Desde quarta=feira da outra semana que os dois turistas de Ribeirão Preto combinaram entre si e suas famílias para aproveitar o fim de semana em Termópolis (para eles) e Águas Quentes (para nós). A merecida fama adquirida pela estância hidromineral de São Sebastião do Paraíso já ultrapassou há muito tempo as fronteiras municipais e de longe daqui, vem gente para descansar, curar seus males de peles e muitos pelo simples prazer de passar alguns dias “gostosos” num local realmente excelente.
E como tudo na vida é débito e crédito, para quem quiser passear em Água Quente vai ficar com um crédito muito bom tanto físico como espiritualmente. Porém, o diabo do débito tem que aparecer para infernar a vida do turista e lhe dar irritação.
- Devagar, Zé, desvia um pouquinho pra lá...
- Não, não. Se eu desviar pra lá eu caio naquela valeta...
- Antes cair na valeta, que está do seu lado, do que cair no buraco, que está do meu lado ...
E a conversa dos dois amigos prosseguia animada nesse papo aí de cima, quando lá embaixo apareceu a Kom-bi do Zé Carlos, que vinha cheia de garrafões de água e tinha saído de “Água Quente” às 12 horas. Daí a uns dez ou quinze minutos os veículos se cruzariam, pois estavam a apenas uns duzentos metros um do outro. A distância entre eles não importava muito, o que atrapalhava um pouco era a estrada mesmo, e, para percorrer aquela mínima distância em qualquer outro local, seria coisa de segundos.
- Cuidado, Zé, você está pensando que isto aqui é carro de borracha?
- Que isso amigo, o que valem quatro amortecedores?
Todavia quando os dois turistas de Ribeirão Preto acabaram de percorrer uma hora depois os dezenove quilômetros de estrada, ambos resolveram se interessar mais pelas coisas de Paraíso e buscaram nos livros e nas pessoas mais idosas as informações tão valiosas. E, sem querer, descobriram o culpado de todo o sofrimento de ambos, na estrada Paraíso – Termópolis: foi o senhor Antunes, um dos fundadores da cidade.
A lógica dos moços é simplista e irrefutável: se as famílias dos senhores Antunes e Maciel tivessem fundado Paraíso lá em “Água Quente”, não seria necessário a estrada que um dia deveria ligar estes dois pontos. Não havendo estradas, não haveria buracos. Se Paraíso tivesse sido fundada em “Água Quente”, muitos dos outros problemas também não teriam existido, sendo o maior deles o da água.
Mas, infelizmente os amigos Antunes e Maciel, cismaram de andar mais uns vinte quilômetros e caíram na bobagem de fundar Paraíso aqui.
E o resto todo mundo já sabe, inclusive os turistas que vão para a estância, pagar na estrada os débitos da alegria que irão encontrar como créditos, em Ter-mópolis.
Biba. (Jornalista Aníbal Deocleciano Borges. O Cruzeiro do Sul,
edição 25 de outubro de 1977.