“Tomara que chova 3 dias sem parar, a minha grande mágoa, é lá em casa não ter água e eu preciso de lavar...” Neste trecho da marchinha carnavalesca, vemos a dicotomia do saneamento brasileiro que perdura até hoje. Naquela época os banhos e a assepsia doméstica eram feitas com a água de chuva, mas com a chuva as casas ficavam cobertas de lama e precisavam ser lavadas. Fatos que perduram até hoje levando em conta que a marchinha é de 1930.
Comentando um pouco do saneamento brasileiro ele sempre foi deixado em segundo plano ou as vezes com uma solução paliativa. Em 1561 Estácio de Sá, militar português e fundador da cidade do Rio de Janeiro construiu o primeiro poço para abastecimento de água e o transporte eram feitos por escravos fortes, chamados de tigres, pois além de transportar água transportavam para longe das casas os dejetos dos moradores (urina e fezes) e os respingos de esgoto queimavam suas peles fazendo manchas rajadas daí o nome de tigres.
Em 1673 foram construídos os aquedutos da Carioca que levava água para o centro da cidade do Rio de Janeiro, construídos com tubos de ferro e trecho de canais de pedra. Cito aqui os famosos Arcos da Lapa uma das principais lembranças do Rio antigo. Ligava o Rio Carioca a um Chafariz localizado no centro da cidade.
Com a chegada da família real a solução de transporte através dos escravos tigres ficou onerosa pois os escravos passaram a ficar doentes, então a solução foi abandonada, não pela bondade de seus senhores, é que os escravos tinham que ser substituído por outros e custavam caro.
Em 1857 e 1877 tem se a notícia da construção do primeiro sistema de abastecimento de água do Brasil, a tão sonhada e cantada água encanada, chegava na cidade de São Paulo.
Aqui nas “bandas” das Gerais especificamente em São Sebastião do Paraiso a expansão do saneamento não fluiu de forma diferente. Fundada em 1821, elevada a categoria de vila em 1870 e categoria de cidade em 1873. Os primeiros moradores utilizavam água que vinham de cisternas escavadas nos quintais e algumas nascentes existente no entorno da cidade.
De acordo com o historiador Dr. Luiz Ferreira a tão sonhada água encanada chegou por aqui no ano de 1897, juntamente com a construção o Reservatório Castelinho, construído na gestão do Cel. Francisco Adolfo de Araújo Serra, sendo interligada a fonte de água da Serrinha. Este reservatório ainda existe e está localizado na rua Dr. Placidino Brigagão onde hoje está instalada a Academia Paraisense de Cultura. A fonte da serrinha se localiza na APP Serrinha, lado direito da Br 265 Sentido São Sebastião do Paraiso / Altinópolis.
Conforme dados em 1964 na fonte do Serrinha havia instalado um conjunto motobomba de 10 HP, com certeza os conjuntos originalmente instalados em 1894 tiveram a sua potência aumentada de acordo com a demanda e o crescimento populacional. Era um sistema pequeno, mas arrojado para a época e abastecia apenas os bairros principais, a periferia continuava sendo suprida pelas cisternas domiciliares, minas como a do “Juca Proença”, Mogiana, Barris, Fonte dos Amores e outras existentes.
No período de 1944 a 1948 deu início a perfuração de poços na área da Laginha e construção da casa de bomba, ainda hoje existente. Esta obra foi iniciada na gestão do prefeito Dr. Luiz Pimenta Neves e concluída na administração do prefeito Sr. Geraldo Froes (1940-1952), conforme placa de inauguração existente no local. As águas ali captadas eram recalcadas até reservatório castelinho. O local recebeu o nome de Parque das Águas porque com o decorrer do tempo novas unidades de poços foram ali perfuradas.
Autor: Edson Luiz Duarte - 15/02/2023
Engenheiro Civil, Sanitarista e Ambientalista