Lewis Hamilton… que história!
Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 13-07-2024 03:00 | 2040
Lewis Hamilton ainda socava o ar com o punho cerrado dentro do cockpit da Mercedes quando fui surpreendido por minha esposa propondo um brinde à vitória do britânico. Por um instante desviei minha atenção para refletir que a quantidade de pessoas que aguardavam por aquele momento poderia ser muito maior do que eu imaginava. “Uma vitória para emoldurar e colocar na parede”, foi a primeira frase que me veio à mente para um rápido post nas redes sociais enquanto God Save the King (Deus salve rei), o hino britânico, era executado na cerimônia do pódio.
Foi um momento mágico para Hamilton, para os ingleses e para a F1. Fazia 945 dias (56 corridas) que o heptacampeão não via a bandeira quadriculada em primeiro lugar desde o tenso GP da Arábia Saudita de 2021 que antecedeu a controversa decisão do campeonato daquele ano em que o ex-diretor de provas da F1, Michael Masi, seja por erro bizarro ou proposital, interferiu no resultado que deu o primeiro título a Max Verstappen. Um golpe que feriu profundamente Lewis Hamilton e muita coisa passou pela sua cabeça nesses dois anos e meio sem vencer, entre elas duvidar de sua capacidade, “se eu era bom o suficiente ou se voltaria a ser quem eu sou hoje”, disse ainda com lágrimas nos olhos.
Os questionamentos de Hamilton são provas de que os grandes ídolos do esportes também são humanos, passíveis de questionar e de duvidar de si mesmo. Por isso ele transbordou em emoção ao receber a bandeirada. O homem de 104 vitórias não segurou as lágrimas. “Nunca chorei por uma vitória, hoje ela saiu de mim. Às vezes pensei que nunca mais venceria”, disse.
Hamilton fez história no GP da Inglaterra. O roteiro não poderia ser melhor do que encerrar o longo jejum de vitórias diante de seu público. Nenhum outro piloto venceu tantas vezes em um só lugar como ele em Silverstone, nove vezes! Seu retrospecto no circuito onde a F1 nasceu em 1950 é impressionante: 12 pódios consecutivos, 14 no total desde quando correu em casa pela primeira vez em 2007. Lewis tornou-se o primeiro piloto com mais de 300 Grandes Prêmios a vencer na F1 (ele já disputou 344 corridas), e aos 39 anos e 182 dias passa a ser o piloto mais velho a vencer um GP no século XXI. Vale destacar que nos anos 1950 pilotos como Giuseppe Farina, Juan Manuel Fangio, Piero Taruffi e Maurice Trintignant venceram com mais de 40 anos; Luigi Fagioli tinha 53 quando venceu o GP da França de 1951. Mas eram outros tempos, as exigências física e mental a que os pilotos eram submetidos, assim como as competições eram diferentes das de agora, principalmente com a chegada de pilotos cada vez mais jovens e bem preparados.
Mas Hamilton provou estar em forma e deu um tapa com luva de pelica nos críticos que o davam como acabado para a F1. Faltava encaixar todas as peças no quebra cabeça de um final de semana de corrida em seus devidos lugares. A Mercedes venceu pela segunda vez seguida na temporada (não ganhava desde 2022 em Interlagos com George Russell), mas diferente da vitória de Russell que caiu em seu colo na Áustria depois do incidente entre Verstappen e Norris, a de Hamilton na Inglaterra foi construída desde os treinos livres da sexta-feira. O W15 da Mercedes se comportou bem durante todo o final de semana. Contudo, há de se admitir que a Mc Laren teve a faca e o queijo nas mãos para fazer dobradinha com Lando Norris e Oscar Piastri, mas a equipe cometeu muitos erros de estratégia. E quando as condições climáticas se embaralham entre pista seca, molhada e seca, o talento e a experiência de Hamilton se sobressaem.
A F1 precisava de um resultado desse. O GP da Inglaterra teve seis líderes, e a temporada que começou com pinta de monotonia como no ano passado, ganhou vida com evolução da McLaren e agora da Mercedes que voltou a vencer. Em 2023 Verstappen venceu 19 corridas, Sergio Pérez e Carlos Sainz uma e só. Agora já são seis vencedores em 12 provas, metade da temporada.
Ano que vem Hamilton estará na Ferrari. Já há quem questione se foi a coisa certa a se fazer. Eu digo que sim, e não duvido que esta vitória lhe fez sentir vivo novamente. Então, ainda tem muita coisa por vir.