Um fato pitoresco marcou a decisão da Stock Car no último domingo, em Interlagos: Enquanto o jovem Felipe Baptista, aos 19 anos, vencia sua primeira corrida em seu ano de estreia, aos 50, Rubens Barrichello tornava-se o mais velho piloto a conquistar um título na categoria.
Rubinho é bicampeão da Stock Car, conquista da resiliência, da dedicação, da paixão pelo automobilismo.
Não teve quem não se comovesse com a emoção de Rubens transbordada de suor e lágrimas ainda debaixo do capacete ao ser mostrado pelas câmeras chorando copiosamente enquanto seguia na pista já com o título no bolso nas voltas finais da corrida.
No dia 11, o piloto do carro 111, que sempre gostou do número 11, cruzou a linha de chegada em 11º. Emblemático.
Foi uma disputa dramática. Na largada para a corrida 2 vencida por Ricardo Maurício, uma linha de três formada por três dos quatro candidatos ao título gerou um salseiro que decidiu o campeonato no S do Senna.
Barrichello por fora, foi tocado por Daniel Serra, que espalhou para cima de Gabriel Casagrande e que acertou Serra. No meio da confusão, Rubinho rodou e perdeu várias posições. Serra teve que abandonar, e Casagrande recebeu uma dura punição dos comissários da Confederação Brasileira de Automobilismo ao ser excluído da prova.
Analisando o "enrosco", a investida de Rubinho para cima de Serra me lembrou a de Verstappen sobre Hamilton no mesmo ponto da pista um mês atrás no GP de São Paulo e que custou 5 segundos de pênalti para o holandês.
Na minha leitura, Barrichello poderia até ter recebido uma pena semelhante, embora a dinâmica de disputa por posições entre carros de turismo, com os da Stock Car, seja distinta em alguns aspectos das dos carros de Fórmula. Mas o que não fez sentido foi excluir o piloto do carro 83 pela batida em Serra. Um drive-through (passagem pelos boxes), ou 20 segundos de acréscimo no tempo de corrida seriam punições mais justas do que a exclusão.
Mas nada tira o brilho da conquista de Barrichello. Interlagos tinha uma dívida com ele. Não tem mais. Acabou a sina, a zica, a maldição, o tabú de Interlagos. Quis o destino ser no "quintal de sua casa", que ele tanto desejou na vida ganhar uma corrida de F1, mas que sempre ficou no quase, que Barrichello fosse conquistar o seu segundo título na principal categoria do automobilismo - o primeiro foi em 2014, em Curitiba.
"Eu tenho troféus muito bonitos em casa, mas nada, nada, no meio se compara ao dia que Interlagos devolveu tudo para mim", disse emocionado.
Quem tiver acesso ao Instagram, eu recomendo assistir no seu perfil, "rubarrichello", ao vídeo que ele postou na última quinta-feira (15). É uma das mais lindas e sinceras declarações que já vi de um campeão.
Rubens é muito querido. As arquibancadas de Interlagos foram abaixo quando ele parou na pista para fazer zerinhos saudando o público e ao descer do carro. Não é por acaso que todos os anos o coro: "Rubinho, Rubinho" eclode das arquibancadas nos Grandes Prêmios de F1 em Interlagos.
O que ele fez nesta temporada entra para a história. Porque poucos esportistas são privilegiados de aos 50 anos ser tão competitivos numa categoria extremamente competitiva como a Stock Car. Esta coluna parabeniza Rubens Barrichello não só pelo título, mas também por trazer calor humano ao esporte e pelos exemplos de entrega ao que mais gosta de fazer: pilotar.