Ao completar 202 anos, São Sebastião do Paraíso entra em uma nova era de crescimento e desenvolvimento, marcada pela recente chegada da Universidade Federal de Lavras (UFLA) ao município. Há muito, a possibilidade da UFLA se estabelecer em Paraíso acendeu esperanças de transformação não apenas educacional, mas também econômica e social para a cidade. Agora, com o campus em plena operação, a comunidade se encontra ávida por entender os rumos dessa parceria e seus desdobramentos futuros. Conversamos com o reitor da universidade, João Chrysostomo, para explorar as perspectivas e planos da instituição para a cidade, bem como a visão de longo prazo para o campus e os possíveis impactos na vida dos paraisenses. Em meio a um cenário de mudanças e expectativas, o reitor também deixa uma mensagem especial para o aniversário de São Sebastião do Paraíso.
Jornal do Sudoeste: Senhor Reitor, por muitos anos, a possível chegada da UFLA a Paraíso trouxe à comunidade a esperança de que o município se tornaria um grande polo estudantil e, consequentemente, se desenvolveria em outras áreas – economia, social, etc. A universidade chegou e nós gostaríamos de saber como ela pode causar esses impactos na cidade – em curto, médio e longo prazos?
João Chrysostomo: O primeiro passo foi o início do programa acadêmico no campus Paraíso, que ocorreu em março de 2022. Estamos oferecendo para a cidade e região a possibilidade de seus estudantes cursarem, em três anos, o Bacharelado Interdisciplinar em Inovação, Ciência e Tecnologia (Bict) por meio do ensino público, gratuito, de qualidade e inclusivo. Esse bacharelado possibilita aos estudantes um diploma de ensino superior, além da opção de dar seguimento aos estudos, sem a necessidade de novo processo seletivo, cursando mais dois anos para obter a formação em Engenharia Elétrica, Engenharia de Produção e Engenharia de Software. Esse é o primeiro benefício, em curto prazo, além do fato de que, ao estar na cidade, a UFLA faz contratações de serviços, contratações de obras, compra de materiais e, muitas vezes, empresas das cidades podem participar dessas compras públicas, o que estimula e favorece a economia local.
Em médio prazo, nós temos vários planos para São Sebastião do Paraíso. A meta é transformar o campus de São Sebastião do Paraíso em um polo de inovação, semelhante a um grande parque tecnológico, um ambiente em que empresas, poder público, estudantes e professores compartilhem o foco na geração de tecnologia e de inovação. Em longo prazo, assim como acontece em todas as cidades que há as universidades, o campus vai se estabelecendo como referência, referência de geração de conhecimento, na formação dos estudantes da região e um grande parceiro para resolver problemas reais da comunidade, uma vez que, além de formação de recursos humanos, a universidade pública trabalha também com a pesquisa, gerando conhecimentos, e também com a extensão, fazendo com que esse conhecimento possa chegar à comunidade, à sociedade do entorno, principalmente para contribuir com a solução de problemas que afligem a comunidade.
JS: Quais são os planos que a UFLA tem para o campus de São Sebastião do Paraíso? Pretendem aumentar o número de cursos ofertados? As obras que estão sendo realizadas no local são para esta finalidade?
João Chrysostomo: Pretendemos aumentar o número de cursos ofertados; porém, a diretriz, no momento, é a finalização das obras para atendimento integral aos cursos já implantados. Conseguimos que o prédio das engenharias fosse inserido no Programa de Aceleração do Crescimento, do Governo Federal, e o recurso virá no início de 2024. Também estamos trabalhando para que haja viabilização de recursos para conclusão do prédio da Biblioteca. Para a estrutura do Centro de Convivência e Inovação já temos a licitação executada e o recurso disponível, fruto de uma parceria com o Governo do Estado, e a obra deve começar ainda neste mês de outubro. Esse espaço será uma modalidade inovadora, um ambiente em que as pessoas vão, além de compartilhar os momentos de vivência, alimentação, lazer, estar em contato com a incubadora de empresas a se instalar no local e suas várias ações de inovação.
