POLEPOSITION

O peso da desclassificação

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 02-08-2024 22:52 | 1384
Mudança de estratégia não programada resultou em perda de peso e na desclassificação de  George Russell do GP da Bélgica
Mudança de estratégia não programada resultou em perda de peso e na desclassificação de George Russell do GP da Bélgica Foto: F1 / Divulgação

George Russell venceu o GP da Bélgica, mas não levou. Depois de uma estratégia improvável e ousada de fazer apenas um pit stop para troca de pneus decidida no decorrer da corrida contrariando a indicação de duas paradas, seu Mercedes W15 não passou na vistoria técnica por estar 1,5 kg abaixo do peso mínimo e foi desclassificado. A vitória ficou com o companheiro de equipe Lewis Hamilton.

O heptacampeão dominou a maior parte da prova e de repente se viu em 2º com a mudança de estratégia de Russell que avançou da 5ª posição para a liderança quando os carros que estavam à sua frente fizeram o segundo pit stop.

Foi uma conjunção de fatores que ocasionou a perda de peso do carro de Russell, como explicou Andrew Shovlin, diretor de engenharia da Mercedes. “O carro pode perder bastante peso durante a corrida. Você tem desgaste de pneus, desgaste da prancha de madeira (peça instalada embaixo do carro para evitar que ele fique abaixo da altura mínima permitida pelo regulamento), desgaste dos freios, e o próprio piloto também pode perder muito peso”, disse.

Claro que tudo isso é calculado pelas equipes antes de cada corrida, e no caso de Russell a mudança de estratégia não programada teve influência no emagrecimento do carro. A Mercedes admitiu que a perda de borracha dos pneus pelo longo stint de 34 voltas, o desgaste da prancha de madeira acima do esperado, e até George Russell que perdeu muito líquido ocasionaram a infração, e assumiu a culpa pela desclassificação que custou a vitória de Russell e a primeira dobradinha do ano.

Russell parou na volta 10 e trocou os pneus de composto médio (faixa amarela) pelos de composto duro (faixa branca). Ele assumiu a liderança na 31ª de 44 voltas quando o último dos pilotos que estavam à sua frente, Oscar Piastri, parou. Hamilton já havia trocado seus pneus pela segunda vez na 27ª volta e voltaria a ser o líder natural quando Russell também parasse novamente. Foi aí que o britânico decidiu ir até o final mesmo com os pneus já gastos. Primeiro ele pediu orientação para o seu engenheiro que ao fazer os cálculos constatou que se parasse pela segunda vez, Russell voltaria na 5ª posição e teria poucas chances de evoluir na corrida.

Normalmente a Pirelli, fornecedora de pneus para a F1, faz a análise do desempenho e desgaste de pneus e coloca na mesa as opções mais indicadas para a corrida. E cabe a cada equipe traçar suas próprias estratégias. Porém na Bélgica ninguém cogitou parada única por conta da chuva do sábado que lavou a pista e deixou o asfalto mais abrasivo, principalmente nos trechos em que foi recapeado para receber a corrida do fim de semana. 

Vale destacar que o regulamento da F1 determina que o peso do carro sem o combustível, somado ao peso do piloto com toda vestimenta e acessórios não pode ser inferior a 798 kg. Além disso, o piloto não pode pesar menos que 80 kg, e no caso de seu peso ser inferior, a equipe é obrigada a completar com lastro no assento do piloto. Essa regra foi criada para evitar que as equipes forcem seus pilotos a emagrecerem de tal forma a ter a saúde comprometida, como já ocorreu no passado recente. Os pilotos perdem em média de 2 a 3 kg por corrida com a perda de líquidos através do suor. Tudo isso é levado em conta pelas equipes antes de cada corrida. Como o carro de Russell, somado ao seu peso registrou 796,5 kg, ele foi desclassificado. É a regra. 

Quando se briga por milésimos de segundo, o peso é um fator importante. E faz muita diferença. Não sabemos em que altura da corrida o carro de Russell ficou mais leve. Mas uma das coisas que me intrigou foi quando Hamilton se aproximou do companheiro de Mercedes há 4 voltas do final e mesmo com os pneus 17 voltas mais novos que os de Russell, e usando o poder da asa móvel, não conseguiu ultrapassar. O carro de George Russell era muito rápido de reta e isso me fez pensar até que ponto esse 1,5 kg mais leve neutralizou a teórica vantagem que Hamilton tinha nos pneus e no uso da asa móvel numa pista como Spa-Francorchamps em que não é difícil de ultrapassar? Hamilton cruzou a linha de chegada 0s525 atrás de Russell. Considerando os centésimos de segundo que George ganhava por volta à medida em que o conjunto carro/piloto ficava mais leve, pode estar aí a resposta.