O título pode parecer desanimador para um campeonato longo que está apenas começando, mas o domínio da Red Bull no GP do Bahrein foi como um balde de água fria nas expectativas de uma disputa mais equilibrada. Max Verstappen venceu sem precisar fazer esforço e Sergio Pérez que bobeou na largada e perdeu a posição para Charles Leclerc precisou suar um pouco o macacão, mas nada demais para quem tinha um foguete nas mãos. A vantagem era tão confortável que a Red Bull fez uma tática ousada de trocar os pneus macios por outro jogo de macios, e só na segunda parada colocar os compostos duros. A estratégia foi determinante para Pérez recuperar a 2ª posição.
Com o segundo jogo de pneus macios (menos resistentes), Verstappen completou 22 voltas, duas a mais que o máximo que Leclerc conseguiu fazer com os pneus duros (mais resistentes), numa clara demonstração do quanto o modelo RB19 está ‘redondinho’ e o SF23 da Ferrari consome os pneus.
A verdade é que os testes de pré-temporada já apontavam para o tal domínio da Red Bull. Escrevi isso na semana passada, mas o que ninguém imaginava era que a vantagem fosse tão grande. E o problema nem é o fato de a Red Bull ter um carro tão bom, e sim o trabalho que as outras equipes têm pela frente.
Contudo, ainda é muito cedo para jogar a toalha e não se pode entregar a taça para Verstappen com apenas uma corrida. Vimos isso no ano passado quando a Ferrari começou forte, com dobradinha no mesmo GP do Bahrein, e se perdeu na segunda metade do campeonato. Há muita água para passar por baixo da ponte com 22 corridas ainda pela frente.
A Ferrari, que focou durante o inverno europeu na confiabilidade do motor, sofreu uma quebra logo de cara no carro de Leclerc quando estava em 3º. Antes da largada a equipe detectou um problema técnico e trocou a central eletrônica do motor e a bateria, e foi um problema de cabeamento que gerou a pane no carro do monegasco. Leclerc reconheceu que a Ferrari tem um carro rápido em voltas de classificação, mas não tem a mesma velocidade em corrida.
Situação mais complicada é a da Mercedes que insistiu no conceito do carro do ano passado com os minúsculos sidepods (as caixas laterais onde ficam os radiadores) e errou mais uma vez no projeto. Quando perguntado para Lewis Hamilton onde a equipe teria errado, o heptacampeão foi áspero ao dizer que “há 12 ou 13 meses atrás”, ou seja, lá no projeto do W13 que resultou numa temporada abaixo da crítica em 2022.
Hamilton terminou a corrida na 5ª posição perdendo a disputa para Fernando Alonso pelo então 4º lugar, mas o resultado teria sido pior se Leclerc não tivesse quebrado, e Lance Stroll estivesse bem fisicamente. A Mercedes precisa urgente rever o seu projeto, mas algumas implicações podem virar entrave: uma delas, a mais viável, é adotar o conceito tradicional de sidepods, mas em desvantagem já que as outras equipes estão um passo à frente no desenvolvimento desta área importante dos carros. A outra é revisar o projeto sem comprometer o teto orçamentário de US$ 145 milhões.
Enquanto isso, a Aston Martin foi a sensação com o ótimo carro que deu a Fernando Alonso, no alto de seus 41 anos, a chance de lutar contra a Mercedes e a Ferrari para terminar no pódio. Alonso não cabia de felicidade no cockpit ao cruzar em 3º, e o espanhol motivado é garantia de boas disputas pela frente.
STROLL SURPREENDENTE
Lance Stroll que sofreu um sério acidente de bicicleta doze dias antes da abertura do Mundial me impressionou pelo tamanho de seu esforço para recuperar a tempo de participar do GP do Bahrein. O canadense, filho do dono da Aston Martin, teve fraturas no pulso direito e esquerdo, na mão esquerda e no dedão do pé direito. Com tudo isso largou em 8º e terminou em 6º andando o tempo todo de forma competitiva.