13 de novembro de 1972. Na edição 1.073 da extinta revista Manchete, Emerson Fittipaldi vestido de jogador de futebol com o uniforme do Santos FC e Pelé com o macacão de piloto estampavam a capa com o título: “O encontro dos reis”.
Emerson havia conquistado o seu primeiro título Mundial de F1 naquele ano. Pelé já era consagrado com três Copas do Mundo. Ambos praticamente da mesma geração. Pelé com 32, Emerson com 25.
Em matéria assinada por Fernando del Corso e José Maria dos Santos, depois de muitas tentativas a reportagem conseguiu reunir os dois reis no jardim da sede da revista, em São Paulo. Eles se conheceram em janeiro do mesmo ano, quando Emerson ganhou a camisa 10 da Seleção Brasileira de Pelé, enquanto o troféu de vencedor do GP da Áustria dado por Emerson decorava a coleção de troféus de Pelé.
E como Deus faz as coisas certas, a história não seria a mesma se os papéis fossem inversos. A reportagem fala de um esforço de Emerson com a bola para conseguir ao menos uma embaixada, enquanto Pelé não sabia como entrar numa réplica da Lotus de Emerson, construída em madeira pela fábrica de brinquedos Estrela, especialmente para a reportagem de Manchete. “Primeiro você enfia as pernas, depois escorrega e deita”, orientou Emerson ao Rei do Futebol que reclamou do capacete que apertava as orelhas, mas adorou o macacão que ganhou de presente no encontro.
“Acho que carros de corrida são feitos no alfaiate e esse aqui não é o meu número”, brincou Pelé. De fato ele tinha razão. Carros de corrida são feitos sob medida para “vestir o piloto”, embora naquela época muito menos rigorosas do que hoje em dia.
A reportagem falava que o encontro se deu enquanto em Interlagos os mecânicos de Emerson trabalhavam em seu carro de F2 (era comum pilotos correrem de F1 e de F2), enquanto a delegação do Santos aguardava a chegada de seu principal astro no aeroporto de Congonhas rumo à Bahia para compromisso no Campeonato Nacional.
Emerson e Pelé discutiram a importância e a melhor forma com que cada um poderia divulgar o Brasil lá fora aproveitando as suas condições de ídolo. E a matéria se desenrola com Pelé enaltecendo a humildade de Emerson, “ele é sensacional pela sua humildade”, e faz uma revelação interessante de um conselho que Fittipaldi havia lhe pedido sobre como se comportar com o público e com os jornalistas já que passara a ser um piloto famoso.
O conselho do Rei foi: “Eu disse ao Emerson que ele precisava separar sua vida profissional da pessoal, senão perderia o sossego em casa”, usando de sua própria experiência para dar o melhor conselho.
Sobre a camisa 10 que deu a Emerson, Pelé dizia que talvez, inconscientemente, presenteou o campeão da F1 na tentativa de que a camisa transportasse para Emerson as vitórias que ela havia lhe dado!
Na vez de Fittipaldi falar do Rei do Futebol, disse que não gostava de ser comparado a Pelé. “Acho que é uma falta de respeito com ele”, disse. “O Pelé não deve ser comparado com ninguém, e ninguém pode ser comparado ao Pelé”. E me chamou atenção uma profecia de Emerson: “Nesses anos vividos na Europa compreendi que ninguém vai conseguir mais pelo Brasil do que Pelé, nem em cem anos”!
O Rei Pelé nos deixou na última quinta-feira aos 82 anos. Fica aqui a homenagem da última coluna do ano ao maior jogador de futebol de todos os tempos.
Feliz 2023!