POLÊMICA

Mudanças estruturais e estéticas em Igreja do Sion geram polêmica

Conselho Municipal do Patrimônio Histórico de Paraíso foi acionado por fieis que estão insatisfeitos por alterações propostas por padre
Por: Ralph Diniz | Categoria: Cidades | 13-07-2024 05:00 | 2245
Mesa do altar, que era de madeira da década de 1940, foi substituída por outra de granito
Mesa do altar, que era de madeira da década de 1940, foi substituída por outra de granito Foto: Divulgação

A Paróquia de Nossa Senhora do Sion, em São Sebastião do Paraíso, se encontra no centro de uma controvérsia envolvendo o seu patrimônio cultural após o padre responsável iniciar mudanças significativas na estrutura e na estética do local. As reformas, que não passaram pela aprovação do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural, levantaram preocupações na comunidade e culminaram em várias denúncias.

Segundo Lucas Cândido, historiador e secretário municipal de Educação, o atual padre da paróquia, ao assumir o cargo, promoveu algumas alterações que de acordo com as denúncias se referem: a substituição da mesa do altar e do ambão, ambos de madeira, por granito. Além disso, a adição de uma Capela do Santíssimo sem precedentes históricos na igreja também gerou desconforto entre os fiéis. Lucas enfatizou que o Conselho fará uma visita técnica, in loco, para averiguar a veracidade das denúncias, pois qualquer mudança deve ser submetida ao conselho, dado que a igreja é um bem protegido por inventário desde 2008.

A situação se intensificou quando foi anunciado, durante uma missa, que a imagem da padroeira “Nossa Senhora de Sion” seria movida para mais perto dos fiéis. Esta ação, juntamente com o plano de alterar a cor do manto da imagem para uma suposta cor original, contrariou a tradição de 70 anos. Cândido destaca que, segundo a congregação responsável, cuja sede fica na França e que mantém laços com Israel, a tonalidade original da imagem é branca e bege, cores que também estão presentes na imagem venerada no país europeu.

O historiador também relatou que o padre argumenta estar seguindo  normas canônicas atuais, estabelecidas pelo Concílio Vaticano II na década de 50. No entanto, ele ressalta que a paróquia foi construída na década de 40, sob legislação anterior, e até então nenhum padre tentou alterar de maneira tão radical a configuração do espaço sagrado, protegido.

Ademais, a paróquia, que reflete uma arquitetura francesa, abriga vários artefatos importados dessa época, como vitrais e quadros da Via Sacra, todos franceses. Outra questão levantada foi a do luminário francês do Santíssimo, uma peça também da década de 40, removida pelo padre anterior e não reinstalada pelo atual, o que, segundo Lucas, vai contra a preservação do patrimônio.

Lucas Cândido expressa a necessidade de conhecer o contexto histórico de qualquer espaço ocupado, pois tudo tem o seu porquê, nada é construído sem motivo ou sem precedentes. Ele observa que, “embora o padre tenha sido cortês em suas interações, há uma clara revolta dele em relação ao conselho de patrimônio e a comunidade que fez as denúncias, o que leva a crer que as diretrizes canônicas se destacam comparando-as à rica história cultural que a Igreja do Sion carrega ao longo dos seus 70 anos de existência na comunidade paraisense”.

De acordo com Marcos Antônio Zanin, presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de São Sebastião do Paraíso, as reformas na Igreja de Nossa Senhora do Sion não passaram pelo processo necessário de aprovação. “O proprietário, no caso a paróquia, não pode destruir, demolir ou mutilar os bens tombados sem prévia autorização do conselho ou do Instituto Brasileiro do Patrimônio Histórico. Repassar, reparar, pintar ou restaurar esses bens também exige autorização”, explica.

Zanin esclarece que o proprietário está sujeito à fiscalização do bem pelo órgão competente, neste caso, o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, sob pena de multa em caso de oposição “É nossa função pública zelar por esses bens”.

Ele destaca, ainda, a importância do envolvimento dos órgãos públicos na preservação dos patrimônios. “Os órgãos públicos da cidade, em todos os níveis, são responsáveis pela conservação dos bens tombados. A Câmara Municipal, por exemplo, tem uma responsabilidade enorme com esses patrimônios”, declara, cobrando uma postura mais ativa dos vereadores da cidade nessa questão.

Enfatiza, também, que o responsável pela igreja não pode realizar reformas conforme sua vontade. “Ele tem que restaurar no padrão existente. Não pode mudar a cor, tirar objetos do lugar ou alterar qualquer aspecto sem autorização. A imagem do sacrário e outros objetos foram retirados da igreja sem a devida permissão”, diz, apontando algumas das mudanças realizadas e pretendidas pelo padre que toma conta da paróquia.

Zanin conclui afirmando que tanto os bens públicos quanto os particulares inventariados são de responsabilidade de seus proprietários, mas todas as ações de manutenção devem ser autorizadas pelo Conselho do Patrimônio Histórico. “A igreja, sendo um bem particular, deve ser mantida e cuidada, mas dentro das normas estabelecidas pelo conselho”, conclui o presidente.

Desde a última semana, o Jornal do Sudoeste tem tentado entrar em contato com o padre responsável pela Paróquia de Nossa Senhora do Sion, por meio de sua secretaria, contudo, apesar dos diversos contatos realizados, a reportagem não obteve retorno do pároco até o fechamento desta matéria.

Segundo historiador Lucas Cândido, cores  originais da imagem de Nossa Senhora do Sion de  Paraíso têm origens francesas e não podem ser alteradas
Adição de uma Capela do Santíssimo sem precedentes históricos também gerou desconforto entre fiéis
Antiga mesa do ambão, também de madeira do século passado, também foi trocada