No Sudoeste de Minas Gerais, onde o verde encontra a história, São Sebastião do Paraíso floresce sob o manto dos Ipês. As cores vibrantes dessas árvores pintam o cenário urbano, e sua presença, enraizada na alma da cidade, remonta a uma decisão tomada há mais de meio século.
Em 15 de outubro 1968, a paixão do vereador e professor e historiador Luiz Ferreira Calafiori pelo ipê levou à aprovação do projeto de lei nº 770 na Câmara Municipal, dando à cidade sua famosa alcunha de “Cidade dos Ipês”. Na visão poética de Calafiori, os ipês, considerados desde 1965 pelo então presidente Marechal Castelo Branco como a “Árvore Símbolo do Brasil”, eram mais que simples vegetação; eram um reflexo do coração da cidade. Tanto é que o nome foi eleito, em uma enquete com estudantes, como o mais adequado dentre 30 adjetivos sugeridos. “Chegou-se à conclusão de que a constante do sentimento popular constitui grande afeto que todo nosso povo dedica a essa árvore esplendorosa que medra, floresce e embeleza o ambiente, justamente quando a natureza está abatida e ressequida”, escreveu Calafiori na justificativa da propositura.
Para o vereador, seria importante que Paraíso adotasse um “adjetivo simpático” para se promover turisticamente e se sobressair às demais, citando, como exemplo, importantes centros brasileiros e mundiais, como Paris, Rio de Janeiro, Gênova, Nova Iorque, São Paulo, etc.
Cinquenta e cinco anos depois, a “Cidade dos Ipês” está resgatando e fortalecendo o significado de seu título. Com o projeto “Arborizando Paraíso”, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente tem focado na arborização do município, valorizando especialmente o ipê. O responsável pela pasta, Renan Jorge Preto, explica os detalhes desse projeto. “No início, nosso principal objetivo era aumentar a quantidade de árvores na cidade. No entanto, não basta apenas plantar; é fundamental cuidar dessas árvores também”, destaca.
E as ações já estão a todo vapor. No Parque da Serrinha, são produzidas cerca de 15 mil mudas de árvores anualmente, sendo que 1500 dessas são de ipês de diversas cores: rosa, roxo, branco e amarelo. A intenção é suprir a demanda da cidade e reforçar a alcunha de “Cidade dos Ipês”.
O secretario enfatiza que, embora muitos acreditem que haja poucos ipês na cidade, essa não é a realidade. “Os ipês que plantamos recentemente levarão de 5 a 7 anos para florir. Precisamos ter em mente que a natureza tem o seu próprio tempo”. Ele também menciona que muitas praças da cidade já possuem ipês adultos, sendo a praça São José e a praça Comendador João Alves dois belos exemplos disso.
Conforme explica Re-nan, um dos principais trabalhos para o plantio de novos exemplares de ipês na cidade é a coleta de sementes das espécies, que é feita de forma sazonal. “Do roxo a gente já coletou, que é o primeiro, do amarelo também, que vem logo depois do roxo. Então agora a gente está terminando de pegar o rosa e partindo para o branco”. Uma vez coletadas, as sementes são preparadas para se tornarem mudas, que estarão prontas para o plantio na época chuvosa do próximo ano.
A administração municipal também tem incentivado a população a se engajar no projeto. Para facilitar a participação, todas as burocracias relacionadas à doação de mudas foram eliminadas. Segundo o secretário, todos os meses, cerca de 300 mudas são retiradas no Parque da Serrinha e plantadas pelos moradores. Qualquer cidadão pode simplesmente ir ao Parque e retirar até três mudas (se for morador da zona urbana) ou até dez (se for da zona rural). Para quantidades maiores, um pedido deve ser protocolado na prefeitura.
Para o secretário de Meio Ambiente, o principal objetivo do projeto é fazer que São Sebastião do Paraíso continue a florescer, honrando sua rica história e abraçando um amanhã verdejante.