Dia desses o perfil da F1 no antigo Twitter, agora “X”, postou uma trend sobre o recorde mais antigo da categoria. Achei interessante trazer o tema para a coluna enquanto pilotos e integrantes das equipes vivem os últimos dias de férias antes de voltarem ao batente no próximo final de semana com o GP dos Países Baixos.
Se você é novo na F1, ou um fã menos fervoroso, talvez não esteja familiarizado com os termos hat-trick, ou grand chelem. São duas marcas que não costumam acontecer sempre nas corridas. A primeira é quando o piloto faz a pole position, a volta mais rápida e vence a prova. A segunda é bem mais complexa. O grand chelem, ou grand slam, é quando o piloto larga da pole position, lidera todas as voltas da corrida e vence obtendo também a volta mais rápida e sem perder a liderança nem durante as trocas de pneus. Desde a prova inaugural do Campeonato Mundial de F1 em 1950 até o GP da Bélgica, o último realizado antes das férias de agosto, houve 191 hat trick e apenas 68 grand chelem ao longo dos 1.115 Grandes Prêmios disputados em 75 anos de existência da F1. A porcentagem das duas marcas em relação ao número de corridas é muito baixa. Em apenas 17,1% delas, alguns poucos pilotos conseguiram vencer partindo da pole e com a volta mais rápida. E somente em 6,0% das vezes poucos gatos pingados lideraram todas as voltas saindo da pole e receberam a bandeira quadriculada em primeiro com a volta mais rápida.
Apenas 47 pilotos diferentes obtiveram hat trick. Michael Schumacher lidera o ranking com 22. No degrau logo abaixo está Lewis Hamilton com 19, o último deles obtido no GP da Arábia Saudita de 2021. Em seguida aparece Max Verstappen com 13, obtidos de 2021 para cá. Jim Clark com 11 é o derradeiro da lista com dois dígitos. Dos pilotos em atividade além de Hamilton e Verstappen, Fernando Alonso tem 5, Valtteri Bottas e Charles Leclerc têm 2 cada. Entre os brasileiros, Ayrton Senna conseguiu 7, Felipe Massa 4, Nelson Piquet 3 e Rubens Barrichello duas vezes.
A lista dos grand chelem é bem mais restrita. Apenas 26 pilotos obtiveram o feito. O líder do ranking é o escocês Jim Clark, vencedor de 25 corridas e bicampeão mundial em 1963 e 1965. Clark foi um dos grandes pilotos que a F1 já teve. Embora não o tenha visto correr, por tudo que já li, pesquisei e ouvi sobre sua carreira, Clark ocupa o 3º lugar na minha lista dos maiores de todos os tempos. Ele morreu tragicamente em uma corrida de F2 na Alemanha em 1968 e sua impressionante marca de 8 grand chelem obtidos em um curto espaço de 32 corridas - um a cada quatro corridas e todos em circuitos diferentes - numa época em que o calendário da F1 era bastante enxuto, é um recorde que resiste ao tempo por 59 anos como o mais antigo da F1. Quem mais se aproxima de Clark novamente é Hamilton com 6 e logo abaixo aparecem três pilotos empatados com 5: Alberto Ascari, Michael Schumacher e Max Verstappen.
E aqui cabe duas observações. 1) É verdade que nos tempos de Clark não havia pit stops em condições normais de corridas e o piloto que dispunha de um ótimo carro tinha boas chances de obter essas marcas. Mas era uma época de muitas quebras devido à fragilidade dos carros. Só para efeito de comparação, Clark disputou 72 GPs em toda sua carreira. Hamilton já tem 346 no currículo; Verstappen vai completar 200 corridas no próximo GP. 2) Se por um lado os carros atuais se tornaram fortaleza e quase não quebram, a obrigatoriedade de pit stops, as intervenções com Safety Car e o ponto extra para quem faz a melhor volta servindo de estímulo, tornaram cada vez mais escasso os grand chelem, menos para Verstappen e é por isso que os 5 que ele obteve até aqui em 59 corridas chama atenção pela absurda eficiência dos carros da Red Bull nos últimos três anos.
Completando a lista, dos pilotos em atividade além de Hamilton e Verstappen, apenas Alonso e Leclerc possuem grand chelem. Entre os brasileiros, Senna fez 4 e Piquet 3.
Pode ser que Hamilton e Verstappen alcancem a marca de Clark, mas diante das dificuldades e da queda de rendimento da Red Bull nas últimas provas, o feito do “escocês voador”, como Clark era chamado, deve perdurar por mais algum tempo como o último dos recordes da F1 a ser batido.