A Ferrari fez 11 pole positions, venceu 4 corridas, terminou o ano com os vice-campeonatos de pilotos e de construtores. Para quem vinha numa draga danada nos últimos anos, 2022 foi de reencontro com as vitórias. Começou a temporada como o time a ser batido. Mas foram tantos erros de estratégia que ofuscaram os resultados. Alguns bizarros, como Leclerc deixar os boxes com pneus de chuva no asfalto seco de Interlagos, uma leitura inadmissível até para a nanica Haas que cravou uma pole histórica no GP de São Paulo.
O 2022 da Ferrari foi um mix de expectativa e de frustração, e uma hora a corda teria que rebentar, e rebentou pro lado do chefe Mattia Binotto.
Não que Binotto tivesse o perfil de um grande chefe de equipe, mas ele entregou as metas estabelecidas de redirecionar a Ferrari para o caminho das vitórias. O começo promissor foi um bônus. A meta traçada era dar um passo acima, colocar a Ferrari numa melhor posição, e isso Binotto conseguiu. Porém, estava cada vez mais difícil segurar a batata quente nas mãos com a pressão que vinha de cima, da alta cúpula da Ferrari, muito mais por questões pessoais do que pelos próprios erros.
Mais que um chefe de equipe que desempenhou também a tarefa de diretor administrativo, Binotto era uma peça importante na parte técnica da Ferrari, um engenheiro capacitado que cresceu e se desenvolveu dentro do departamento de motores da escuderia ao longo de seus 28 anos de serviços prestados dentro da fábrica de Maranello.
É aí que a demissão de Binotto não foi uma boa jogada para a Ferrari. Mais que contratar um novo chefe de equipe, que poderá ser Frederic Vasseur, da Alfa Romeo, a Ferrari terá que correr atrás de outro engenheiro capaz de liderar o departamento técnico com a mesma competência. E isso demanda tempo. E 2023 está aí.
Mudanças às vezes são necessárias, mas vejo a Ferrari como uma flecha sem pena para 2023. Reorganizar a casa leva tempo. A própria equipe sabe disso quando contratou Jean Todt em 1993 e foi preciso sete anos para começar a colher os frutos.
Binotto vinha no caminho certo, reorganizando a casa desde que assumiu o cargo de chefe de equipe em 2019.
No comunicado de sua saída, Binotto escreveu: "É com tristeza que decidi encerrar minha colaboração com a Ferrari. Saio de uma empresa que adoro, da qual faço parte há 28 anos, com a serenidade que advém da convicção de ter feito todos os esforços para atingir os objetivos traçados".
Os primeiros sinais de que as coisas não iam bem foi a ausência de Binotto em Interlagos com a justificativa de que já trabalhava no projeto do carro de 2023. Dias depois o sempre bem informado jornal, "La Gazzetta dello Sport", pertencente ao próprio Grupo Ferrari, anunciou que Binotto seria dispensado e Fred Vasseur seria o seu substituto.
A Ferrari tentou abafar alegando que a notícia era sem fundamento. Mas no fundo, o alto comando estava esperando o pedido de demissão de Binotto. A Ferrari sempre agiu assim, é melhor esperar que alguém "pegue o boné e vá embora", do que anunciar a demissão. E a máxima que diz "onde há fumaça, há fogo" é tão verdadeira que na última terça-feira, Mattia Binotto anunciou a sua saída. E quem tem mais a perder nesse imbróglio é a própria Ferrari, que ficará sem um dos pilares de sustentação do seu departamento técnico de F1.
Binotto dirigiu a Ferrari por 61 GPs de 2019 a 2022. Foi promovido para substituir Maurizio Arrivabene, que sucedeu Marco Mattiacci, que substituiu Stefano Domenicali, que assumiu o comando deixado por Jean Todt em 2007 depois de tornar a Ferrari quase imbatível na era Schumacher.
Portanto, no espaço de 15 anos, essa é a quinta vez que a Ferrari está à procura de um novo chefe de equipe.