POLEPOSITION

Despreparo dos comissários da FIA ficou escancarado

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 26-03-2023 11:15 | 698
Depois de toda a polêmica, Alonso teve de volta o 100º pódio da carreira
Depois de toda a polêmica, Alonso teve de volta o 100º pódio da carreira Foto: Aston Martin

Quando a F1 adotou as rodas de 18 polegadas desde o ano passado, uma das reclamações dos pilotos foi com a redução do campo visual na região das rodas dianteiras. Criou-se um ponto cego, o que contribui para possíveis enganos, como: parar o carro fora do colchete para a largada.

Os mais atentos já devem ter observado uma faixa amarela que transcende o lado direito dos colchetes, exatamente para orientar os pilotos aonde ele está, e isso já existia quando as rodas eram de 13 polegadas, que ofereciam mais visão. É regra, o piloto deve parar dentro da demarcação no asfalto. Qual a vantagem que se ganha quem sair um pouco para os lados, desde que não coloque o carro à frente de sua posição de largada, ninguém sabe. É o xis da questão. Mas vale pra todo mundo.

No Bahrein, Esteban Ocon, da Alpine, foi punido pelo mesmo motivo que levou os comissários a aplicarem 5s de penalidade a Alonso, em Jeddah. Mas há imagens que mostram que Alonso não era o único carro fora do colchete na largada. Haviam outros 4, mas apenas o espanhol foi punido. E é aí que ninguém consegue entender a falta de consistência dos comissários da Federação Internacional de Automobilismo em aplicar as punições, o que têm sido alvo de muitas críticas ultimamente ao passar a impressão de usar dois pesos e duas medidas.

Mas o pior de tudo é o despreparo de quem tinha que conhecer a fundo as regras. O que aconteceu durante e no pós-corrida do GP da Arábia Saudita escancarou a falta de conhecimento das regras e uma absurda dificuldade de comunicação entre os comissários. Não bastassem, os textos dos regulamentos são mal redigidos e confusos de entender.

Depois da polêmica decisão do memorável campeonato de 2021 em que o ex-diretor de prova, Michael Masi, aprontou a maior confusão que resultou no título de Max Verstappen, a FIA criou uma espécie de VAR do futebol em que comissários ficam em Genebra, na Suíça, analisando imagens de diversas câmeras e ângulos de tudo que acontece na corrida para auxiliar o diretor de prova e os comissários que estão no circuito. Mas assim como no futebol, a ferramenta às vezes mais atrapalha do que ajuda.

O pessoal de Genebra teve mais da metade da corrida para concluir que o mecânico do macaco traseiro havia tocado a Aston Martin de Alonso enquanto o espanhol pagava a punição de 5s. E só reportaram aos comissários em Jeddah na última volta da corrida. Alonso subiu ao pódio, recebeu o troféu, comemorou e em seguida foi avisado de que o 3º lugar não era seu. Entregaram o troféu para George Russell, e a Aston Martin recorreu da punição apresentando sete evidências em vídeos de corridas em que outros carros foram tocados por ferramentas e não houve punição.

Nem os comissários sabiam que no texto (sempre mal redigido) diz que “enquanto o carro estiver parado cumprindo uma punição, ninguém pode trabalhar no carro”, mas não diz nada sobre “tocar no carro”, algo que pegou todo mundo de surpresa porque imaginava-se que nada e ninguém pudesse tocar o carro. E diante das evidências, e da falha do texto, restou aos comissários voltarem atrás na decisão e devolver o 100º pódio da carreira de Alonso, isso quase 4 horas depois da corrida.  

Um desgaste desnecessário que poderia ter sido evitado se o pessoal da FIA tivesse mais critério e conhecimento das próprias regras, além de contratar um redator com mais clareza com o que escreve.

Perde todo mundo com esses atos confusos, inclusive a própria F1, cada vez menos paciente com a entidade que controla o lado esportivo da categoria.

FÓRMULA E EM SÃO PAULO
Criada em 2014, a Fórmula E desembarcou pela primeira vez no Brasil. O e-Prix de São Paulo, 6ª etapa do campeonato mundial de carros 100% elétricos, acontece neste sábado com largada às 14h e transmissão ao vivo da TV Band. Um pouco antes, às 9h40 tem a classificação que define o grid de largada. A prova acontece no circuito improvisado do Anhembi com 2.960m, 14 curvas e duas longas retas (uma delas o sambódromo), onde os carros devem atingir os 290 km/h. Dos 22 pilotos, dois são brasileiros: Lucas di Grasi (campeão de 2016) e Sergio Sette Câmera.