Era uma vez uma jovem chamada Janaína Godoi, uma menina de origem humilde que vivia em São Sebastião do Paraíso e que, como tantas outras garotas, sonhava em ser a personagem principal de um grande conto de fadas. Mas em vez de sonhar com príncipes encantados e castelos mágicos, Janaína desejava trilhar um caminho diferente: em vez de uma coroa na cabeça, uma bola nos pés; no lugar dos sapatinhos de cristal, um par de chuteiras, e substituindo o vestido deslumbrante do grande baile, o uniforme verde e amarelo da seleção brasileira.
E aos 21 anos, a jovem acaba de realizar o grande sonho de sua vida. Nesta semana, Janaína foi convocada pela primeira vez para a seleção brasileira de futsal principal, que disputará o Torneio Internacional, em Santa Catarina, no próximo mês. Revelada pelo projeto de futebol de salão da prefeitura, a paraisense é atleta do São José, time do interior de São Paulo, que disputa a Liga Nacional.
Feliz e orgulhosa por poder representar seu País e sua cidade, Janaína declara que foi pega de surpresa e que não esperava ser convocada tão cedo. Agora, ela espera para continuar vivendo o seu conto de fadas. “Estou muito motivada e grata por tudo. Foi muito rápido, até porque eu tinha acabado de mudar de clube e estava me adaptando ainda, mas o nosso começo de temporada foi muito bom e isso acabou nos dando uma visibilidade muito boa. Acabei de concretizar o meu maior sonho, que era ser convocada para a seleção brasileira. Mas tenho outros, como ganhar títulos importantes”.
Assim como acontece com a maioria dos jogadores e jogadoras de futebol brasileiros, Janaína começou a escrever o seu destino no esporte muito cedo, nas peladas com os amigos na rua e na escola. Seus pais, Valdir e Marilei Godoi, perceberam que a menina levava jeito com a bola nos pés e a matricularam na escolinha de futebol do Tubarão.
E como em todo bom conto de fadas, a história da jovem paraisense também teve uma espécie de “fada-madrinha”: o professor Adalberto Alves, o Betinho. Foi ele quem percebeu que Janaína tinha um encanto diferente nas quadras. Só havia um “porém”: não existia a categoria sub-11 feminina na escolinha do município. Mas isso não era um problema para a garota, que se destacava jogando com adversárias das categorias sub-13 e sub-15.
Diante daquele talento, Betinho formou um novo time, com meninas da faixa etária de Janaína, e levou a garota para ser treinada por ele no projeto da prefeitura. “Quem me falou da Janaína pela primeira vez foi o professor Murilo, do Noraldino Lima. Ele me dizia que tinha uma menina diferente na escola. Isso quando ela tinha oito para nove anos”, conta o professor.
E a equipe se saiu tão bem que, em pouco tempo, já era destaque em toda a região, fazendo grandes jogos e vencendo campeonatos. E foi ali que Janaína percebeu que o futsal poderia ser algo muito maior do que uma simples diversão. “Eu percebi isso quando, jogando pela Escola Estadual Paraisense, ganhamos a fase estadual do JEMG (Jogos Escolares de Minas Gerais) e representamos o estado no Campeonato Brasileiro Escolar. Nós estávamos entre as melhores do País, e eu pude perceber que tinha condições de, um dia, me tornar uma atleta profissional e viver disso”, lembra a atleta, que ajudou o time a conquistar o bicampeonato mineiro e terminar o nacional em quarto lugar, em 2014, e terceiro em 2015.
Foi nesse momento que olheiros de equipe do Barateiro Futsal, de Brusque, Santa Catarina, se encantaram com o talento de Janaína e a levaram para jogar no clube, considerado uma das grandes potências do País e contava com a maior jogadora do mundo da modalidade, a ala Amandinha. “Minha mãe me acompanhou para conhecermos a estrutura da equipe, como as coisas funcionavam. Era a melhor equipe do Brasil. Sair de casa aos 14 anos e morar sozinha foi o momento mais difícil, mas a minha adaptação foi rápida. Em 2016 eu me mudei e, em 2018, com 17 anos, eu já havia sido convocada para a seleção sub-20”, recorda.
Janaína permaneceu no clube catarinense até o final de 2022, e fez questão de aproveitar cada oportunidade que recebeu durante as seis temporadas que permaneceu em Brusque. Entre um “baile” e outro pelas quadras do Brasil, a paraisense cursava a faculdade de Educação Física. Hoje, graduada e jogando pelo São José, ela continua sonhando com novos capítulos para a sua história. “Quero vencer uma Liga Nacional, ganhar títulos importantes. Também estou cursando fisioterapia e, para o meu futuro, penso em associar o conhecimento das duas faculdades e continuar nessa área (esportiva). A carreira no futsal é muito curta e eu preciso abrir esse leque”, planeja a jogadora.
E, apesar de estar alçando voos cada vez mais altos, Janaína não se esquece do lugar onde viveu os primeiros capítulos de sua história e dos personagens que a ajudaram durante a jornada. “O Betinho abriu as portas para mim e me ensinou muita coisa. Tudo o que eu sou hoje é graças ao trabalho dele, aos meus pais e à prefeitura de São Sebastião do Paraíso, que sempre apoiou muito o futsal o feminino e na minha época não foi diferente. Eles nos apoiavam em todas as viagens, todos os jogos. Foi onde eu fui vista, por isso eu agradeço à cidade, que foi tão especial na minha trajetória”.
Por fim, Betinho relata que faz questão de contar a história de Janaína para as meninas que estão começando a dar os primeiros passos no futsal na escolinha do município. Como um mestre orgulhoso, ele exalta a coragem e a dedicação da aluna ilustre, que provou que não há conto de fadas impossível para quem trabalha e ousa sonhar os grandes sonhos. “Eu sempre gosto de citar o nome da Janaína nas palestras motivacionais. Gosto de contar para as meninas sobre o quanto ela se dedicava. Se tivesse que treinar nos feriados ou aos domingos, ela ia. Se pedia para fazer academia, ela fazia. Chegava a treinar sete dias por semana. Eu faço questão de dizer que ela saiu dos nossos braços para a seleção brasileira porque, além de talentosa, ela trabalhava muito”, conclui o primeiro treinador.