiro Felipe Drugovich, campeão antecipado da F2 lá mesmo em Monza, como piloto reserva para 2023. Todas essas equipes utilizam o motor Mercedes.
O desempenho de De Vries foi o empurrão que faltava para ser lançado de vez no mercado de pilotos para o ano que vem e ele é um dos cinco que participarão de uma espécie de vestibular que a Alpine vai promover nos próximos dias para escolher o substituto de Fernando Alonso que vai para a Aston Martin no ano que vem, e do reserva Oscar Piastri que assinou com a McLaren.
De Vries agarrou com unhas a chance que precisava. Acho que dificilmente ele não estará no grid da F1 no próximo ano.