Infelizmente, em algumas das obras do campus, tivemos o abandono por parte das empresas licitadas. Foram devidamente sancionadas por isso, mas são situações que acabam por prejudicar o planejamento feito para o campus.
JS: É sabido que a UFLA contribui para o desenvolvimento de Lavras e região em diferentes setores, como cultura, extensão e lazer. A universidade tem planos semelhantes para Paraíso? Quais projetos podem ser implantados no município?
João Chrysostomo: Com certeza. Assim como na cidade de Lavras, onde a Universidade é um polo que trabalha com a cultura, extensão e lazer, o campus em Paraíso também terá essa atuação. A equipe do campus já tem desenvolvido projetos nessa linha. Tão logo alcancemos a consolidação do primeiro grupo de cursos que já estão implantados, com todo o corpo docente e técnico contratado, essas iniciativas irão se ampliar e intensificar. Hoje nós temos uma intera-ção muito grande de professores com as empresas da região, com foco na inovação tecnológica, e isso é um serviço de extensão. E, claro, as pessoas da sociedade, instituições públicas, entidades e outros atores sociais de São Sebastião do Paraíso e região podem nos procurar para propor ações conjuntas.
JS: Pretendem firmar algum tipo de parceria com empresas da região ou até mesmo com o Poder Público local?
João Chrysostomo: Sim. Isso já está em curso. Temos conversado com a equipe da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas para transformarmos o campus Paraíso em um parque tecnológico, um ambiente de inovação, totalmente automatizado, um conceito diferenciado de Living Lab. Temos encontrado boa receptividade à ideia e estamos trabalhando para termos o apoio necessário.
Quanto ao poder público local, temos todo o interesse em fazer parcerias, como temos várias parcerias com a Prefeitura de Lavras. O município de São Sebastião do Paraíso também tem cooperado com a UFLA, cedendo-nos campos de práticas para nosso curso de Medicina nos Postos de Saúde da Família, além de fornecer moradia para os estudantes do internato que atuam na Santa Casa da cidade. A tendência é que a gente vá aumentando essa interação. Estamos à disposição da Prefeitura, e de qualquer outro órgão do poder público ou da iniciativa privada, para avaliação de parcerias em projetos que promovam o bem da cidade.
JS: Como o senhor imagina que a UFLA de São Sebastião do Paraíso esteja em 2033? O que espera para o campus da universidade e para a comunidade em que ela está inserida?
João Chrysostomo: Eu imagino a UFLA Paraíso, em dez anos, com pelo menos dez cursos de graduação, entre eles o curso de Medicina. Nós já fizemos, inclusive, uma proposta ao Ministério da Educação (MEC) para esse projeto. Vamos precisar contar com o apoio não só do MEC como da Prefeitura de São Sebastião do Paraíso e de outros agentes da sociedade, mas creio que essa realização será possível. Teremos uma UFLA totalmente integrada à cidade e sendo reconhecida como uma instituição importante para a formação de pessoas na região, para a geração de conhecimento e que possibilite a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento econômico da cidade, por meio da extensão.
JS: Que mensagem o senhor deixa ao povo de São Sebastião do Paraíso pelo 202º aniversário da cidade?
João Chrysostomo: Parabenizo enormemente ao povo de São Sebastião do Paraíso pelo aniversário dessa cidade tão acolhedora: acolheu a UFLA de braços abertos. Nós somos muito gratos por estarmos com o campus avançado em São Sebastião do Paraíso. Só tenho a dizer que a cidade está de parabéns, que as pessoas estão de parabéns, uma vez que houve muita luta para que a UFLA, como uma instituição de excelência no ensino superior, na produção científica e na extensão, estivesse na cidade. Foi uma luta de muitos. Essa conquista de ter a UFLA presente é de cada um de vocês, que lutaram junto conosco para que isso acontecesse. Que São Sebastião do Paraíso esteja cada vez mais desenvolvida e que a sua população tenha cada vez mais qualidade de vida. Que a cidade avance com todas as condições de assegurar dignidade a todas as pessoas que aí residem.