MEDALHAS

Jovem paraisense se aproxima de marca de lenda do paratletismo mundial

Aos 17 anos, Ryan Bonacini atinge tempo menos de um segundo acima do tricampeão olímpico Petrúcio Ferreira nos 100 metros rasos na categoria T47
Por: Ralph Diniz | Categoria: Esporte | 06-09-2024 14:37 | 520
Ryan (de camisa branca) com as duas medalhas de ouro conquistadas no último JEMG de sua carreria
Ryan (de camisa branca) com as duas medalhas de ouro conquistadas no último JEMG de sua carreria Foto: Reprodução

Em meio ao brilho dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, onde o Brasil já acumula mais de 60 medalhas, uma jovem promessa do paratletismo se destaca em São Sebastião do Paraíso. Ryan Bonacini, aos 17 anos, não é apenas um prodígio local, mas uma inspiração nacional em potencial.

O que torna Ryan extraordinário vai além de suas medalhas. Seu tempo nos 100 metros rasos está a menos de um segundo do melhor corredor da categoria T47, o brasileiro Petrúcio Ferreira, tricampeão paralímpico. "Eu estou fazendo o tempo de 11 segundos e 67 centésimos, e ele fez 10 segundos e 89 no campeonato mundial do ano passado", compara Ryan, demonstrando não apenas seu talento, mas sua consciência do caminho a percorrer.

Recentemente, Ryan brilhou na fase estadual dos Jogos Escolares de Minas Gerais (JEMG) em Governador Valadares. "Eu disputei os 100 metros e os 400 metros paralímpicos. Fui campeão com medalha de ouro em ambas as provas", relata com orgulho. Essas vitórias não apenas consolidaram seu status como atleta promissor, mas também garantiram sua vaga nos Jogos Brasileiros em São Paulo, marcados para novembro.

O que torna sua performance ainda mais notável é sua capacidade de competir em alto nível mesmo entre atletas sem deficiência. "Nos 100 metros convencionais, eu fiquei em quarto lugar na final. E nos 400 metros, eu fiquei em primeiro na bateria", conta Ryan, emocionado. "No final da corrida dos 400 metros convencional, eu me emocionei, chorei muito, porque era meu último JEMG. Foi minha última chance. Eu infelizmente não consegui [o pódio], mas chorei muito de felicidade, porque eu me senti feliz naquele momento".

A jornada de Ryan como atleta começou de forma dramática. Em 2019, aos 12 anos, um acidente aparentemente simples mudou o curso de sua vida. "Eu caí em cima do meu braço enquanto estava brincando com um amigo. Foi uma fratura normal, não foi exposta. Só que eu tive uma trombose muito grave. Mais três horas, ela iria para o meu coração e eu teria morrido", relembra o jovem.

O que se seguiu foram 45 dias de internação na Santa Casa de Paraíso e 32 cirurgias, com o risco iminente de amputação do braço. "Foi luta atrás de luta. Eu sofri muito, fiquei muito triste, fiquei muito abalado. E o mais triste de tudo era ver a minha mãe chorando, sofrendo. Ela ficou ao meu lado o tempo todo. Dormia em um sofá pequeno que tinha no quarto. Muitas vezes ficava com fome para que eu pudesse comer", compartilha Ryan, sua voz carregada de emoção.

Após a alta hospitalar, Ryan enfrentou uma nova batalha: o preconceito. "Muita gente olhava para o meu braço com nojo. Passei a usar camiseta de manga longa para me esconder. Tinha vergonha", revela, olhando para as cicatrizes deixadas pelas dezenas de cirurgias.

Foi no atletismo que Ryan encontrou não apenas um esporte, mas um novo propósito. Em 2022, com o apoio crucial do treinador César Leandro, ele deixou a vergonha de lado e abraçou a corrida. O sucesso não demorou a chegar: em sua estreia no JEMG paralímpico em Ipatinga, Ryan se sagrou campeão estadual.

Esse triunfo abriu portas para as Paralimpíadas Escolares nacionais, onde representou Minas Gerais. "Fiquei em segundo lugar, ganhei a medalha de prata", conta com orgulho. Desde então, o atletismo se tornou o centro de sua vida, transformando adversidade em motivação.

Hoje, Ryan treina incansavelmente, mirando o Campeonato Brasileiro Paralímpico, em São Paulo. Apesar de uma recente lesão no metatarso, sua determinação permanece inabalável. "Agora eu estou lutando de novo para conseguir alcançar meus objetivos. Estou recuperado, estou 100% pronto para voltar às pistas. Treinando bastante. Espero que eu melhore ainda mais", afirma.

Seu grande sonho? Os Jogos Paralímpicos. "Eu só penso muito em disputar uma paralimpíada, é um sonho grande. Disputar uma olimpíada convencional também", revela. A possibilidade de um dia competir ao lado de seu ídolo, Petrúcio Ferreira, o motiva ainda mais. "Ele tem 27 anos e eu posso chegar ao nível dele, quem sabe disputar uma paralimpíada ao lado dele, representando o Brasil. Seria um sonho."

A jornada de Ryan é marcada não apenas por conquistas esportivas, mas por profundas lições de vida. "A gente fica viciado na vitória, né? A gente quer ganhar, mas na verdade nem importa tanto ganhar, importa é dar o seu melhor", reflete o jovem atleta.

Sua gratidão é evidente quando menciona aqueles que o apoiaram: "Quero agradecer ao meu treinador César Leandro, que me estendeu a mão e me ajudou a chegar até aqui, à minha família, patrocinadores, aos meus amigos e todos aqueles que me ajudaram".

À medida que os Jogos Paralímpicos de Paris continuam a inspirar o mundo, Ryan Bonacini se prepara nos bastidores, sonhando com o dia em que representará o Brasil no maior palco do esporte paralímpico. "Um dia, o Brasil todo vai me conhecer, vai ouvir falar de mim. Podem acreditar". E como ele mesmo diz, citando Freddie Mercury: "Todos somos campeões", conclui o jovem paratleta paraisense.

Jovem se prepara para a disputa dos Jogos Paralímpicos Escolares Brasileiros, onde representará Minas Gerais. A competição acontece em São Paulo