O GP da Hungria foi tenso e intenso desde o começo. Uma corrida muito conversada no rádio das equipes, um leque de estratégias na mesa e que resultou no sétimo vencedor diferente da temporada. Aos 23 anos, o australiano Oscar Piastri tornou-se o 115º piloto a vencer uma corrida de F1 no dia em que Lewis Hamilton conquistou o 200º pódio da carreira em uma corrida onde a Mercedes não estava no páreo para andar na frente.
Não falou assunto na 13ª etapa do Mundial e é preciso ir por partes. Começo por Verstappen que perdeu as estribeiras e atirou para todos os lados, inconformado com a perda de desempenho da Red Bull não só no Circuito de Hungaroring como nas últimas corridas. Ele venceu pela última vez na Espanha e somou apenas 46 pontos nos últimos três GPs contra 62 de Piastri e 55 de Hamilton. Verstappen ainda lidera o campeonato com folga de 76 pontos sobre o vice-líder, Lando Norris, mas a vantagem vem diminuindo. Já foi de 155 pontos quando Norris venceu em Miami. O holandês ficou mal acostumado desde que iniciou uma fase impressionantemente dominante na F1 a partir início de 2022. Após vencer no Canadá, 9ª etapa do ano, Verstappen somava 60 vitórias na carreira, 40 delas a partir do início de 2022. Até o GP da China, 5ª etapa, ele vinha de uma sequência de 21 vitórias em 23 corridas. Parecia fácil. De fato, estava fácil para Max Verstappen até que a McLaren, e agora a Mercedes, encurtaram a distância para a Red Bull e com ela Verstappen voltou a sentir como a vida é dura quando não se tem mais o carro dominante. Os erros começaram a aparecer e o descontrole também. Seu comportamento na Hungria não foi nada exemplar para um tricampeão a caminho do tetracampeonato. Foi muito agressivo com palavras aos colegas de trabalho. Em determinado momento seu engenheiro, Gianpiero Lambiasi, pediu atenção com os pneus e a resposta foi ríspida. “Não, cara, não me venha com essa m…, vocês me deram essa estratégia de m… e estou tentando salvar a minha corrida”. Por fim, forçou a barra em mais uma manobra contestada para cima de Hamilton na curva um, se deu mal e por sorte conseguiu terminar em 5º. A forma como Verstappen tentou ultrapassar o rival da Mercedes não haveria mesmo como dar certo.
Agora a McLaren. Era para ser um final de muita festa, mas criou-se uma espécie de anticlímax com a equipe pedindo insistentemente para Lando Norris devolver a posição para Oscar Piastri e este levando até às últimas consequências para obedecer. Norris fez a pole position, mas perdeu a posição na largada e Piastri dominou com propriedade a primeira parte da corrida. Na segunda rodada de pit stop, os estrategistas da McLaren chamaram primeiro Lando Norris para a troca de pneus na 46ª volta temendo que pudesse perder a posição para Hamilton que já havia parado na volta 41. Quando Piastri trocou seus pneus na volta seguinte à parada do companheiro de equipe, perdeu a posição para Norris. Logo começaram as conversas de rádio que Norris relutou em se manter na liderança.
Muita gente torceu o nariz contra a decisão da McLaren comparando-a às famigeradas marmeladas que a Ferrari fez no passado com Rubens Barrichello e com Felipe Massa. Mas são casos diferentes. Rubinho dominou o GP da Áustria de 2002 e foi obrigado a entregar de bandeja a vitória para Schumacher. Massa dominava o GP da Alemanha de 2010 quando foi obrigado a ceder a liderança para Alonso. No episódio da Hungria, Norris só foi parar na liderança porque a McLaren antecipou o seu pit stop para proteger sua real posição que era o 2º lugar. Por isso veio a ordem para inverter as posições já que Piastri era o líder por méritos próprios. Na minha visão a atitude de Andrea Stella, chefe da equipe, foi honesta. Ele abriu mão de privilegiar o piloto com mais chances de alcançar Verstappen na luta pelo campeonato para favorecer aquele que de fato mereceu vencer a corrida. Se os pontos que Norris deixou de somar farão falta no final da temporada, só o tempo dirá. Na verdade, a McLaren devia essa vitória a Oscar Piastri pelo erro de estratégia do GP da Inglaterra quando segurou por uma volta o jovem australiano na pista molhada com pneus slick quando liderava a prova sob chuva intensa e arruinou sua corrida.
A vitória de Piastri só não teve o brilho que todo debutante merece porque Norris demorou 18 voltas para aceitar a ordem de inverter as posições. Desde a troca de pneus ele sabia que seria assim.
No meio de tudo isso teve Sergio Pérez que falhou mais uma vez ao bater na classificação e seus dias estão cada vez mais contados na Red Bull. O mexicano é o único dos oito pilotos de equipes de ponta que ainda não venceu nesta temporada. E neste final de semana tem o GP da Bélgica fechando a maratona de 5 corridas em seis finais de semanas consecutivos. A F1 entra em férias na segunda-feira e volta no final de agosto.